Esta semana teve anúncio de greve por servidores do Banco Central e paralisações no Tesouro Nacional, lembra o Estadão
A obstinação do presidente Jair Bolsonaro em conceder reajustes para policiais federais em ano eleitoral disparou a maior mobilização de servidores dos dez últimos anos, a primeira do atual governo. Indignadas com a preferência de Bolsonaro por uma categoria que lhe é favorável no jogo das urnas e com salários congelados há ao menos três anos em meio à inflação nas alturas, diversas carreiras do funcionalismo público têm paralisado as atividades, com impactos em serviços e divulgações importantes. No momento, não há disposição para a unificação do movimento, como foi na última grande greve, em 2012.
No Orçamento, há R$ 1,7 bilhão reservados para aumentos salariais, inicialmente colocados para atender aos pleitos da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal. Nesta semana, o movimento dos servidores, iniciado na virada do ano, esquentou, com o anúncio de greve por servidores do Banco Central e paralisações no Tesouro Nacional, além de manifestações gerais do Fórum de Entidades dos Servidores Federais (Fonasefe) e no Fórum de Carreira Típicas do Estado (Fonacate).
Nos corredores do BC, a mobilização já é comparada às greves de 2005 e 2007, que duraram cerca de 50 dias, e muitos consideram que o movimento de entrega de cargos nunca foi tão forte. Segundo o Sindicato Nacional de Funcionários do BC, metade dos mil comissionados já abandonou o posto. Os servidores aprovaram greve por período indeterminado a partir de sexta-feira (1º) e pedem reestruturação de carreira e a recomposição salarial de 26,3%.
Na quarta, a categoria subiu o tom e avisou que, se o governo conceder aumento apenas para os policiais, a paralisação será mais severa, com risco de interrupção parcial ou total do Pix, das operações de mercado aberto, de divulgações como o Boletim Focus e de taxas importantes para o mercado financeiro. Amanhã, os sindicatos devem se reunir com a Diretoria de Administração da autarquia para definir o funcionamento dos serviços essenciais durante o movimento.
Já os servidores do Tesouro Nacional decidiram realizar paralisações na sexta-feira, 1º de abril, e na próxima terça, 5. A categoria também deve votar na próxima terça a possibilidade de greve por tempo indeterminado. Os servidores querem um reajuste mínimo de 19,9% para repor as perdas inflacionárias desde 2019.
A última grande mobilização dos servidores do Tesouro Nacional ocorreu em 2016, quando os servidores exigiram do governo Temer a equiparação com os ganhos dos auditores fiscais da Receita Federal. No fim de agosto daquele ano, 95 dos 123 gerentes do Tesouro entregaram seus cargos e o órgão foi obrigado inclusive a alterar os horários de funcionamento do Tesouro Direto.
Em outra grande greve do órgão, em 2008, os servidores do Tesouro suspenderam a análise dos pedidos de aval para crédito dos governos regionais e avisaram que iriam dificultar os leilões de títulos públicos, mas a manutenção em trabalho de pelo menos 30% dos funcionários garantiu a realização das operações.
As pressões por reajuste do funcionalismo chegaram ao Tribunal de Contas da União (TCU). Em comunicado apresentado na sessão plenária desta quarta-feira, 30, a presidente Ana Arraes afirmou que cobrou à Casa Civil e ao Ministério da Economia a reestruturação das carreiras dos servidores do Tribunal, caso conceda reajuste a outras categorias.
“Na hipótese de haver recomposição remuneratória de algumas carreiras de estado sejam igualmente completados os servidores deste tribunal com os mesmos porcentuais”, afirmou a presidente Ana Arraes.
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