Alexandra Boing aconselha a retomada na obrigatoriedade do uso de máscara em espaços fechados
A professora Alexandra Boing, doutora em Saúde Coletiva, epidemiologista e membro do Observatório Covid-19 BR, tem sido uma voz contundente nas redes sociais quanto à necessidade de “manejar o risco” quanto ao aumento de casos de Covid-19 “com uso de diferentes camadas de proteção”. Conforme o último informe semanal do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat) assinado pelo professor Lauro Mattei, os casos ativos cresceram 127% no mês de maio em relação ao final de abril.
“Em março, em um cenário de melhora, o estado tomou a decisão precipitada de desobrigar o uso de máscaras e com isso era só questão de tempo para o aumento do número de casos ocorrer. Não há nenhuma surpresa. Estamos colhendo o resultado destas decisões equivocadas e que continuam sendo mantidas mesmo na piora do cenário”, critica a professora.
Segundo ela, o cenário de aumento de casos, combinado à chegada de inverno, à lotação de leitos pediátricos e à situação crítica dos leitos para adultos exige retomar a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços fechados e o reforço efetivo nas medidas de prevenção. “Em um momento de menor número de casos, a postura a ser assumida, durante uma pandemia de um vírus que se transmite pelo ar, é aproveitar as oportunidades para fazer o que não foi possível ser feito nos momentos de sobrecarga dos serviços”, indica.
Ela cita alguns exemplos de medidas que deveriam ter sido tomadas, como as buscas ativas pelo serviço de saúde para dose de reforço, a testagem em assintomáticos, a identificação oportuna de casos, o rastreamento de casos e contatos. “Em um momento de piora é preciso agir e não deixar a situação se agravar dia após dia”.
Nesta quinta-feira, a professora postou, em suas redes sociais, um mapa com a taxa de ocupação, por região, extraído do dia anterior. No caso dos leitos adultos, há regiões com 100% de ocupação – caso do Extremo Oeste, por exemplo. Nos leitos pediátricos, quase todas as regiões estão com os leitos totalmente ocupados. “Estamos com 100% da lotação dos leitos pediátricos em SC. Os casos de Covid aumentaram, mas a maior parte das internações são relacionadas a outros vírus respiratórios”, pontua.
De acordo com a professora, com relação à ocupação infantil, uma hipótese para os vírus respiratórios circulantes terem repercussões de maior gravidade pode ser a baixa resistência após o período de isolamento, em que as crianças ficaram em casa, sem ir para as escolas. “Precisamos manter os ambientes ventilados, implementar medidas de monitoramento da qualidade do ar nas escolas, usar máscara de alta eficiência de filtração, distanciamento físico, em caso de sintomas evitar contato com outras pessoas, vacinação contra Covid-19, influenza para crianças, seus pais e todos que convivem com as crianças”, sinaliza.
Máscaras continuam sendo medida eficiente
Há mais de dois anos, especialistas vêm reforçando a importância do uso da máscara como forma de prevenção. “É preciso ter claro que estamos falando de uma doença que se transmitem pelo ar e com alto poder de transmissibilidade. Então, precisamos lançar mão de estratégias como uso de máscaras do tipo PFF2, com alta eficiência de filtração”, explica. Na UFSC, o uso de máscaras de proteção continua sendo obrigatório.
Segundo Alexandra, as máscaras reduzem de forma importante a transmissão – principalmente as máscaras de maior qualidade, como as máscaras do tipo PFF2, que tem maior eficiência de filtração. “Servem inclusive para diminuir a transmissibilidade de outros vírus respiratórios, que aumentam com a chegada das baixas temperaturas e do inverno”. A professora também recomenda que, em relação a grandes eventos, quando há muitas pessoas sem máscara, e não sendo possível manter distanciamento físico, “o melhor é não se colocar em risco, ou seja, o melhor é não participar”.
Outra medida citada pela especialista é o monitoramento da qualidade do ar nos ambientes, considerada estratégia fundamental para diminuir o risco de transmissão. “A medida de CO2 é um proxy de adequação de ventilação e que é fundamental para diminuir da transmissão da Covid- 19, bem como de outras doenças respiratórias”.
Ainda, a testagem permite identificar casos e seus contatos em tempo oportuno, e o distanciamento reduz o risco de transmissão pela maior probabilidade de diluição dos aerossóis. “Para todos que trabalham em ambientes fechados, as medidas são as mesmas para manejar o risco: usar máscara, do tipo PFF2, forçar a ventilação, monitorar o CO2, testagem e distanciamento físico. Para salas de aula também valem as indicações citadas”, alerta.
Fonte: Notícias da UFSC