Bernardete foi criadora do Núcleo de Estudos sobre as Transformações no Mundo do Trabalho da UFSC
O ano era 1993 quando Bernardete Wrublevski Aued se tornou a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc-Sindical). Criado em 1975, até então o sindicato só havia sido presidido por homens. “Na época havia um movimento do qual eu participava que se chamava Composição, que era uma frente de várias representações políticas, e surgiu meu nome. Eu fui a primeira mulher a ocupar a presidência da Apufsc. Foi uma gestão de muitos enfrentamentos, participamos de greves nacionais, de todos os servidores públicos, que foi um movimento muito forte, e das lutas do cotidiano”, recorda a professora.
Entre as lutas cotidianas, estava o enfrentamento do machismo. “Depois de tantas gestões masculinas, uma mulher ocupar a Presidência era uma novidade e motivo de tensão. Não era muito fácil que uma mulher estivesse à frente do movimento sindical. Na época nós éramos a maioria das professoras da universidade, no entanto essa representação não se fazia presente”, avalia. Naquele momento, Bernardete recorda, “no máximo as mulheres ocupavam a chefia de departamento e ponto. Não havia espaço para cargos mais próximos da Reitoria, isso era cargo masculino. Então sempre havia tensões, mas foi uma conquista”.
Mulheres na UFSC
As discussões sobre questões de gênero na universidade parecem estar avançando. Em 2011, Roselane Neckel foi empossada como primeira reitora da história da UFSC. Atualmente, Joana Célia dos Passos é vice-reitora, e a gestão tem equipe formada por número equilibrado de homens e mulheres.
No entanto, as mulheres são minoria no corpo docente. Segundo dados do Observatório UFSC, em 2022 eram 1.290 professoras e 1.597 professores. Os números reduzem ainda mais quando se observa a posição dessas mulheres em cargos de chefia, na liderança de grupos de pesquisa e entre bolsistas de produtividade.
As mulheres representavam 46% dos líderes de grupos de pesquisa certificados, 35% dos bolsistas de produtividade e 46,71% entre orientadores de IC/ICTI, de acordo com dados divulgados em 2020. Naquele ano, 470 mulheres ocupavam cargos de liderança na UFSC, uma minoria com relação aos 640 homens. Na coordenação dos programas de pós-graduação, eram apenas 41%.
Pesquisadora das relações de trabalho
Bernardete tem bastante propriedade para falar sobre relações de trabalho. Graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1972), tem mestrado em Sociologia Rural pela Universidade Federal da Paraíba (1981) e doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991). Desde aquele momento, começou a estudar o mundo do trabalho.
“Eu acabei migrando. Quando terminei meu doutorado, que era sobre questão agrária, eu já estava estudando as questões de trabalho, porque também no meio rural o trabalho havia mudado muito. A maioria da população já estava morando na cidade. E aí enveredei por estudar essas mudanças no trabalho, e verificar o que estava se desmontando e o que estava emergindo em termos de profissões”, conta.
Para UFSC, onde havia ingressado como docente em 1983, esse estudo era de muita importância: “Isso era uma disucssão extremamente importante dentro da UFSC, para a criação de novos cursos”. Entre os aspectos estudados por Bernardete, estavam profissões de cunho artesanal que estavam sendo desativadas, como alfaiates. “Cheguei até o trabalho infantil, que era algo que se dizia ‘já acabou, não tem mais’. Fomos ver que não era assim. Da mesma forma como o trabalho análogo à escravidão, como estamos vendo. Essas formas não foram desmontadas, muito pelo contrário. São mais atuais do que nunca. Aparecem de forma camuflada, mas são recorrentes, o que é lamentável”.
Uma das obras de Bernardete foi o livro “A persistência do trabalho infantil na agricultura e na indústria (Santa Catarina no contexto brasileiro)”, que assina ao lado de Célia Regina Vendramini, Claudio Marcelo Garcia de Araújo, Daiana Castoldi Lencina, Fabiana Duarte, José Kauling Sobrinho, Maria dos Anjos Viella, Ricardo Selke e Soraya Franzoni Conde. Bernardete também foi criadora do Núcleo de Estudos sobre as Transformações no Mundo do Trabalho da UFSC.
A professora e pesquisadora aposentou-se no início de 2008. “Depois de tantos anos estudando trabalho, e como realmente exaure as pessoas, quando chegou uma determinada época eu vi que precisava me aposentar. Não vou ser incoerente de achar que o trabalho é tudo pra mim. Tinha muitas outras coisas que eu gostaria de fazer, como de fato estou fazendo. Continuo escrevendo algumas coisas, pintando aquarelas“, conta. A professora participou, inclusive, do calendário especial criado pela Apufsc em 2019 com aquarelas feitas por docentes.
Além de Bernardete, apenas mais uma mulher ocupou a Presidência da Apufsc-Sindical. Entre 1999 e 2000, o sindicato foi presidido por Corália Piacentini.
Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc