Ela passou pela Matemática, Computação e atua na Meteorologia, áreas predominantemente masculinas
Graduada em Matemática Aplicada e Computacional pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Engenharia Elétrica pela mesma universidade e doutora em Meterologia pelo CPTEC-INPE, Marina Hirota é professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 2013. Fez pós-doutorado na Universidade de Wageningen, na Holanda, onde estudou questões ambientais – uma área bastante cara para ela. Atualmente, faz parte do Group for Interdisciplinary Environmental Studies (IpES).
Em 2021, teve pesquisas apresentadas na Conferência da ONU sobre Mudança Climática (COP26). Marina fez parte de um grupo de cientistas que lançou o relatório chamado “10 New Insights in Climate Science” (“10 novas reflexões na ciência do clima”). Voltado a tomadores de decisão, o material faz um resumo sobre o avanço do conhecimento científico, com dados dos estudos publicados naquele ano, em alguns dos temas mais urgentes, e visa conscientizar sobre as ações necessárias para preservar um planeta seguro e habitável.
Na mesma ocasião, o Painel Científico para a Amazônia (SPA), grupo que reúne mais de 200 cientistas – entre eles Marina -, divulgou o primeiro Relatório de Avaliação da Amazônia. O documento alerta que a floresta está se aproximando de um potencial e catastrófico ponto de não retorno devido ao desmatamento, à degradação, aos incêndios florestais e às mudanças climáticas, e faz um apelo aos governos globais, líderes do setor público e privado, formuladores de políticas e ao público em geral para agir agora para evitar mais devastação na região.
“Tenho total ligação com questões ambientais, políticas públicas, crise climática”, conta Marina. Mas sua jornada na pesquisa começou bem antes disso.
Desde a graduação, Marina circulou por ambientes predominantemente masculinos. “Na minha área inicial, que é a Matemática Aplicada, a representação de mulheres é bem baixa, mas eu me formei em uma turma com bastante mulher. Muitas se formaram e foram para o mercado de trabalho, não foram acadêmicas, e a maioria trabalha em empresas de consultoria ou na parte de logística”, conta. “Na academia, muito poucas conseguiram chegar a ser docentes. Acho que acontece aquilo que chamam de efeito-tesoura. Algumas se formam, mas não chegam nas cabeças”, analisa.
Além da Matemática, Marina passou pela Computação, outro setor com maior presença de homens. “Na Meteorologia, já foi um pouco diferente. Mas de forma geral, vivi em ambientes bastante masculinos em toda a minha formação”.
Os desafios não terminaram quando se tornou docente na UFSC, na época em que o curso de Meteorologia estava sendo criado. “Eu escolhi essa área porque sentia que podia dar minha contribuição”, analisa a pesquisadora. “Eu nunca fiz por dinheiro, porque se você escolhe a ciência por dinheiro, no Brasil, você está fadada à frustração eterna”, complementa.
Para ela, foi importante ter encontrado, ao longo de sua jornada na academia, pessoas que a auxiliaram a encontrar suas potencialidades. “Eu sou muito agradecida pelas pessoas que passaram pelo meu caminho, porque eu fui aprendendo aquilo que eu fazia de melhor, e o que me fazia feliz. Eu não fazia nada porque era importante para a carreira, era porque eu sentia prazer em estudar aquilo. Então a mensagem é: sinta aquilo que te faz bem e, dentro disso, explore aquilo que você faz de melhor”.
Profissional que atua em diferentes áreas, ela finaliza: “Eu gosto de sempre ter alguma coisa para aprender, de sentir que eu não sei determinada coisa. Isso me faz não acomodar. Por isso que eu tenho uma formação tão diversa”.
Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc