Por Armi Maria Cardoso*
Caro colega professor Camilo Buss Araujo, me dirijo a você com respeito e orientada pela ética amorosa do diálogo, em resposta ao seu texto publicado na seção de opinião no site da Apufsc sob o título “Desinformação como estratégia política: triste retrato dos nossos tempos”.
Parece-me que estamos numa Torre de Babel. Veja, professor, que a “desinformação” da qual você fala, que prefiro chamar de mal-entendidos, ao que parece, se engendrou a partir da reunião do Conselho de Representantes, quando o seu presidente privou aquela instância de discutir uma pauta de AGE que embaralhava o termo “dissolução da Apusfc” com filiação a entidades nacionais, assuntos que o estatuto exige que sejam tratados em assembleias específicas pois se tratam de matérias diversas, que exigem quóruns diferenciados. Ou seja, se trataria de uma escolha preliminar aos eventuais encaminhamentos posteriores à decisão. Dessa forma, se trataria de definir em qual entidade se filiar: ou Andes ou Proifes.
É evidente que a opção de vinculação ao Andes implicaria em abrirmos mão da condição de sindicato estadual, mas isso não dissolveria a entidade Apufsc, nem afetaria seu patrimônio ou sua autonomia. Sabemos que a Apufsc, na qual me associei em 1979, passou por várias alterações estatutárias, mas nunca foi dissolvida. Em 47 anos de existência, permaneceu com o mesmo CNPJ. Infelizmente os colegas da diretoria, amparados em questionáveis opiniões jurídicas de seu advogado, ao que parece, geraram uma confusão entre dissolução de representação sindical e dissolução da entidade Apufsc.
Nessa organização da escolha de filiação a uma entidade nacional, ao que parece, haveria certa interferência de uma vontade política contrária à filiação ao Andes. Será que foi essa posição que impediu o diálogo e a apreciação sobre o tema de pauta daquela reunião, me pergunto. Pois uma pauta do Edital de Convocação da AGE, definida pela diretoria, passou de forma um tanto truculenta, num CR dividido e não esclarecido. Refiro-me ao Edital de convocação que, contrariando a decisão da votação feita em 2019, inoportunamente, vinculou a opção pelo Andes à dissolução da Apufsc. Parece se evidenciar ali, pelo menos, uma certa intransigência, que por certo abalou a lisura da organização do processo democrático em andamento.
Diante disso, os nossos colegas, que defendem a filiação ao Andes, onde me incluo, realizaram junto à diretoria um percurso de busca ao diálogo que permitisse discussão e esclarecimentos. Porém, essas tentativas foram frustradas, por impedimentos ao exercício de um diálogo no campo da ética amorosa e democrática, onde posições diferentes seriam respeitadas. Em função desse fechamento ao diálogo, até respaldo junto à Justiça do Trabalho se buscou, tentando restabelecer a apreciação dos equívocos daquele encaminhamento quanto ao processo de filiação do sindicato a uma entidade nacional.
No campo das esquerdas, onde também se situam os colegas que defendem a filiação ao Andes, onde me incluo, vivemos um tenso e truculento embate na defesa de um projeto civilizatório para o país, que inclui solidariedade, democracia, justiça e inclusão social, neste momento pré-eleitoral. Bom, não precisávamos nos sentir assim, passando por esse desgaste físico e afetivo, se houvesse esforço de solidariedade e de diálogos, tal como a democracia exige, nesse processo de filiação de nosso sindicato ou ao Andes ou ao Proifes. Fujamos da lógica mocinho-bandido ao buscar tratar nossas intransigências e mal-entendidos pela via do diálogo, procurando assim, um lugar de acolhimento amoroso às nossas diferenças.
Defendo o diálogo e a democracia nesse processo de organizar a escolha entre duas entidades nacionais. E me senti, junto com os colegas, privada do diálogo naquela instância deliberativa que nos representa, o CR. Isso inviabilizou a busca por construir avaliações de conjuntura e defesa de propostas, o que contribuiria para esclarecimentos de nossas diferenças, ou seja, para uma decisão coletiva, participativa e democrática. No texto coletivo publicado na seção de opinião no site da Apufsc sob o título “O que não te contaram”, os signatários, onde me incluo, procuram esclarecer os colegas filiados acerca desses citados entraves à democracia.
Diante dessa situação, podemos perceber que esse processo se apresenta maculado pelo vício do edital que convocou a última AGE realizada recentemente, o que inviabilizou diálogo e esclarecimentos. Num movimento genuinamente ético-democrático seria correto adiar decisão proposta para a AGE desta terça-feira, dia 19. Porém, parece que não seria bem essa realidade que estamos vivendo. Por isso, conclamo os colegas professores à votarem NÃO ao Proifes, como forma de seguir construindo um sindicalismo democrático, sem entraves ao diálogo e participação numa decisão coletiva.
*Professora aposentada (CIN/CED/UFSC)