Anhatomirim e a Fortaleza de Santo Antônio de Ratones são candidatas ao título de patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) trabalha na execução dos detalhes do projeto que deve restaurar e requalificar a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, tombada como patrimônio histórico nacional de 284 anos, no município de Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou no ano passado, através de chamada pública, o projeto que prevê o investimento total de R$ 50 milhões. Nesta sexta-feira, dia 17, as ações que compõem a iniciativa foram apresentadas em reunião para diferentes setores da Secretaria de Cultura, Arte e Esporte (SeCArtE) da UFSC. A universidade é gestora de Anhatomirim desde 1979.
O projeto Restauração das Fortificações Catarinenses #EuValorizoAsFortalezas, que tem a Fundação de Amparo à Pesquisa e à Extensão Universitária (Fapeu) como proponente, prevê obras na fortificação, como recuperação de edifícios e novos espaços expositivos, atrações turísticas e comunicação visual, mas também soluções de acessibilidade e equipamentos renovados para atendimento ao público. Há ainda a previsão de 25 ações complementares, que envolvem desde apresentações culturais até montagem de um barco movido a energia elétrica gerada por sistema fotovoltaico para visitas à Ilha de Anhatomirim. Tudo deve ser executado em três anos, após a liberação dos recursos.
O projeto foi aprovado em 2022 pela equipe técnica BNDES, através da Chamada Pública n° 1/2021 – Resgatando a história, no valor máximo previsto pelo edital. Os recursos – que exigiram contrapartida – ainda não foram liberados. A equipe da Coordenadoria das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina (CFISC) foi responsável pela elaboração da proposta em conjunto com a Fapeu, durante o trabalho remoto em 2021, como consequência da pandemia da Covid-19. Agora, os trabalhos se concentram nos processos para viabilizar a liberação dos recursos.
O BNDES investirá R$ 32,5 milhões. A contrapartida oferecida foi de R$ 17,5 milhões. Esses recursos são de investimentos nos projetos e nas obras já realizadas em fortalezas da região pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Santa Catarina, que cedeu o uso dos recursos como contrapartida ao projeto da UFSC.
A Fortaleza de São José da Ponta Grossa e a Fortaleza de Santo Antônio de Ratones, ambas em Florianópolis, passaram por obras de requalificação, restauração e implementação de soluções de acessibilidade, com projetos e execução do Iphan. A Fortaleza de Santo Antônio de Ratones ainda está em processo de finalização dos trabalhos, por isso, segue fechada ao público.
Com a viabilização das obras em Anhatomirim, as principais construções do século XVIII do sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina na baía norte da Grande Florianópolis estarão todas novamente recuperadas, requalificadas e com novos atrativos. A UFSC é gestora dessas três fortalezas há 44 anos. A Universidade adotou Anhatomirim em 1979 e, a partir de então, as obras iniciadas pelo Iphan se intensificaram e a maioria dos edifícios foi restaurada até a abertura ao público em 1984. Com o Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina – 250 anos na História Brasileira (1988-1992) as obras em Anhatomirim se complementaram e as fortalezas de Ratones e Ponta Grossa foram integralmente restauradas e também adotadas pela UFSC. Essa ação teve o apoio da Fundação Banco do Brasil, que investiu recursos da ordem de US$ 1 milhão.
“Agora teremos um novo marco importante para toda a comunidade catarinense e para a história dessas fortificações no sul do Brasil. A UFSC cumpre seu papel de requalificar e entregar para a sociedade os principais monumentos da colonização portuguesa que alavancaram a vinda dos açorianos para nossa região. Assim, ressalta-se a importância das fortalezas para nossa história e nossa cultura, salvaguardando a memória da nossa gente”, comenta o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza.
Aquário virtual, ônibus e barco fotovoltaicos
Entre as 25 ações complementares previstas no projeto, está a construção de um aquário virtual no Novo Paiol da Pólvora, na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim. O edifício tem o teto em forma de abóbada, ideal para as projeções das imagens – o aquário não aprisionará animais de verdade. Diferentes espécies poderão ser apresentadas aos visitantes da fortificação, que está localizada na Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Além do aquário, há a previsão de construção de um barco e um ônibus elétricos abastecidos com energia solar. Baseado em experiências bem sucedidas do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar – Fotovoltaica da UFSC, a criação dos veículos deverá facilitar o acesso às fortalezas.
Entre as ações complementares, estão previstas ainda novas atividades para preservação do patrimônio arqueológico descoberto nas fortificações. Há também ações para o desenvolvimento sustentável dos bens, melhoria de gestão, promoção de emprego e renda (com qualificação de guias de turismo), educação patrimonial, entre outros. Vários parceiros foram consultados durante a elaboração do projeto. Agora, a equipe responsável está visitando diferentes instituições a fim de apresentar o projeto e alinhar ainda mais parcerias.
Fortalezas candidatas a patrimônio mundial
A requalificação da Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim levará a fortificação a um novo patamar. Anhatomirim e a Fortaleza de Santo Antônio de Ratones fazem parte de um conjunto de 19 fortificações candidatas a patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A Candidatura a Patrimônio Mundial do Conjunto de Fortificações Brasileiras foi proposta pelo Iphan nacional em 2015. O mote diz respeito à participação dessas fortalezas na construção das fronteiras do Brasil – um país de dimensões continentais. As representantes do sul – Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim e Fortaleza de Santo Antônio de Ratones – estão na lista indicativa pois foram construídas no século XVIII como forma de manter o controle da Coroa Portuguesa na região. Hoje, elas são patrimônios físicos ainda preservados da história colonial de formação do nosso país em Santa Catarina.
Parceria com diferentes atores
A UFSC, como guardiã desse conjunto patrimonial, está reunindo diferentes atores para execução deste projeto. Além do Iphan, fazem parte das ações complementares instituições como Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Prefeitura de Florianópolis, Prefeitura de Governador Celso Ramos, ICMBio, Sebrae, entre outras. Nesta semana, também a Universidade Federal do Pará (UFPA) contribuiu com o projeto. A professora Roseane Norat, da UFPA, que aprovou ação similar no BNDES e no Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), esteve na UFSC ministrando capacitação para a equipe que desenvolve as ações em Santa Catarina.
Esta iniciativa da UFSC faz parte da sua responsabilidade social e principalmente da construção de pontes que venham a possibilitar arranjos produtivos e geração de renda para a população de vários setores da região.
Fonte: Notícias UFSC