Em uma gestão que tem como meta a paridade de gênero, Joana garante: “Eu não me sinto só”
Em 5 de julho de 2022, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) passou a ter como vice-reitora uma mulher negra, ativista, reconhecida internacionalmente por sua atuação. Joana Célia dos Passos atuou, até sua nomeação, como diretora do Centro de Ciências da Educação (CED) da universidade. Participou da criação da Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades (Saad) durante a gestão de Luiz Carlos Cancellier. Professora por quase 40 anos, sendo 29 no ensino superior, ela é mestra e doutora em Educação pela UFSC. As relações raciais na América Latina foram o tema de pós-doutorado de Joana na Universidad Autónoma de México (Unam). Exerceu a docência no Departamento de Estudos Especializados em Educação e nos Programas de Pós-Graduação em Educação (PPGE) e Pós-Graduação Interdisciplinar de Ciências Humanas (PPGICH).
Joana tem ampla experiência na concepção e execução de políticas públicas para a educação. Coordenou, por exemplo, a formulação de políticas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) para trabalhadores e trabalhadoras rurais, e atuou como consultora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Undesco) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) na formulação de políticas de EJA.
É esta visão de mundo, que perpassa questões de gênero e de raça, que Joana trouxe para a gestão da UFSC. “Como vice-reitora, nesses oito meses da nossa gestão, eu tenho acompanhado, participado e contribuído com a formulação das políticas gerais da UFSC. Isso significa dizer que não estou atuando somente nas perspectivas das questões de gênero, e isso é miuito importante. Porque o olhar que eu trago para a gestão, nas diferentes ações, se orienta por esse meu pertencimento de gênero e racial. Eu tenho feito essas ponderações em todos os momentos”, afirma.
Nesse espaço, Joana garante: “Eu não me sinto só”. Ela explica: “Tem um conjunto de mulheres que integram o primeiro escalão da gestão por conta da paridade de gênero que estabelecemos como meta. tem muitas mulheres que estão atuando para fazemros uma universidade na pespectiva das mulheres”.
O retorno que tem recebido é positivo. “O fato de eu estar nesse lugar tem inspirado meninas, mulheres. Eu tenho ouvido isso. Muitas mulheres, meninas, estudantes, se emocionam ao me ver nesse lugar, e isso me coloca ainda mais responsabilidade porque a representação é uma questão importante, mas uma representação sem projeto coletivo é muito pouco”, avalia Joana.
Sobre a representatividade, ela explica: “O meu desafio como mulher negra nesse lugar que ocupo é não representar apenas o conjunto de mulheres, é representar mulheres negras em um projeto de universidade, de gestão, que vai se materializar em políticas que temos elaborado”.
“A representação diz pouco se não estiver aliada a um projeto que leve em conta o coletivo e as múltiplas formas de ser e existir como mulher também na universidade”.
A UFSC com a qual a atual vice-reitora sonha, em termos de gênero, “é uma universidade em que possamos ter relações mais horizontais, onde nós tenhamos, sim, responsabilidade com as políticas, mas também em construir possibilidades de permanência das mulheres”. Para ela, “o ambiente acadêmico é nefasto para o desenvolvimento das mulheres, porque as condições que temos são muito desiguais em relação aos homens. Desse modo, precisamos agir”.
Uma das maneira de combater o sexismo na academia é implementando políticas institucionais. E Joana garante que isso está sendo feito. “Teremos, em breve, boas notícias sobre a política de equidade de gênero na UFSC, e contamos, para isso, com a expertise de muitas mulheres feministas que fazem essa universidade”.
Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc