Leda Scheibe é educadora há mais de 60 anos e defende que a educação tenha qualidade social, o que envolve um exercício de humanização para uma sociedade mais justa
Era final dos anos 1950 quando Leda Scheibe ingressou no magistério. Sua primeira experiência foi na rede pública de ensino do Rio Grande do Sul, onde atuou por sete anos como professora do então primário. Depois disso, os caminhos a trouxeram a Santa Catarina. Por mais sete anos, Leda trabalhou no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Assim começou sua trajetória na universidade. Hoje, aos 80 anos – com mais de seis décadas de atuação na educação – Leda é professora emérita Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Educação da UFSC.
“Prestei em 1974 concurso para professora no Centro de Educação da UFSC, Departamento de Metodologia de Ensino, no qual atuei até a minha aposentadoria. Foram anos de muito trabalho e estudos, sempre voltados à formação de professores para a educação básica”, conta a professora, que fez especialização, mestrado e doutorado em educação. Na década de 1980, Leda participou da Comissão que criou o Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC, no qual atuou até 2014, sendo nos últimos anos como professora aposentada sênior.
O trabalho de Leda em defesa da educação também ocorreu fora das salas de aula. “Ao entrar para o ensino superior, participei também de vários movimentos que foram se organizando no país no campo educacional, em defesa da escola pública e da formação de professores”, relata. Dessa forma, ela atuou em diversas entidades, como a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (Anped), Associação Nacional de Formação dos Profissionais da Educação (Anfope), Associação Nacional de Políticas e Administração Educacional (Anpae); Conselho Técnico-Científico da Educação Básica da Capes e Fórum Educacional Estadual de Santa Catarina. Atualmente, Leda é editora da Revista Retratos da Escola (Esforce/CNTE), e afirma com convicção: “Sempre professora!”
Desafios da profissão
Como desafios da profissão, Leda aponta que os principais são: desenvolver educação com qualidade social, o que envolve um exercício de humanização inclusive para novas relações sociais, para uma sociedade mais justa; educar a juventude para além do domínio da ciência; trabalhar para a auto organização dos jovens; suscitar dúvidas, com aprimoramento das análises; destruir o fetiche das tecnologias, através da compreensão dos seus princípios científicos; e, sobretudo desalienar a juventude. Além disso, ela pontua que é preciso desenvolver a mediação entre professor e aluno pelas tecnologias, e a “consciência de que é necessário estimular nos processos pedagógicos uma nova concepção epistemológica, cultural e ideológica capaz de sustentar soluções políticas, econômicas, científicas e sociais para garantir uma vida humana digna no planeta, lembrando que a natureza não nos pertence, nós é que a pertencemos!”
Para Leda, ser professor é, antes de tudo, “ser um profissional consciente do seu trabalho”. Ela também cita como características da profissão ser capaz de desenvolver um conceito de formação vinculado a um projeto de sociedade, com igualdade, democracia, direitos; ser um formador que pode fazer a diferença na vida dos seus educandos, o que exige uma postura crítica, prática educativa apoiada no poder da verdade, no esclarecimento acima de tudo; ser um profissional preocupado em revelar a “face oculta” da realidade, que abre a “caixa preta” da sociedade do conhecimento. “É entender a importância dos conhecimentos que ensina para uma sociedade mais justa, para o bem comum”, defende Leda, que finaliza: ser professor é propiciar espaço para a auto organização dos seus estudantes, é desenvolver educação com qualidade social.
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Karol Bernardi e Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc