Segundo o levantamento, entre os centros com estruturas físicas mais comprometidas destaca-se o CFM, mas questões relacionadas à falta de manutenção lideram os problemas identificados em todos os centros
Um dos encaminhamentos Assembleia Geral Extraordinária de maio da Apufsc-Sindical foi a elaboração por parte do sindicato de um dossiê sobre as condições de trabalho docente e funcionamento geral da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entregue à nova Reitoria no dia 25 de julho. Para a construção do documento, a Apufsc entrou em contato com chefes de departamento e direções de centros e campi, solicitando e coletando informações.
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De um total de 79 departamentos de ensino da UFSC, apenas 21 enviaram contribuições, sendo dois do Centro de Ciências Biológicas (CCB), três do Centro Tecnológico (CTC), três do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), três do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), três do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), três do Centro de Ciências da Educação (CED), um do Centro de Ciências Agrárias (CCA) – todos esses do campus Florianópolis -, além de um de Araranguá, um de Joinville e um de Blumenau. A diretoria da Apufsc-Sindical lamenta o baixo índice de respostas enviadas, já que o que mais se ouve dos docentes no dia a dia da universidade é sobre as péssimas condições de trabalho.
Identificar o tipo, as razões e as consequências dos problemas, a exemplo da falta de verbas de custeio e capital, ou mesmo a má gestão universitária, auxilia na busca por soluções. A diretoria da Apufsc-Sindical lembra ainda que é disso que depende a plena realização das competências profissionais docentes e o melhor funcionamento da UFSC para atingir sua função social.
O levantamento permite concluir que as reclamações são muito semelhantes: dizem respeito principalmente à falta de manutenção física e de equipamentos. Mas algumas situações chamam atenção. Uma delas é a do CFM, campus da Capital.
Estrutura preocupante no CFM
Construídos há quase 50 anos, os blocos modulados do CFM foram planejados para ser uma estrutura temporária. Mas, anos depois, a edificação ainda está em uso e não recebe grandes reformas faz tempo. Isso porque, segundo o setor de infraestrutura do centro, há expectativa de que o local seja demolido. Enquanto o projeto que vem desde 2012 não é executado, a maior parte das disciplinas é ministrada no Espaço Físico Integrado (EFI), já que os modulados não têm mais salas de aulas suficientes aptas para uso.
Quem frequenta as antigas estruturas do centro se depara com problemas de escoamento da água, infiltração, goteiras, fios expostos e falta de segurança. Luiz Madureira, vice-diretor do CFM, afirma que trocas de lâmpadas e outros pequenos reparos são atendidos, no entanto, coisas como substituição de telhas, a Secretaria de Obras, Manutenção e Ambiente (Seoma/UFSC) não está mais fazendo. Segundo a responsável pelo setor de infraestrutura do centro, Bruna Raupp, o problema não é de hoje.
“Desde quando eu entrei, em 2013 — talvez um pouco depois —, a gente já tem essa resposta de que coisas maiores não vão ser feitas, porque vai ser demolido o prédio. Mesmo assim, não deixa de ser pedido, mesmo sabendo que vai ser negado”, ela conta.
O CFM oferece os cursos de graduação, presencial e a distância, nas áreas de Matemática, Física, Química e Oceanografia, além de programas de pós-graduação. Ao todo, são 189 docentes, 2.092 alunos e 58 técnicos-administrativos. Permanecem nos blocos modulados as coordenações do CFM, da Matemática e de Oceanografia, além de Centros Acadêmicos (CAs), empresas juniores, Biblioteca Setorial e 17 salas de aula, sendo quatro recentemente interditadas.
A maior parte da área administrativa do CFM fica em prédios construídos entre 2005 e 2006, atrás das antigas estruturas. Lá, estão as salas dos professores, laboratórios e os demais departamentos. De acordo com o diretor do centro, Nilton Branco, essas edificações passaram por recente vistoria do Corpo de Bombeiros e estão “razoáveis”.
Na contramão, os blocos modulados receberam “forte” aconselhamento para elaboração de um plano de prevenção de incêndios. Contudo, Nilton não acredita na execução do pedido. “Ao mesmo tempo, se não for demolido, é uma situação frágil que a gente tem”, pondera o diretor.
Para a equipe foi uma surpresa ver a demolição do CFM no Plano de Trabalho 2021/2022 do Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia (DPAE/UFSC). A preocupação, no entanto, é saber para qual espaço o centro será realocado, já que a edificação que abrigaria toda a parte administrativa, que começou a ser construída em 2013, teve as obras novamente pausadas em 2021. “Liberamos o prédio a partir do momento que tivermos outro lugar”, afirma Bruna.
Situação do CFM compromete atividade docente
Professor do Departamento de Matemática do CFM, Rafael Horta cita outros problemas que comprometem a atividade docente: “As carências principais são as seguintes: estrutura física; falta de espaço físico para alocação de turmas de graduação e pós-graduação; falta de atenção da administração central e burocracia excessiva; falta de computadores; falta de lousas/quadros de giz e giz”. Ele complementa que um documento chegou a ser elaborado solicitando a reforma do prédio do Departamento de Matemática.
No Departamento de Física do CFM, a professora Marta Elisa Rosso Dotto listou 13 itens que precisam de atenção: banheiros, equipamentos de ar-condicionado, infiltrações, janela e porta de vidro quebrados, iluminação externa nos arredores do departamento, obra inacabada e parada, ausência de calçadas ou calçadas em péssimas condições, dificultando a acessibilidade, rede sem capacidade para atender ao departamento, para-raios, câmeras de segurança, computadores antigos nos laboratórios de ensino, móveis velhos, cheios de cupim, professores necessitando computador novo.
O professor Pedro de Souza Pereira, da Coordenadoria Especial de Oceanografia, também do CFM, elenca mais problemas, como por exemplo a “inadequação das instalações físicas administrativas, laboratoriais e de permanência dos docentes, existindo nos nosso locais de trabalho riscos reais à segurança formalmente descritos pela DSST-UFSC“, “indisponibilidade de salas de aula em número suficiente e com condições de infraestrutura adequadas” e “morosidade e burocratização crescente na condução de obras de infraestrutura de portes diversos”.
Da mesma coordenadoria, a professora Marinez E. G. Scherer afirma que “as carências são incrivelmente básicas para um bom trabalho”, e aponta que a “infraestrutura de salas de professores é precária, com riscos à saúde e bem-estar; a infraestrutura de laboratórios também precária, falta espaço físico e equipamentos; as salas de aula são insalubres”.
Falta de manutenção é problema recorrente em diferentes centros de ensino
Nos demais centros, a falta de manutenção é problema recorrente. O professor Sergio Floeter, do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas da UFSC (ECZ/CCB), citou a necessidade de melhorias no prédio antigo, como a manutenção de aparelhos de ar-condicionado, portas e janelas dos prédios, além da pintura periódica, incluindo das salas de aula, corredores, laboratórios e parte externa. Ele ainda conta que “alguns laboratórios colocaram dinheiro e esforço pessoal para lixar e pintar tudo, para dar condições de mínima salubridade às pessoas”.
Professora do Departamento de Botânica do CCB, Ana Claudia Rodrigues diz que a segurança é a principal demanda: “O departamento não tem porteiro, não tem guardas, principalmente no período noturno (que tem aulas) e finais de semana. Vivemos com contantes furtos que trazem muitos prejuízos tanto para pesquisa e ensino“. Além disso, ela solicita melhorias na infraestrutura e manutenção básica.
No Departamento de Engenharia do Conhecimento do CTC, o professor Gregorio Varvakis cita a atualização e adequação de mobiliário, em especial dos computadores, como necessária. Também no CTC, a professora Alcilene Fritz, do Departamento de Engenharia Química e de Alimentos, aponta como problemas salas de aulas e de professores sem ar-condicionados, laboratórios de ensino com goteiras, salas de aula e laboratórios sem acessibilidade, falta de água e rede de internet, banheiros em estado precários e elevadores sem funcionamento. Ela conta que documentos foram enviados à Reitoria em 2020, 2021 e 2022, “sem solução na maioria dos casos”, e relata que docentes chegaram a fazer uma “vaquinha” para realizar reparos na sala dos professores.
Professor do Departamento de Informática e Estatística (INE) do CTC, Rafael de Santiago, diz que “o problema de falta de manutenção é o que mais dificulta a plena execução das atividades docentes“. Ele exemplifica: “O prédio do INE conta com um problema sério de infiltrações em sua estrutura, que já comprometeu o uso total de três salas em seu quinto andar. Esse andar ainda apresenta goteiras e há água correndo em dutos de eletricidade. Outra importante questão é que diversas salas desse andar apresentam mofo, o que compromete seriamente a qualidade do ar. O prédio todo ainda conta com rachaduras, que nos foi esclarecido por engenheiros que visitaram o prédio que não são preocupantes, mas ninguém assinou laudo se comprometendo quanto à segurança estrutural. A revisão da questão elétrica também nos é muito importante”.
No Departamento de Automação e Sistemas do CTC, o professor Rodrigo Castelan Carlson aponta que os equipamentos não são atualizados regularmente nos laboratórios, secretarias e salas de professores, principalmente os recursos computacionais; falta de espaço físico para laboratórios de ensino e há condições precárias nas demais instalações (ruído, goteiras, fungos, cupins, tomadas expostas, paredes mal pintadas).
No CFH, a falta de manutenção de bebedouros, computadores, equipamentos de ar-condicionado, além de pisos quebrados e salas infestadas por cupim também são apontados. A chefe do Departamento de Filosofia do CFH, Milene C. Tonetto, reclama precariedade da estrutura, “desde tomadas perigosas, conexão de internet péssima, falta de pincel atômico, salas dos professores sem cortinas, computadores que não funcionam, falta de cadeiras apropriadas para trabalhar”.
Já a professora Michele Monguilhott, do Departamento de Geociências do mesmo centro, comenta o investimento que os próprios docentes têm feito para aquisição de materiais e serviços de manutenção da infraestrutura: “As rubricas destinadas à compra de materiais e equipamentos não permitem a reposição ideal, as salas e laboratórios de ensino e pesquisa estão sofrendo processo de sucateamento, as atividades de extensão estão sendo negligenciadas por falta de recursos humanos e materiais, exigindo muitas vezes o autoinvestimento em suas próprias condições de trabalho”.
No Departamento de Língua e Literatura Vernáculas do CCE, o professor Luiz Henrique Milani Queriquelli cobra, entre outras questões, o atendimento a solicitações básicas de manutenção da estrutura física. Também no CCE, o professor Samuel Lima, do Departamento de Jornalismo, cita outros problemas, como a instalação elétrica velha e estruturas prediais que “clamam por uma reforma”. Ele complementa citando a necessidade de novos computadores: “Precisamos, urgentemente, fazer um total upgrade nos laboratórios de redação, infografia, redação para televisão, redação para rádio e o jornal Laboratório Zero”, e conta que, recentemente, “as fortes chuvas nos obrigaram a ‘interditar’ o Laboratório de Infografia (LabInfo) por duas razões básicas: infiltrações e goteiras (com chuva forte dentro da sala) e rachaduras externas e inclinação do teto, o que indica que pode cair a qualquer momento”.
No CED, o Departamento de Metodologia de Ensino enfrenta os seguintes problemas: situação precária com relação as instalações de pontos e rede de internet; falta número de salas de professores; acessibilidade ao prédio está precária; instalação de equipamentos de ar-condicionado e condições de ventilação nas salas de aula e gabinetes; bebedouros sem condições de uso; banheiros com portas danificadas. Ainda no CED, no Departamento de Estudos Especializados em Educação, o professor Adir Garcia aponta a necessidade de computadores, falta de oferta de água potável, necessidade de reforma e manutenção dos banheiros e de algumas salas de professores.
O Núcleo de Educação Infantil (NDI), que também faz parte do CED, enfrenta problemas semelhantes nas questões estruturais. A diretora Juliane Mendes Rosa La Banca cita a “estrutura física insuficiente, deteriorada pelo tempo e manutenção insuficiente. Temos diversos espaços com vazamentos e infiltrações, rede elétrica defasada que não permite o uso adequado de ar-condicionado, auditório que era amplamente utilizado está numa condição deplorável que inviabiliza o uso”.
Reclamações nos demais campi
A situação não se restringe ao campus Florianópolis. O professor Jorge Luiz Deolindo Silva, do Departamento de Matemática do campus Blumenau, cita a falta de sala de aulas e dos professores, necessidade de manutenção de computadores, falta de laboratórios e de materiais como canetões, lousas e livros específicos.
Em Araranguá, a professora Solange Silva, da Coordenadoria Especial Interdisciplinar de Tecnologias da Informação e Comunicação, apontou problemas de infraestrutura como nos ventiladores de teto nas salas de aula; ar-condicionado nas salas de trabalho de docentes; e instalações elétricas adequadas em múltiplos espaços; além da necessidade de acessibilidade para cadeirantes.
Em Joinville, o chefe do Departamento de Engenharias da Mobilidade, Eduardo De Carli da Silva, também elenca entre os problemas a insalubridade, falta de equipamentos e de materiais para atividades práticas, e necessidade de maior espaço físico para as aulas práticas.
O que diz a UFSC
A UFSC respondeu aos questionamentos sobre os problemas estruturais relatados pelos centros por meio da Agência de Comunicação (Agecom), a partir de um levantamento feito junto ao secretário de Obras, Manutenção e Ambiente, Paulo Roberto Pinto da Luz, que explica: “A tarefa de atender às necessidades de manutenção e conservação nos prédios da UFSC é desafiadora: apenas no campus de Florianópolis são mais de 430 mil metros quadrados de área construída. Algumas edificações são antigas e usadas continuamente, por isso é comum surgirem problemas no dia a dia, tais como os de manutenção elétrica (falta de energia, troca de lâmpadas, etc.), manutenção hidráulica (falta de água, vazamentos, etc.) e manutenção de sistemas de refrigeração”.
A Agecom complementa que, em alguns casos, a simples manutenção já não consegue atender às necessidades dos prédios e torna-se necessária a realização de grandes reformas, que exigem a elaboração de projetos e investimentos de vultosos recursos para serem executadas. As grandes reformas são definidas em conjunto entre a Secretaria de Obras, Manutenção e Ambiente (Seoma), gabinete do reitor e Secretaria de Planejamento e Orçamento (Seplan), e executadas pelo Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia (DPAE).
No entanto, para que essas obras sejam realizadas, a universidade precisa de recursos. “A questão da manutenção e conservação das edificações na UFSC precisa ser analisada em perspectiva com as dotações orçamentárias. As verbas de capital, que são utilizadas na construção de novos prédios e grandes reformas, por exemplo, alcançaram R$ 56,14 milhões em 2015 e desde então vêm sendo reduzidas drasticamente. O orçamento de 2022 da UFSC reserva apenas R$ 4,66 milhões para despesas de capital, menos de 10% do valor disponibilizado em 2015”.
As demandas de manutenção do dia a dia também exigem grande mobilização. O DMPI recebe em torno de 700 solicitações por mês, a maioria delas relacionadas a manutenções elétricas e hidráulicas. O atendimento segue a ordem de chegada, dando-se prioridade para as áreas de concentração de alunos, como salas de aula e laboratórios. Algumas demandas emergenciais – falta de água, falta de energia, entupimento em banheiros – são priorizadas, para que as atividades nestes ambientes não sofram paralisações. No momento, não existem salas de aula interditadas, afirma a UFSC.
Neste aspecto, a universidade também chama atenção para a questão orçamentária, já que todos os serviços de manutenção do DMPI e da Prefeitura Universitária (PU) são terceirizados. “Esses contratos são bancados por verbas de custeio, que também sofreram cortes sistemáticos nos últimos anos, além de estarem sujeitas a bloqueios e contingenciamentos. A dotação orçamentária para custeio da UFSC, que já foi de R$ 150,10 milhões em 2016, ficou em R$ 132,11 milhões no orçamento atual. Com o recente bloqueio determinado pelo governo federal, no entanto, os recursos efetivamente disponíveis são de R$ 106,59 milhões. Isso num cenário de inflação e reajustes automáticos dos valores dos contratos”.
A UFSC ainda informa que, atualmente, existem projetos de grandes reformas em andamento e em licitação. Alguns deles são:
CED: Reforma do Bloco A do CED, que é um dos prédios mais antigos da UFSC (construído em 1968). O projeto prevê uma reforma geral do prédio, com projetos de requalificação da edificação, de acordo com a demanda atual, e o custo previsto de R$ 8,5 milhões.
CCE: Substituição da cobertura dos blocos de estúdios do CCE. Obra em andamento, com sua conclusão prevista para o mês de agosto.
Karoline Bernardi, Lais Godinho e Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc