*Por Marcio Vieira de Souza
“Falar de jornalismo sindical é falar de jornalismo especializado. Jornalismo dirigido a um público bem definido. Jornalismo para uma classe com sua ideologia, seu estilo de vida, seus valores. Uma classe com sua história, sua cultura, seu futuro e consequentemente sua linguagem particular”. Essas palavras foram escritas por Vito Giannotti, nos anos oitenta do século passado, em uma publicação da coleção primeiros passos da editora brasiliense (“O que é jornalismo operário?”) e ainda tem validade. Porém, o mundo mudou exponencialmente nos últimos anos e a disputa por hegemonia cultural, ideológica e de valores, tornou-se ainda mais complexa. Estamos numa época em que as mídias sociais, a internet e a digitalização do mundo são uma realidade. Em que existem desafios diários para comunicar, como por exemplo o enfrentamento de fake news cotidianamente como estratégia de marketing.
Em nível global, a tendência é a comunicação digitalizada, com a plataformização e a disputa de hegemonia entre Big Techs (Meta, Google, Amazon, Apple, Microsoft,Tencent, Alibaba, ByteDance,etc), colocando em xeque os limites dos processos regulatórios dos estados nacionais num mundo globalizado. Desafios e tendências como a massificação da Inteligência Artificial (IA), da Realidade Aumentada (RA) e Realidade Virtual (RV) são elementos colocados na nossa realidade e não mais de ficção científica.
Esses e outros desafios globais estão colocados em uma relação local, regional e específica de categoria, ao se pensar a comunicação sindical, no nosso caso, da categoria docente de uma universidade pública federal no Sul do Brasil. Mas também são desafios complexos para a docência, os estudantes e a educação contemporânea que precisamos atualizar.
Evidentemente estes desafios pela cidadania e pela democratização da comunicação são nacionais e internacionais e extrapolam o papel de atuação do sindicato, mas ele, enquanto ator desta rede mundial, tem que estar sintonizado e atento para entender e planejar sua atuação em suas redes, articulações, federações e centrais.
Como um sindicato apresenta sua trajetória de luta? Como demonstra conhecer a realidade das pessoas que representa? Como traduzir essa mensagem para toda uma comunidade? Como promover transformação social? Como conseguir resultados práticos a partir da comunicação?
Além da mensagem, há ainda questionamentos sobre o meio. Que canais devemos usar para atingir o maior número de pessoas? Um outdoor basta? Carro de som é eficaz? Até que ponto as redes sociais são importantes?
Em geral, na comunicação, descobre-se o caminho enquanto se percorre – e com o rápido avanço tecnológico, o caminho muitas vezes muda enquanto é percorrido. E é importante que seja traçado por profissionais capacitados, qualificados e engajados com as causas do sindicato. Felizmente, a Apufsc-Sindical conta com tudo isso, ainda que com uma equipe pequena. E mesmo assim, grandes desafios se impõem. E o planejamento é preciso!
Como fazer uma campanha em defesa do reajuste salarial de docentes de universidades federais, que mobilize a sociedade como um todo, quando 70% dos profissionais no país recebem, no máximo, dois salários mínimos? Como sensibilizar as pessoas para esta causa?
Como informamos
Todos os dias, publicamos no site do sindicato notícias relevantes para a categoria docente e que também demonstrem para a sociedade o quanto esses profissionais precisam ser valorizados. São matérias de diferentes veículos de imprensa, lidos diariamente pela equipe, que trazem dados sobre ciência, educação, universidades, política, economia, sempre com o olhar voltado ao nosso público-alvo: professoras e professores das universidades federais de Santa Catarina.
Essas notícias são enviadas diariamente, via Whatsapp, por meio de um informativo construído pela equipe. E uma vez por semana, uma newsletter com os principais destaques é enviada por e-mail. Além disso, conteúdos são selecionados e publicados diariamente nas redes sociais, de maneira personalizada para cada uma das mídias, além do site da Apufsc, onde tudo fica articulado e onde o design está sempre sendo pensado e atualizado.
Nos últimos anos, houve forte avanço do número de idosos com acesso à internet: o percentual de pessoas com mais de 60 anos no Brasil navegando na rede mundial de computadores cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021.Whatsapp é a rede social mais utilizada (92%), seguida do Facebook (85%) e Youtube (77%). É o que mostra pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas.
Isso é importante para informar e, em geral, funciona. Em 2022, o site da Apufsc foi acessado 186 mil vezes. Semanalmente, mais de 3 mil pessoas recebem nossa newsletter. Essas estratégias, seguimos baseados em uma tendência mundial. Segundo a agência Abridor de Latas, especializada em comunicação sindical, “antigamente, o principal instrumento de informação para os trabalhadores era o jornal impresso do sindicato. Mas nos últimos 20 anos, tudo mudou”. Os profissionais questionam: “Pare e pense na quantidade de informações que você recebe diariamente no seu smartphone. O ritmo é frenético, não é mesmo? São dezenas de links nos grupos do WhatsApp, notificações nas redes sociais, novos e-mails, aplicativos de notícias. E tudo isso praticamente ao mesmo tempo! Pois é, nós passamos por uma verdadeira revolução na maneira como nos comunicamos e, hoje, há uma diversidade enorme de ferramentas de comunicação disponíveis. Os materiais de papel perderam o protagonismo e as telas dos celulares já fazem parte do nosso cotidiano. E pode acreditar: com a base do seu sindicato não é diferente!”.
A agência Abridor de Latas defende, ainda: “como líder sindical, você tem a responsabilidade de representar os interesses dos trabalhadores e garantir que sua voz seja ouvida. A digitalização tem mudado a forma como as pessoas se comunicam e as expectativas dos trabalhadores. É crucial que o seu sindicato esteja na vanguarda da comunicação e tenha uma presença forte e eficaz no mundo digital”.
Seguimos à risca esses preceitos na comunicação da Apufsc. Mas isso basta para engajar?
Como engajamos
Talvez mais do que falar, nesse aspecto, é preciso ouvir. Porque precisamos que nossa voz seja reverberada e, para isso, as pessoas precisam acreditar nela. É um erro achar que pessoas de fora da área da comunicação não podem opinar sobre o assunto, pois elas são diretamente impactadas (ou não, se estivermos falhando) pelo que queremos comunicar. Da mesma forma como é um erro afirmar categoricamente que a comunicação sindical não é eficiente e precisa mudar quando não se está atento a como ela funciona.
Não existe postura passiva em comunicação. Emissor e receptor – como chamamos tecnicamente quem envia e quem recebe determinada mensagem – precisam ser ativos. Obviamente, cabe ao emissor pautar o debate. Mas o receptor, se de fato houver interesse, precisa estar atento e disposto a envolver-se na discussão.
Um dos novos desafios que a Apufsc se colocou na gestão que iniciou é ampliar a sua participação nas mídias audiovisuais. Assim, o projeto da TV Apufsc no YouTube está sendo incrementado e teremos novidades nos próximos meses, com programas jornalísticos e culturais, além das já tradicionais coberturas dos eventos que a entidade sempre faz.
O que pedimos aos críticos da comunicação da Apufsc é reflexão e abertura à construção coletiva. O que sugerimos às filiadas e filiados ao sindicato é engajamento para que as lutas, que são de todas e todos, tenham impacto positivo e resultados. Existe, na Apufsc, estratégia e planejamento voltados à comunicação. Existe também a disposição para que seja criada uma política institucional de comunicação sindical, a muitas mãos. E existe, mais do que tudo, abertura para o envolvimento de nossa base com nossas construções coletivas.
Críticas e sugestões serão sempre bem-vindas. Ataques, já bastam os que são feitos diariamente aos professores e professoras e à universidade.
*Marcio Vieira de Souza é professor do Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC (DEGC-CTC) e diretor de comunicação da Apufsc.