Isabel Lustosa, em entrevista para o podcast Politiquês, do Nexo, fala sobre o papel da mídia na democracia
Isabel Lustosa, historiadora e pesquisadora do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, foi entrevistada pelo podcast Politiquês, em julho de 2022, para a minissérie “Uma crise chamada Brasil”, que traça um panorama dos anos que marcaram a quebra do pacto social da Nova República. Ela aparece no sexto episódio, “Diálogo interrompido”, sobre o impacto das redes sociais no debate público. O Nexo transcreveu a conversa que teve com Lustosa. Confira:
Na sua opinião, o que explicaria essa crise contemporânea de credibilidade da chamada imprensa tradicional?
Eu acredito que esse desgaste tem a ver com a forma como o caráter empresarial da mídia, das grandes empresas de comunicação, passou a interferir no conteúdo do que era produzido. Quando houve essa politização não assumida da imprensa manipulando informações, não digo só da imprensa brasileira, mas internacional. Informações sobre a Guerra do Iraque, por exemplo. A mídia se associa a determinados projetos políticos e isso fica, em pouco tempo, como foi no caso do Iraque, escancarado.Essas empresas, no Brasil, desde pelo menos depois da Segunda Guerra, com aquela campanha intensa contra Getúlio, contra a Petrobras, foram se posicionando sem se posicionar. Se o jornal trouxesse “nós somos contra a política de petróleo produzido no Brasil”, isso ficaria mais fácil pro leitor. Mas o leitor que estava acostumado a ler aquele jornal de repente começa a ver aquela campanha e se deixa influenciar por ela. Essa perda de credibilidade foi crescendo ao longo do tempo. Primeiro, durante a ditadura militar mesmo, você tinha a grande imprensa com aquela censura toda. Isso foi contornado ou, de alguma forma, sabotado até pela imprensa alternativa, pelos jornais que foram aparecendo, bem precários, manuscritos quase, mimeografados. O momento agora é que essa grande força, que são as grandes empresas do jornalismo, foram mais desmascaradas.
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