Livro trata do uso da charge como arma na guerra contra o Paraguai
A edição desta sexta-feira, dia 18, do projeto Livro na Praça, apresentou a obra “A Batalha de Papel”, do jornalista e professor aposentado Mauro César Silveira. O livro reúne análises de 202 charges publicadas em jornais do Rio de Janeiro, entre 1864 e 1870, que contribuíram para deturpar a imagem do Paraguai durante a guerra. O evento, promovido pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), aconteceu na Igrejinha da UFSC e teve exposição de Luiz Felipe Zimmermann.
O diretor da EdUFSC, Waldir Rampinelli, ao abrir a edição, lembrou que o objetivo do projeto Livro na Praça é democratizar o acesso à literatura. “Nosso lema é: um livro debaixo do braço e uma ideia na cabeça”, destacou Rampinelli. O evento, que une literatura e música, seguiu com apresentação musical do duo La Guitarra, formado por Igor Tomé e Victor Carrara, que tocaram músicas de Agustín Barrios, Daniel Viglietti e do grupo chileno Inti Illiman.
Sobre a obra
O livro “A Batalha de Papel” foi apresentado por Luiz Felipe Zimmermann porque o autor do livro, Mauro César Silveira, não pôde estar presente. Zimmermann é professor de história na Escola Básica Guilherme Wiethorn Filho e afirmou que em suas aulas “o foco é mostrar que o Brasil foi um péssimo vizinho no século XIX”. Sobre o livro, ele destacou que a obra é de fácil leitura e não exige que o leitor tenha conhecimentos prévios sobre charge ou história, porque o autor apresenta todas as informações necessárias.
“[O livro] permite ter uma visão interessante sobre o papel da imprensa e do humor na hora de promover simpatias políticas”, contou Zimmermann. Na obra, Mauro César Silveira, ao analisar as charges, primeiro analisa a representação da imagem e depois desconstrói essa imagem com a historiografia. À época, a população do Brasil era majoritariamente analfabeta, portanto a imagem tinha um papel central na construção de um discurso.
O principal personagem retratado nas charges durante esse período foi Solano López, o então presidente do Paraguai. A imagem que a imprensa buscava passar sobre o Paraguai era de que se tratava de uma ditadura governada por um tirano que queria levar seu país à ruína. Zimmermann explica que, ao retratar Solano López como ameaçador nas charges, a imprensa brasileira serviu aos interesses do império para indignar a população e, desse modo, conseguir voluntários para a guerra e diminuir a crítica social sobre o conflito. “A Guerra do Paraguai continua hoje”, concluiu Rampinelli ao falar sobre os impactos que o conflito causou no país vizinho e sobre a imagem construída no Brasil que ainda se perpetua.
SINOPSE
A batalha de papel mostra como o arsenal satírico da imprensa ilustrada da Corte de D. Pedro II foi acionado para deformar a imagem do Paraguai e fincar as raízes da carga de preconceito que ainda recai sobre o país guarani, 140 anos depois do final da Guerra. Resultado da análise de 202 charges publicadas no Rio de Janeiro, entre 1864 e 1870, a obra também revela que o jornalismo brasileiro contribuiu para reforçar uma conhecida história oficial – aquela que define o episódio como a cruzada civilizadora destinada a libertar um povo oprimido por um tirano cruel e sanguinário, o então presidente Francisco Solano López.
Sobre o projeto Livro na Praça
Organizado pela EdUFSC, o Livro na Praça acontece às sextas-feiras, promovendo encontros entre escritores e leitores e venda de livros a preços acessíveis, na Praça Santos Dumont, em frente à entrada da universidade, no Teatro Carmen Fossari ou na Igrejinha da UFSC.
Os encontros, que começaram em setembro, são temáticos, com um assunto em cada mês. Em setembro, foram apresentadas obras sobre a história de Santa Catarina, e, em outubro, sobre a literatura do estado. Neste terceiro mês do projeto, o tema é história do Brasil. Em dezembro, será debatido jornalismo alternativo e a Editora já tem previsão de estender a programação para o próximo ano.
O projeto Livro na Praça é inspirado no programa Para Leer en Libertad, que acontece há dez anos no México, conforme contou o professor Waldir José Rampinelli, diretor da EdUFSC, em entrevista para a Apufsc-Sindical. Realizado também em praças, o programa se tornou a maior distribuição de livros do mundo, com mais de 50 milhões de obras distribuídas.
Só no primeiro mês, já foram vendidos mais de 400 títulos no Livro na Praça. “Pode ser um pouco ousado, mas queremos transformar isso na distribuição de livros de Santa Catarina”, aspira o Rampinelli.
Confira a programação completa do projeto Livro na Praça
NOVEMBRO | História do Brasil
Dia 25 – Uma ilusão de desenvolvimento – nacionalismo e dominação burguesa nos anos JK
Autor: Lúcio Flávio de Almeida
Expositor: Nildo Ouriques
DEZEMBRO | Jornalismo Alternativo
Dia 2 – Líricas: a palavra amorosa do cotidiano
Autora: jornalista Elaine Tavares
Dia 9 – A rebelião do vivido no jornalismo independente de Florianópolis
Organizadora: Miriam Santini de Abreu
Expositora: jornalista Paula Guimarães
Dia 16 – Falsa compreensão do que seja mídia independente
Expositora: jornalista Rosângela Bion de Assis
Imprensa Apufsc