Lei de Cotas: Pesquisa mostra alteração no perfil dos estudantes nas universidades brasileiras

UFSC foi uma das instituições analisadas pelos pesquisadores no estudo

Dados de uma pesquisa do Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU_Ciência) apontam uma significativa contribuição do sistema da Lei de Cotas nas Instituições de Ensino Superior (IES) do país. O estudo demonstrou que com a reserva de vagas para alunos de escola pública, negros (pretos e pardos), indígenas e pessoas com deficiência, houve uma importante alteração no perfil dos estudantes nas universidades. O relatório, que partiu do desempenho dos concluintes nas provas de 2013 e 2019 do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), constatou que a presença de maior diversidade nas instituições não alterou o desempenho de suas notas. 

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi uma das 15 instituições analisadas pelos pesquisadores, já que acumula um dos maiores índices de matrículas no país. Nela, foi observado um aumento de 1,6% de concluintes cotistas em 2019 em comparação a 2013 nos cursos de Medicina, Enfermagem, Odontologia e Educação Física. Além disso, cerca de 9,4% a mais de pessoas pardas concluíram o graduação.

A respeito da condição econômica, os dados apontam para um crescimento de formados com renda de até 1,5 salário mínimo e também entre 10 a 30 salários mínimos. Segundo os pesquisadores, esse aumento da desigualdade de renda pode ter efeitos importantes no cotidiano universitário.

Dados do Enade referente aos formandos dos cursos de saúde da UFSC. Fonte: Sou_Ciência

 

De acordo com as notas do Enade, provou-se também que o ingresso de cotistas não impediu o crescimento das notas das universidades. Na verdade, com exceção da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), todas as federais tiveram incremento na nota média se comparados os anos de 2013 e 2019. Considerando a média da nota da prova de conhecimentos específicos por categoria de IES – públicas e privadas. A UFSC, por exemplo, saiu de 50,03 pontos para 57,64, nesses anos.

A nível geral, o estudo verificou que, mesmo com a indiscutível contribuição do sistema de cotas, a composição dos cursos da saúde no Brasil continua sendo majoritariamente de pessoas brancas, com destaque para Medicina, colocado como o curso mais elitizado. Em matéria publicada no site da Apufsc, a professora Maristela Campos, líder do grupo de extensão Alteritas, fala sobre o prejuízo da sociedade quando há poucos cotistas se formando nessas áreas da graduação.

Apesar dos pontos de fragilidade, o resultado dos pesquisadores indica que o caminho da Lei de Cotas é no sentido de aprimoramento da diretriz e não o inverso. No mês em que completa 10 de existência, a Lei de Cotas tem sido celebrada por diversas entidades que ressaltam a importância de se observar os efeitos proporcionados pela política pública na sociedade. Nesse sentido, a UFSC reafirma seu compromisso com as cotas, criando uma pró-reitoria específica para as Ações Afirmativas e Equidades.

Karoline Bernardi
Imprensa Apufsc