Encontro reuniu professores da UFSC e da rede estadual de Santa Catarina
Temporariamente suspenso em abril pelo Ministério da Educação (MEC), o Novo Ensino Médio (NEM) foi tema de debate nesta quarta-feira, dia 3, em uma conversa pública organizada pelo ex-presidente da Apufsc-Sindical, Carlos Alberto Marques. Membro do Fórum Nacional de Educação (FNE) e diretor de Políticas Educacionais do Proifes-Federação, Bebeto conduziu o encontro que reuniu professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do estado de Santa Catarina, na sede do sindicato, no campus Florianópolis. Durante a troca, os docentes reforçaram a necessidade da revogação do modelo, que também impacta a Base Nacional Comum para Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação).
O debate em torno da educação de nível médio dos jovens brasileiros é tema de discussões há décadas. Com a suspensão temporária do NEM, Bebeto destaca a importância das entidades debaterem como se posicionar sobre essas questões. “A dinâmica política é muito rápida e o tempo para posicionamento, para contribuir, levando argumentos que interpretem esse problema do ensino médio e da formação de professores também é muito rápido”, avalia. Ele lembra que o Proifes-Federação se colocou a favor da revogação do NEM.
O Colégio de Aplicação (CA) da UFSC também já alertava para os possíveis problemas do novo modelo ainda em 2016, antes da lei ser aprovada. “A gente já tinha a avaliação e a percepção de que o caminho dessa reforma não podia dar em boa coisa”, afirma o coordenador de Educação Básica da Pró-Reitoria de Graduação e Educação Básica (Prograd) da UFSC, George França. Apesar de contrários, com a Portaria do MEC nº 521/2021, o CA se viu obrigado a instituir um Comissão de Currículo para pensar as mudanças, como mostrou a reportagem da Apufsc.
Para Bebeto, nesse momento há uma certa aceitação de que não dá para continuar com o novo modelo, mas a dificuldade é “trocar a roda com o carro andando”. “O desafio é o sistema educacional — universidades, nossos cursos de licenciatura, Centros de Educação, Colégio de Aplicação — sustentar uma proposta alternativa, nas condições políticas que se tem”, completa Bebeto.
Em um documento encabeçado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) entidades pedem que o MEC revogue o NEM e retome a Diretriz Nacional Curricular (DNC) de 2012, que ainda não havia sido implementada, pontua o chefe de departamento de Estudos Especializados em Educação, do CED, Alaim Souza Neto. “Lá existem críticas, demandas da juventude. A gente não defende o modelo disciplinar, as disciplinas que têm, mas historicamente elas atendem minimamente. Ou seja, aquilo era ruim, mas agora houve um retrocesso”, explica o chefe de departamento.
O professor de História do CA e ex-presidente da Apufsc, Camilo Araújo, defende que é necessário pelo menos que o MEC revogue a Portaria de 2021, suspensa temporariamente. “Essa portaria é o que fez com que os estados, as instituições privadas, no afogadilho fossem atrás para enfiar um Novo Ensino Médio a toque de caixa”, opina. Com obrigatoriedade de concluir a implementação até 2024 para reformular o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Araújo demonstra preocupação em como isso será feito com a variedade de currículos do país. “Como vai fazer um Exame Nacional em que se tem mais de 1.500 disciplinas diferentes? Como constrói um Exame que é a principal porta de entrada para as universidades públicas?”, questiona.
Mestrando em Educação Científica e Tecnológica na UFSC e professor do estado na linha de frente do Novo Ensino Médio, Rafael Rossi Viegas afirma que a possibilidade de não haver mudanças no Enem de 2024 é motivo de angústia para os estudantes que entraram no novo modelo. “A gente tinha 2.400 horas de formação básica, agora se reduz para 1.800 horas. Os alunos nos questionam muito. Poxa, eu estou tendo uma formação muito menor e vou fazer o mesmo Enem que a galera de antes fazia”, ressalta Viegas.
Com a retomada do Fórum Nacional de Educação, Bebeto ressalta a importância de promover debates como o realizado pela Apufsc-Sindical nesta quarta-feira. Ele destaca que a posição da Proifes-Federação é pela revogação do Novo Ensino Médio, colocando no lugar as Diretrizes de 2012, enquanto se instituiu um grupo no MEC para repensar um novo modelo, mantendo como referência às DCNs de 2012 e o modelo desenvolvido nos Institutos Federais.
Karol Bernardi
Imprensa Apufsc