“O nosso trabalho é fazer pedidos, porque as direções não podem executar, mas os pedidos chegam nos locais que podem executar e de lá não saem”, diz o diretor do Centro
O Centro Tecnológico (CTC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é o centro que mais arrecada recursos próprios, por meio de financiamentos de projetos. O diretor do CTC, Edson De Pieri, afirma que, apesar de ainda não ter concluído o levantamento, estima que só no ano passado, foram contratados R$150 milhões em projetos. Deste valor, 1% fica com o centro, cerca de R$ 1,5 milhão, e entre 2,5 e 3% com o departamento do projeto. Apesar de ter verba, o CTC não consegue fazer investimentos por conta da lentidão no processo de compras, que ocorre no setor de compras da universidade, e por falta de manutenção nos prédios.
De Pieri aponta que essa lentidão ocorre principalmente quando são equipamentos que ainda não estão disponíveis no rol de equipamentos já licitados, e é necessário fazer a tomada de preço, algo comum no CTC. “Em alguns departamentos a gente conseguiu melhorar um pouco mais, que foi o caso da arquitetura, que tem equipamentos mais simples de comprar. E equipamentos mais complicados, como é o caso da engenharia elétrica e da engenharia química, já tivemos mais de dificuldade.”
Apesar da demora ser maior em equipamentos específicos, a aquisião de equipamentos comuns também apresenta lentidão. O diretor conta que fez um pedido para comprar aparelhos novos de ar-condicionado, mas que não houve tomada de preços por parte do setor de compras da UFSC. Esses problemas poderiam ser amenizados, afirma o diretor, se a UFSC já tivesse se adequado à Nova Lei de Licitações, de 2021. A universidade tem até o fim do ano para aderir à lei, mas De Pieri conta que “faz dois anos que as universidades estão usando e é útil”, isso porque a lei antiga veta muitas compras.
O Centro Tecnológico da UFSC abriga 10 departamentos (Fotos: Stefani Ceolla/Apufsc)
Além disso, outro fato que impede a atualização de equipamentos, principalmente em laboratórios, é a falta de manutenção dos prédios. “Há vários laboratórios que a gente não trocaria agora porque a falta de manutenção, ou seja, as infiltrações, vai prejudicar os equipamentos”, afirma De Pieri. O diretor também conta que no ano passado cerca de 30 computadores do laboratório de informática do centro ficaram molhados em dias de chuva. Para resolver a situação, a Direção suspendeu as atividades no espaço e deixou o aparelho de ar-condicionado ligado por dias para secar as máquinas. Assim, perderam apenas um dos computadores.
O diretor estima que haverá manutenções nos prédios, como pinturas, apenas no fim deste ano. “O nosso trabalho é fazer pedidos, porque as direções não podem executar, mas os pedidos chegam nos locais que podem executar e de lá não saem. Está muito ruim”, se queixa. Já sobre as manutenções de equipamentos, o diretor afirma que não é uma tarefa simples, porque boa parte das manutenções são caras, já que se tratam de equipamentos específicos.
De Pieri também conta que o centro tem mais de 150 pedidos no setor de projetos da UFSC, entre manutenção, construção, reforma em calçadas para acessibilidade e modificação de banheiros. “Foi pedido que priorizássemos oito e, basicamente, a gente está priorizando aquilo que vai causar problemas estruturais nos prédios”, explica. Entre os itens priorizados está a cobertura dos prédios, manutenção da rede elétrica e adequações para prevenção de incêndios, como sinalização de rota de fuga.
Falta de manutenção pode causar proliferação do mosquito da dengue na UFSC
Para o diretor do CTC, a piora nos casos de dengue pode estar sendo afetada pela falta de manutenção na universidade. “Apesar da Comissão de Prevenção da Dengue nos avisar que tem que verificar alguns locais, como a gente não tem manutenção, muitas vezes a água parada está embaixo do telhado. Quando é uma lata no estacionamento, um recipiente que está do lado do prédio, a gente resolve. Mas quando é algo que está em cima, a gente não consegue e a criação de [mosquitos da] dengue cresce.”
De Pieri conta que na Direção do CTC, em uma equipe de 10 pessoas, pelo menos duas contraíram dengue recentemente.
Falta de TAEs sobrecarrega trabalho docente
Outro problema que impacta o trabalho docente no CTC é a falta de técnicos-administrativos em educação (TAEs). De Pieri conta que, há cerca de 12 anos, havia mais técnicos em atividades-fim, que são nas unidades de ensino, que em atividades-meio, como Reitoria e Pró-Reitorias. Agora, o diretor conta que a lógica inverteu: “há uma contratação exagerada e técnicos nas áreas meio, ou atividades, que nas áreas fins. As unidades de ensino vêm perdendo ao longo dos anos os técnicos.”
Hoje, de acordo com De Pieri, o CTC tem apenas um técnico de informática para os 13 cursos do centro. Ele também conta que não há técnicos em laboratórios, que prejudicam as atividades de ensino. Os técnicos que se aposentam ou são exonerados não são substituídos, muitos porque tiveram seus cargos extintos por lei. “Nós temos um trabalho qualificado, que exige profissionais com formações específicas”, defende.
Docentes também apontam falta de bolsistas
Além da falta de TAEs, docentes do CTC também enfrentam a falta de bolsistas, principalmente do Programa Integrado de Bolsas (PIB) da UFSC e de iniciação científica. Sobre os bolsistas PIB, que tendem a atuar em suas áreas de formação nas unidades de ensino, De Pieri conta que o CTC não recebeu vagas neste ano.
A falta de bolsistas de iniciação científica, conta o diretor, é um problema que afeta principalmente os novos docentes. “Há um desistímulo muito grande porque não conseguem tocar as pesquisas sozinhos”, afirma.
::: O que diz a UFSC
Lais Godinho
Imprensa Apufsc