Carta aberta em resposta à nota da Reitoria sobre queda de luminária sobre discente no CCE

*Por Fábio Lopes da Silva

O direito à defesa é sagrado, e cada um se defende como quer ou pode. Mas o fato é que, por meio de omissões e inconsistências, a nota da Reitoria sobre a queda de luminária sobre discente no CCE distorce o episódio e suas circunstâncias, no melhor estilo dos produtos da chamada mídia hegemônica e das assessorias comerciais de imprensa. Explico:

  1. A nota tenta relacionar a incidente à crise de financiamento das universidades e às políticas autoritárias que vigoraram no Brasil durante o governo Bolsonaro. Contudo, o que a manutenção de luminárias tem a ver com tudo isso? O custo de uma operação de inspeção desses equipamentos é rigorosamente zero. Se nada foi feito antes do episódio em tela, foi por negligência e incompetência dos responsáveis pelo serviço. Simples assim. Tanto isso é verdade que, no dia seguinte ao evento – tarde demais, como é costume no Brasil –, a inspeção magicamente se tornou perfeitamente factível: uma equipe foi ao local e averiguou o estado de todas as luminárias do edifício. Não consumiu mais do que um par de horas na tarefa;
  2. Assim como sucede às luminárias, a universidade vive muitos problemas de infraestrutura de solução simples e barata que, no entanto, por pura inépcia, não tem sido contemplados. Talvez o exemplo mais gritante esteja no Prédio D do CCE, que sofre com crônica falta de água tão-somente porque obras ridiculamente simples – que não exigiriam mais do que dois dias de trabalho de um servente de pedreiro – não são realizadas ou transcorrem a passos de cágado;
  3. Se, em todo caso, é verdade que a questão da manutenção predial está mesmo profundamente dificultada pela falta de verbas, é igualmente verdade que, ao contrário do que a nota faz supor, a atual Reitoria até bem pouco tempo se recusava a reconhecer a crise de infraestrutura na UFSC e a tratar dessa crise com instrumentos que conciliassem as brutais limitações de recursos com a necessidade de dar respostas imediatas a problemas cuja solução é inadiável;
  4. Se a postura da Reitoria em relação ao tema mudou (e agora a crise na infraestrutura é ao menos reconhecida), foi exclusivamente por causa das pressões que este diretor fez em diversos fóruns. Sem falsa modéstia, foi a minha insistência, e não uma tomada espontânea de consciência por parte da Reitoria, que pautou a necessidade de um plano emergencial de gestão de crise na área de manutenção predial. Meu trabalho, acrescento, não está completo: falta que, como há muito tempo venho reivindicando, que o CUn paute o assunto. Nesse pleito, tenho o apoio de um grande número de conselheiros e conselheiras;
  5. Seja dito, contudo, que nem toda a equipe da Reitoria está convencida de que vivemos uma crise de infraestrutura. Afinal, em reunião com diretores sobre o tema realizada cinco dias antes do episódio da queda da luminária, a vice-reitora fez pouco caso do fato de que eu vinha recorrentemente alertando para a possibilidade de que, mercê do estado deplorável dos equipamentos da UFSC, um acidente muito grave estivisse para acontecer. Ao fim desse encontro, disse ela publicamente que não compreendia meu conceito de crise, que não havia crise de infraestrutura na UFSC, que crise eram as mulheres pretas estupradas e que eu praticava a política do medo na universidade. Deu no que deu. Sigo com minha advertência: estamos tendo mais sorte do que juízo. A continuarmos a adiar a solução dos problemas, novos acidentes como o que houve no CCE ocorrerão;
  6. Toda a assistência à estudante foi prestada por este diretor. Fui eu que me desloquei para o HU por volta das 22h para prestar solidariedade a ela. Permaneci com a discente e seu namorado por cerca de uma hora, enquanto ela aguardava atendimento. Não me consta que alguém da Reitoria, entre os muitos colegas que ocupam bem remunerados cargos comissionados, tenha feito o mesmo. Com exasperante frequência, o que na UFSC tem se chamado de empatia talvez deva receber outro nome: telepatia. A nota diz que a Reitoria se solidariza com a discente, mas a verdade é que, salvo melhor juízo, isso na prática nada significou no dia do acidente, quando ela de fato precisava de acolhimento.

No mais, espero que esta minha mensagem seja publicada no mesmo espaço em que a nota da
Reitoria foi amplamente divulgada.

P.S.: Em contato com a aluna no dia 2 de maio, ela me informou que, por causa das dores, refez os exames e constatou uma fratura no cóccix não revelada na radiografia feita no dia do acidente. Disse-me ela ainda que o atendimento domiciliar prometido pela Reitoria em sua nota não havia sido cumprido. Ninguém a havia procurado para viabilizar esse atendimento. De minha parte, passei a informação ao reitor que – bom homem que é, em meio à desconcertante incapacidade executiva de sua gestão – deve estar tentando providenciar o atendimento.

Cordialmente,

Fábio Lopes da Silva
Diretor do Centro de Comunicação e Expressão