Até o fim de seu mandato, Bolsonaro ainda nomeará 13 reitores, incluindo os da UFSC e Ufba
O desrespeito do governo Bolsonado às eleições feitas pelas comunidades acadêmicas para as Reitorias e a decisão de não nomear os primeiros colocados nas listas tríplices enviadas ao Ministério da Educação (MEC) preocupa universidades em diferentes partes do país. Em Santa Catarina, a nomeação do novo reitor deve ocorrer em 60 dias. O professor Irineu Manoel de Souza foi o mais votado na consulta pública informal e também pelo Conselho Universiário (CUn).
Na Universidade Federal da Bahia (Ufba), a comunidade acadêmica será ouvida entre os dias 24 e 25 de maio, quando será escolhido o próximo reitor da instituição, que ocupará o cargo no quadriênio 2022-2026. Duas chapas estão oficialmente inscritas, segundo o Metro1.
Dados da Ufba mostram que 3.074 técnicos, 2.748 professores e 48.525 estudantes, entre alunos de pós e de graduação, estão aptos a votar. Cada um dos três grupos tem um voto de mesmo peso para indicar a vontade da comunidade acadêmica sobre a direção da universidade. A votação, no entanto, não representa uma eleição direta, mas uma indicação. A decisão final cabe ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e é aí que tem estado a preocupação de muitos dos envolvidos na consulta que se aproxima, segundo o jornal.
Para escolher, Bolsonaro receberá a lista tríplice, com três conjuntos de candidatos a reitor e vice-reitor, além da indicação daqueles que foram os mais votados pela comunidade. O presidente, contudo, pode nomear livremente qualquer um dos nomes da lista. Há uma tradição de sempre escolher o mais votado pela comunidade acadêmica, mas, desde que se tornou chefe do Executivo, Bolsonaro vem modificando o modelo. Das 50 nomeações já feitas pelo atual presidente, 19 — ou cerca de 40% — não foram direcionadas aos primeiros colocados da lista. A última vez em que a tradição foi desrespeitada foi em 1998, durante o governo de Fernando Henrique (PSDB). Até o fim de seu mandato, Bolsonaro ainda nomeará outros 13 reitores, incluindo UFSC e Ufba, cuja posse ocorrerá no meio deste ano.
A Universidade Federal da Bahia foi citada nominalmente no governo Bolsonaro quando Abraham Weintraub era ministro da Educação. Á época, em 2019, ele classificou a instituição como exemplo de “balbúrdia” e ameaçou contingenciamento de verba.
Em janeiro desse ano, por exemplo, Bolsonaro nomeou como reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG) a candidatada que ocupava o terceiro lugar na lista de três nomes enviada ao MEC. A nomeação causou revolta em meio à comunidade universitária, que acusa o governo federal de violar, mais uma vez, a autonomia universitária garantida pela Constituição Federal.
Reitores escolhidos por Bolsonaro deixam entidade e criam associação paralela
Após o presidente Jair Bolsonaro contrariar a tradição e nomear 18 reitores que não venceram as consultas realizadas nas universidades federais, houve cisões entre alguns nomes escolhidos e as instituições. As informações são do Jornal Extra. Em consequência, cinco reitorias deixaram a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), entidade que, entre outras ações, negocia com o governo o orçamento e a ampliação de vagas da rede.
O anúncio da saída foi feito no fim de julho de 2021, em uma carta enviada por José Cândido de Albuquerque, reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), ao então presidente da Andifes, Edward Madureira, reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Também estão citadas nos documentos, como signatárias, as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), de Itajubá (Unifei) e a Rural do Semi-Árido (Ufersa). Todas tiveram reitores nomeados por Bolsonaro que não venceram a consulta em suas instituições.
Os reitores alegaram, na carta, que tentaram se aproximar da entidade, mas não se sentiram “aceitos e acolhidos, quer pelo fato de que não fomos os ‘primeiros da lista tríplice’, como também por não nos portarmos, publicamente, hostis ao atual governo federal”.
Em fevereiro de 2022, reitores nomeados pelo presidente Jair Bolsonaro sem vencer o tradicional crivo de eleições internas nas comunidades acadêmicas criaram a Associação dos Reitores das Universidades do Brasil (Afebras), com a participação de seis instituições.
Imprensa Apufsc