Impactos sociais, desafios e ética no uso dessa tecnologia foram abordados
As implicações do uso da Inteligência Artificial (IA) ChatGPT nas atividades de ensino, pesquisa e extensão foi tema de debate promovido pela Apufsc-Sindical na noite desta quarta-feira, dia 31, no auditório Henrique Fontes, do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O assunto foi discutido tanto pela perspectiva da tecnologia quanto da filosofia, com os convidados Jerusa Marchi, professora do departamento de Informática e Estatística (INE/UFSC), e Felipe de Matos Müller, professor do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil/UFSC). A atividade foi sugerida por docentes filiados à Apufsc em assembleia do sindicato.
O debate começou com exposição dos professores. Primeiro, a professora Jerusa Marchi explicou o que é IA, trazendo o histórico e aplicações que já fazem parte do nosso cotidiano. Na segunda parte de sua apresentação, Marchi explicou o que é o ChatGPT, suas aplicações e limitações. Por fim, a professora levantou questionamentos sobre os impactos sociais, desafios e ética no uso dessa tecnologia.
“Chat GPT é uma rede neural treinada para aprender quais palavras caem bem com o quê”, resumiu Marchi. Por ser uma rede neural, o ChatGPT se difere de tecnologias anteriores, como a Eliza. A professora explicou que essa IA foi treinada com mais de 170 milhões de parâmetros, mais do que o cérebro humano é capaz de processar. Entretanto, o ChatGPT perde para os humanos quando é necessário fazer análise crítica.
Para Marchi, as tecnologias IA vieram e virão para ficar. Para que a academia possa tirar proveito delas, há muito a ser feito. “Muito se debate sobre usar a ferramenta a nosso favor. Precisamos trazer luz para todo esse contexto. É muita tese de doutorado, é muita dissertação de mestrado. É muita gente que a gente tem que trabalhar e orientar”, defende.
Debate aconteceu no auditório do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC com transmissão ao vivo pelo YouTube (Fotos: Filipe Melo/Apufsc)
Já o professor Felipe de Matos Müller tratou sobre a tecnologia do ponto de vista filosófico, sobre como a academia pode incorporá-la. Para isso, Müller deu um panorama sobre o que está sendo publicado sobre o ChatGPT. Na sua avaliação, os artigos ainda são poucos e as opiniões estão divididas.
Müller levantou questões sobre as implicações que a IA traz no aprendizado dos alunos e os métodos de avaliação dos professores. Para o docente, dependendo do escopo, não tem como distinguir um texto criado por um aluno de um texto criado pelo ChatGPT.
Ele sugere que é necessário não só rever os métodos de avaliação, mas adaptá-los para o uso de IA, que pode ser ferramenta de aprendizagem. Para isso, é necessário que os docentes entendam como elas funcionam. “Se vamos entrar numa relação de ensino-aprendizagem [com uso de IA], os professores precisam primeiro ser capacitados, aprender a lidar com isso, para poder motivar esse processo de aprendizagem dos estudantes”, defende.
“Diante dessa tecnologia, nosso papel como agente humano está em fazer as perguntas certas, os pedidos certos. Quem domina as perguntas, dominas as respostas. E quem domina as respostas, domina a realidade”, complementa. Para Müller, é preciso avaliar os alunos de forma mais criativa e prática, educá-los a fazer boas perguntas.
Depois das exposições, o debate foi aberto para perguntas das pessoas que acompanhavam o evento presencialmente e online pela TV Apufsc. Ao fim, o presidente da Apufsc-Sindical e professor de Estatística, José Guadalupe Fletes, avaliou o encontro: “Hoje eu aprendi com um filósofo aquilo que nós temos na tecnologia. É papel nosso na universidade, nesse momento, abrir esse diálogo.”
Assista ao debate:
Lais Godinho
Imprensa Apufsc