As reivindicações são feitas em nome de dicentes, docentes e técnicos-administrativos da UFSC. Em resposta, reitor e vice-reitora anunciaram ações que estão sendo planejadas e executadas
Nesta segunda-feira, dia 7, o Centro Acadêmico Livre de Letras (CALL/UFSC) e o Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos (DCE/UFSC), em parceria com outros centros e entidades que fazem parte da comunidade acadêmica, realizaram um ato de entrega da carta à Reitoria sobre “os criminosos neonazistas na UFSC“, exigindo respostas sobre o assunto. O presidente da Apufsc-Sindical, José Guadalupe Fletes, participou do ato que ocorreu no hall da Reitoria. A presença está de acordo com os princípios da Diretoria da Apufsc de ter uma atuação colaborativa com as entidades representativas da comunidade universitária, bem como atuar em conjunto no combate a toda forma de discriminação e preconceito.
A carta foi entregue em mãos ao reitor Irineu Manoel de Souza e à vice-reitora Joana Célia dos Passos. As reivindicações são feitas em nome de dicentes, docentes e técnicos-administrativos. Nela, os estudantes lembram a importância histórica do movimento estudantil nas lutas contra a ditadura e outros movimentos fascistas no país, e se dispõem a, mais uma vez, tomar a frente.
“É importante que os estudantes tomem protagonismo nessa luta e que suas exigências sejam ouvidas para que uma universidade verdadeiramente combativa se mostre pronta para nunca aceitar nenhuma forma de manifestação ligada a qualquer tipo de opressão ou violência em seu território”, diz a carta.
Entre as reivindicações feitas no documento, estão a punição dos neonazistas ligados à UFSC e sua expulsão imediata. Os estudantes solicitam ainda que a Reitoria apresente, por escrito, o comprometimento em criar grupos de trabalho e políticas administrativas com o objetivo de prevenir a entrada de participantes de grupos neonazistas na universidade, além de prever rápida atuação caso o ingresso ocorra.
A carta inclui também reivindicações dos professores do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), como a criação de um protocolo a ser seguido pelos docentes em casos de opressão e discriminação em sala de aula, facilitando a aplicação de medidas efetivas; a disseminação de conhecimento jurídico em relação às medidas cabíveis em casos dessa natureza; e viabilizar a criação de uma ouvidoria do CCE, com o objetivo de agilizar a atribuição de encaminhamentos às denúncias feitas por membros do centro.
Gabriel Barreto, representante do CALL no evento, afirmou que a carta representa a união do movimento estudantil da universidade e outras entidades, além das direções de centros. “É uma carta de reivindicação de uma posição contundente da Reitoria, uma forma de pressionar, cobrar articulação muito mais concreta para punir esses elementos criminosos e barrar a entrada de neonazistas na UFSC”, disse o estudante.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação na Rede Pública de Ensino do Estado de Santa Catarina (Sinte/SC) também participou do ato na UFSC. Evandro Accadrolli, coordenador estadual da entidade, afirmou: “Nós repudiamos qualquer manifestação que possa atingir a dignidade humana”. Accadrolli enalteceu o protagonismo estudantil e reforçou a importância da entrega da carta: “Aqui aconteceu um ato concreto e precisa de uma resposta concreta da universidade”.
Compromissos da Reitoria
O reitor Irineu Manoel de Souza lamentou que esse é um momento muito difícil, “e esse movimento é bastante necessário”. Citou as providências que a Reitoria tem tomado, como a audiência pública realizada no dia 1° de novembro para debater a Política de Enfrentamento ao Racismo e o encaminhamento de casos à polícia. “Entendemos que ainda falta envolver o Conselho Universitário. O Conselho precisa apoiar a Reitoria, precisa juntamente com a Reitoria e toda a comunidade universitária dar a resposta necessária para esse momento”, ponderou o reitor. Irineu garantiu: “Nós vamos dar as respostas necessárias. Vamos fazer uma reunião com o Conselho Universitário aberto com a participação de toda a comunidade para darmos encaminhamentos efetivos”.
A vice-reitora Joana Célia dos Passos também se manifestou e pediu a união da comunidade universitária em torno dessa pauta. “Nós estamos, sim, assumindo todas as medidas para que os estudantes sejam culpabilizados e punidos em relação aos atos que cometeram”, afirmou. Joana ressaltou a importância de se modificar na cultura institucional na UFSC para prevenir e combater essas ações.
“Temos uma equipe que é muito ativa em buscar as soluções não só do ponto de vista punitivo, mas também do ponto de vista da prevenção e pedagógico para a gente eliminar qualquer possibilidade dessas células continuarem se reproduzindo no ambiente universitário”, ressaltou. A vice-reitora falou também da preocupação com a imagem da universidade, mas poderou:
“É muito importante que a gente entenda que cuidar da imagem da universidade numa hora dessas não é fazer de conta que as coisas não estão acontecendo. Pelo contrário: é assumir o que está acontecendo, encarar. Nós não podemos temer porque é isso que eles querem. Nós não temos medo desses nazistas”.
Em um relato bastante pessoal, Joana completou: “O meu corpo é político, e o meu corpo é um dos corpos que é afetado por essa violência. E eu não vou permitir me amedrontar com escritas em banheiro, com cartas apócrifas”. Ela também pediu que denúncias sejam formalizadas.
Mobilização continua
Além do ato desta segunda-feira, o Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos (DCE/UFSC) convocou todos os Centros Acadêmicos, o Diretório Acadêmico Livre das Engenharias da Mobilidade e o Grêmio Estudantil do Colégio de Aplicação da UFSC para reunião do Conselho de Entidades de Base na quarta-feira, dia 9, ao meio-dia. Entre as pautas da reunião está a discussão sobre as manifestações nazistas na universidade.
A Frente da Juventude Negra Anticapitalista (Frejuna) também convocou um ato para quinta-feira, 10, durante todo o dia, na UFSC.
Karol Bernardi e Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc