No ano passado, sindicato apresentou a intenção de investir recursos no projeto de reforma do prédio, mas ainda aguarda posicionamento da UFSC sobre o assunto. Filiados e filiadas à Apufsc podem participar de pesquisa sobre o uso do espaço pela entidade
Desde o ano passado, a Apufsc-Sindical, o Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos (DCE) e a Associação de Pós-Graduandos da UFSC (APG) dialogam sobre uma proposta de revitalização do Centro de Convivência como espaço cultural, de integração social e política. O prédio tem 43 anos e faz parte da história da instituição, e a proposta de revitalização é construída junto com o Laboratório de Projetos do Departamento de Arquitetura da UFSC.
Em setembro de 2021, um ofício foi enviado ao reitor Ubaldo César Balthazar em que o vice-presidente da Apufsc, Camilo Buss Araújo, explicou: “Há alguns meses a diretoria da Apufsc deu início a um processo de discussão sobre a revitalização do Centro de Convivência da UFSC junto ao DCE, APG e Laboratório de Projetos em Arquitetura e Urbanismo (LabProj). Neste processo, a Apufsc manifestou o desejo de investir recursos próprios em um projeto de reforma desta área por considerá-la um dos espaços mais importantes da universidade e que, após reforma, contribuirá para um incremento considerável na qualidade de vida acadêmica de servidores/as docentes, servidores/as técnicos, estudantes e toda comunidade”.
Em outubro do ano passado, ocorreu essa reunião com a Reitoria, na qual as três entidades manifestaram seu interesse e informaram que chegaram a um acordo para a revitalização e ocupação do edifício, materializado em uma carta de intenções. Deste encontro, saiu o encaminhamento de que a Reitoria faria uma análise jurídica da proposta para verificar se a Apufsc poderia investir recursos financeiros próprios no prédio, que pertence à União, em troca do uso de uma parte da edificação para instalar sua sede dentro do campus.
Sem resposta, um mês depois novo ofício foi enviado, assinado pelas três entidades. Nele, a Apufsc reforçou o interesse de reformar o edifício e instalar-se no prédio, em acordo com DCE e APG. No documento, são apresentadas justificativas e a proposta.
“A revitalização do Centro de Convivência é uma aspiração de toda a comunidade universitária. E, dada a situação de deterioração do edifício e suas instalações, a urgência em sua recuperação é algo necessário“, argumentam as entidades no ofício. “O Centro de Convivência se constitui patrimônio material e imaterial dos movimentos estudantis e docentes, trazendo consigo histórias de lutas e conquistas para diferentes atores da vida universitária. Esse espaço tem origem na própria história da UFSC, em particular com sua vinda para o campus Trindade”, lembra o documento.
A proposta
Considerando o contexto, as justificativas, motivações e demandas da Apufsc, e a convergência de interesses entre as entidades, propõe-se:
- Reformar o edifício Centro de Convivência por meio de recursos advindos da Apufsc-Sindical;
- Instalar a sede da Apufsc em um espaço dentro do Centro de Convivência, como forma de ressarcimento do seu investimento financeiro, por período de tempo, perímetro a ser ocupado e valor a serem estipulados, observando e relacionando aos preços de mercado de aluguel de salas comerciais no entorno do Campus Trindade da UFSC;
- Estabelecer instrumento jurídico adequado para viabilizar a parceria entre UFSC e Apufsc-Sindical, com a anuência de todas as partes envolvidas nesse empreendimento;
- Definir quem e que tipo de ocupação será permitida na edificação para além das entidades estudantis (DCE e APG) e futuramente a Apufsc, a exemplo, Galeria de Arte da UFSC, tipo de serviços à comunidade universitária (bar/lanchonete);
- Estabelecer estatuto condominial sobre as partes de uso em comum, visando o melhor convívio e responsabilidades entre as partes: entidades estudantis, universidade, Apufsc e outros serviços, caso existam;
- Estabelecer um Grupo de Trabalho, envolvendo as partes interessadas e tendo assessoria do LabProj do Departamento de Arquitetura da UFSC.
Sem o parecer jurídico da Reitoria, em fevereiro de 2022 novo ofício foi enviado por Carlos Alberto Marques, presidente da Apufsc-Sindical, solicitando um posicionamento sobre os documentos anteriores. No entanto, também não foi respondido até o momento. Essa resposta é importante para que a Apufsc possa dar encaminhamento a essa questão junto a seus filiados e filiadas, especialmente por meio de uma Assembleia Geral – instância final de decisão em temas como esse.
Centro de Integração Universitária
Diretora-financeira da Apufsc e membro do Grupo de Trabalho que trata do assunto, Gabriela Kaiana Ferreira explica que, com essa proposta, o Centro de Convivência se tornaria um Centro de Integração Universitária, “com a presença de docentes, estudantes e o público que visita a UFSC”. “A revitalização é para toda a comunidade universitária”, complementa.
Para abrir o diálogo sobre a questão também com os filiados e filiadas da Apufsc, a diretoria elaborou uma enquete, que pode ser respondida aqui até o dia 27 de junho de 2022.
Gabriela esclarece que se trata de uma consulta, que não é decisiva, mas ressalta a importância da participação dos filiados e filiadas ao sindicato.
Edifício simbólico
O professor Ricardo Socas, do Laboratório de Projetos do Departamento de Arquitetura da UFSC, está envolvido na elaboração da proposta e ressalta a importância do prédio. “É um edifício simbólico do centro fundacional da UFSC, formado também pelos prédios da Reitoria, do CCE e pela Praça da Cidadania, projetada por Burle Marx. Esse conjunto é bastante importante historicamente”, ressalta o professor, que lembra que o edifício do Centro de Convivência tem características do terceiro ciclo do modernismo.
Do ponto de vista estrutural, Ricardo afirma que a construção foi muito bem feita, com grandes vãos, aberturas para entrada de luz, auditório. Por isso, a reforma é totalmente possível. “Esse prédio tem um potencial gigantesco de uso”, complementa.
O professor Américo Ishida, atualmente aposentado, mas que já coordenou um projeto arquitetônico de revitalização do Centro de Convivência da UFSC, e continua envolvido com a proposta agora apresentada pela Apufsc, defende que o uso deste prédio favorece a permanência estudantil e representa um espaço de integração. “Seria um lugar onde as diferentes ciências se encontram informalmente, um espaço em que a universidade se realiza”, resume.
Importância para o movimento estudantil
A proposta de revitalização do Centro de Convivência feita pela Apufsc foi amplamente discutida pelos estudantes da universidade. Carolina Tucci de Carvalho, coordenadora-geral do DCE, ressalta que o prédio é um espaço histórico de luta do movimento estudantil. “Ter um espaço físico adequado é muito importante porque nos dá autonomia para debates políticos, autonomia financeira, além de estruturas que poderão ser usadas, como auditório, cozinha”, exemplifica.
Atualmente, funcionam no prédio as sedes do DCE e APG e uma agência dos Correios, “mas tem algum nível de insalubridade”, reforça Carolina. “O que o prédio precisa é de revitalização. Quanto mais tempo fica parado, mais se deteriora. Essa proposta da Apufsc atende aos anseios do DCE e seria uma grande conquista. Gerações de estudantes poderão usufruir”.
Julia May Vendrami, da APG, conta que também há bastante interesse dos pós-graduandos. “Para nós é muito importante que seja reformado porque é muito ruim que um prédio tão interessante e importante para o movimento estudantil esteja se deteriorando”, disse Julia, que é engenheira civil, mestranda do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo e tem interesse especial no assunto.
Histórico do Centro de Convivência
Em 2012, a cerimônia de abertura da 11ª Semana de Pesquisa e Extensão (Sepex) da UFSC teve como destaque a reinauguração do Centro de Convivência. “Este prédio é um marco simbólico de todo movimento da universidade em defesa do ensino, pesquisa, extensão e também da luta pelo interesse público”, declarou na ocasião a então reitora Roselane Neckel.
A revitalização de 2.300 metros quadrados teve custo de R$ 90 mil. A obra durou cinco meses e envolveu reparos nas instalações elétricas e na estrutura em geral, além do telhado. As paredes internas foram pintadas, as pichações removidas e os vidros quebrados foram substituídos.
Em 2013, o Centro de Convivência foi batizado em homenagem a Adolfo Luis Dias (1954-1999), primeiro presidente do DCE eleito em 1979, após a reorganização da entidade. O evento, realizado em abril daquele ano, marcou a inauguração da sede do DCE Luís Travassos no Centro de Convivência e o lançamento do Memorial do Movimento Estudantil no espaço.
Em 2014, porém, o Centro de Convivência já não podia abrigar eventos, apresentava danos e estava subutilizado. O processo de desocupação e deterioração do prédio aumentou nos últimos anos. Apesar das restrições, uma parte do prédio, no térreo, é liberada para uso e funcionamento de uma agência dos Correios e da sede do DCE. A UFSC enfrenta escassez de recursos e investimentos, especialmente para obras, situação que impossibilita a reforma.
O Centro de Convivência foi reaberto durante a greve estudantil em 2019 pelos/as próprios/as estudantes. Eles/elas reivindicavam a reapropriação do espaço porque seu uso sempre foi parte do cotidiano da universidade, abrigava cineclubes, reuniões, shows, espaço de estudo e assembleias. Os/as estudantes, dessa maneira, entendiam que a perda do Centro de Convivência também era uma perda para a permanência estudantil. Durante toda a greve, cobraram da Reitoria reforma e manutenção do espaço, o que não ocorreu.
Em março de 2020, a Reitoria estabeleceu um Grupo de Trabalho para “apresentar alternativas para a ocupação/ampliação do espaço do Centro de Convivência”. Foram designados quatro servidores para entregar as propostas em um período de três meses.
Em outubro de 2021, estudantes ligados/as aos centros acadêmicos da Arquitetura e Psicologia (CALA e Calpsi) e à APG realizaram uma intervenção presencial no Centro de Convivência, fazendo uma visita ao segundo andar do prédio. Com cartazes e canetões, produziram desenhos exploratórios do espaço, buscaram compreender as antigas atividades do local e estimular a imaginação sobre as potencialidades de uso futuro.
Imprensa Apufsc