Maria Tereza Capra teve o mandato cassado em fevereiro deste ano, 90 dias após divulgar um vídeo de repúdio a uma manifestação pró-Bolsonaro no Oeste catarinense, em que foram registradas gestos apontados como nazistas
Nesta terça-feira, dia 15, no auditório da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Instituto Memória e Direitos Humanos (IMDH) da UFSC/Udesc promoveu um evento com o tema “Autoritarismo e questões raciais ontem e hoje”. Durante a primeira mesa de debate, houve a exibição do recém-lançado documentário “O Alerta do Gesto”, sobre o caso da cassação da ex-vereadora Maria Tereza Capra. Na sequência, outra mesa com especialistas discutiu a violência de Estado e a ditadura militar em Santa Catarina. O vice-presidente da Apufsc-Sindical, Adriano Duarte, esteve presente no evento.
Dirigido pelo cineasta Carlos Pronzato, com o apoio da Apufsc-Sindical e Movimento Humaniza SC, entre outras organizações, o documentário “O Alerta do Gesto” remonta os fatos que antecederam e sucederam o episódio que culminou na cassação do mandato de Maria Tereza, em São Miguel do Oeste (SC). Em 2 de novembro de 2022, a então vereadora publicou nas redes sociais um vídeo em repúdio à manifestação pró-Bolsonaro que ocorria na cidade, ocasião na qual o grupo, além de defender uma intervenção militar, cantou o hino nacional com o braço direito estendido acima da linha do ombro.
As imagens, feitas pelos próprios apoiadores do ex-presidente, rapidamente ganharam destaque nacional e foram repudiadas pela mídia e órgãos oficiais pela semelhança à saudação nazista. Apesar da repercussão, em fevereiro, mais de 90 dias após o vídeo de repúdio de Maria Tereza, a vereadora teve o mandato cassado pela Câmara Municipal, sob a justificativa de quebra de decoro. Outros três colegas parlamentares da então vereadora, que participaram da manifestação, não sofreram nenhuma sanção.
Na primeira mesa de debate do evento promovido pelo IMDH, Maria Tereza destacou que seu histórico de atuação na defesa dos direitos humanos contribuíram para a sua cassação, junto com o vídeo. Única parlamentar de esquerda em uma Casa Legislativa majoritariamente masculina, ela lembra do machismo e perseguição que sofreu. Afirma que foi acusada de “manchar o nome da cidade” e de espalhar notícias falsas: “um vereador perguntou se na minha formatura de Direito eu fiz o juramento com a perna e não com o braço.” Moradora da cidade desde os 16 anos, Maria Tereza teve que passar um período fora de São Miguel do Oeste por conta das inúmeras ameaças de morte que começou a receber.
O professor de história e mediador da primeira mesa, João Klug, pontuou que nos últimos anos surgiram muitos alertas que apontam para o recrudescimento do autoritarismo e das questões raciais, “os quais desembocam, entre outras coisas, na violência política, como a gente está vendo infelizmente em Santa Catarina”. Maria Tereza busca na justiça reverter a cassação, mas com a demora do processo teme não conseguir retornar ao posto antes do fim do mandato, em 2024.
Ainda durante o evento promovido pelo Instituto, Lúcia Haygert, do Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça, e Reinaldo Pereira e Silva, professor de Direito Constitucional da UFSC e procurador do Estado de SC, discutiram a Violência de Estado e ditadura militar em Santa Catarina na segunda mesa de debate.
Imprensa Apufsc