A valorização institucional de produtos acadêmicos ou para-acadêmicos gerados por empresas privadas dá origem a diversas distorções, a exemplo dos altos custos de publicação cobrados por editoras que produzem os periódicos onde artigos científicos são veiculados
Em políticas públicas, porém, algumas simplificações, que buscam maximizar a objetividade em processos que podem ser afetados por fortes interesses pessoais, têm comprometido processos de análise de temas que trazem sutilezas incontornáveis – caso, por exemplo, da distribuição de verbas escassas entre grupos e projetos de pesquisa científica.
A utilização parcimoniosa de indicadores – entendidos como representações numéricas que buscam capturar aspectos salientes de processos complexos -, como apenas mais um parâmetro para balizar a tomada de decisões, deveria ser o padrão de agências de fomento. Os números serviriam para uma análise secundária, depois que a qualidade do trabalho do pesquisador já tivesse sido levada em conta. A política da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp, com reuniões semanais abastecidas por formulários de avaliação preenchidos pelos pares, talvez seja hoje a que mais se aproxima de uma boa avaliação de mérito da pesquisa/pesquisador.
Outras agências, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), deveriam rever seus procedimentos de avaliação para conceder bolsas e fazer a promoção de pesquisadores. Umas poucas reuniões anuais para avaliar inúmeros currículos forçam a adoção de caminhos que levam a um resultado que não contempla aquilo que se quer avaliar: a qualidade, e não a quantidade, do que cada pesquisador produz.
A valorização institucional de produtos acadêmicos ou para-acadêmicos gerados por empresas privadas dá origem a diversas distorções como, por exemplo, os altos custos de publicação cobrados por editoras que produzem os periódicos onde artigos científicos são veiculados. Trata-se de uma autoflagelação que é o exemplo universitário do Discurso sobre a Servidão Voluntária, de Étienne de la Boétie, já que as agências, compostas em grande parte pela comunidade científica, estimulam e incentivam hábitos que caracterizam trabalho qualificado, especializado e gratuito em benefício de grandes companhias e que, a médio prazo, jogam contra a própria comunidade.
Fonte: Revista Questão de Ciência