*Por Raul Valentim da Silva
Um conceituado matemático brasileiro, que proferiu a aula magna da UFSC há alguns anos atrás, afirmou que podem existir muitas matemáticas diferentes, dependendo da lógica adotada. Perguntei para ele então por que adotamos uma única matemática. Lembro apenas que sua resposta foi evasiva. Outro matemático brasileiro famoso e internacionalmente premiado escreveu que estava convencido de que a matemática tinha sido descoberta.
Este preâmbulo serve para colocar a hipótese racional de que o universo deve ter começado pela matemática, devidamente precedida por sua própria lógica. Antes de surgir a energia no Big Bang, com suas múltiplas formas, e a matéria consequente, certamente foi criada a física, obviamente amparada na matemática. A lógica humana, vinculada a nossa filosofia, necessariamente racional, depara-se com muitos questionamentos neste contexto.
A concentração de toda a energia do universo, incluindo aquela que foi transformada em matéria e os 95% que ainda não podem ser detectados, num ponto muito pequeno no Big Bang é um portentoso mistério lógico. Os desdobramentos da física gerando modelos diferenciados e matematicamente incompatíveis é outro prodigioso desafio lógico.
O aparecimento da matéria no universo envolve múltiplos problemas lógicos intrincados. Para formar um átomo de hidrogênio foram criados 12 tipos de partículas elementares. Dois tipos de interações fundamentais, essenciais para a existência dos átomos, foram introduzidos. O bóson de Higgs é uma misteriosa partícula que, na teoria, viabiliza a existência da massa.
Além das referidas interações fundamentais, que viabilizam o mundo atômico, foram criadas, no universo, duas outras interações essenciais para a existência e preservação da vida. Uma delas, a gravidade, gera um vínculo dinâmico com o Sol permitindo a chegada da energia solar até a Terra, utilizando a outra interação; as ondas eletromagnéticas.
A física e a matemática, com sua imprescindível lógica, não foram suficientes para viabilizar a vida na Terra. Foi necessário gerar substâncias químicas, como a água e o DNA. Uma imensurável quantidade de átomos de hidrogênio foi criada e utilizada para, sob a ação da gravidade, gerar, ao longo de toda a existência do universo, uma infinidade de estrelas com dimensões suficientes para produzir todos os elementos químicos e, consequentemente, criar a própria química.
A sustentabilidade da vida, desde a sua criação, depende não apenas da disponibilidade de substâncias químicas apropriadas. Uma pequena semente de goiabeira é capaz de gerar uma nova planta porque detém energia suficiente para germinar. Para crescer, a goiabeira precisa absorver, através de suas folhas, a energia solar suficiente para possibilitar a ação das suas raízes, absorvendo minerais, e a geração de flores, frutos e sementes que serão essenciais para a sua reprodução.
Existe na Terra uma natureza, decorrente do sistema cósmico, que mostra organização e inúmeras funcionalidades, tanto em termos biológicos como ecológicos, que pode ser considerada, pela lógica humana, comprovadamente sábia. Tudo que acontece com os seres vivos na Terra tem sua base nos mundos quântico e genético. Para que tudo isto ocorra, torna-se logicamente imperiosa a existência de um Ente ou Entidade, suficientemente inteligente, que seja realmente o verdadeiro autor de toda esta criação.
A produção do leite materno, concomitante com o nascimento, as propriedades nutritivas especiais deste alimento, a passagem de anticorpos de imunização da mãe para os filhos e a própria existência das mamas, especialmente localizadas, são algumas constatações que evidenciam, de forma lógica e insofismável, uma indispensável intervenção inteligente e proposital na geração dos mamíferos para propiciar a sobrevivência de múltiplas espécies de seres vivos que inclui os humanos. Todo este processo sistemicamente organizado, que serve para viabilizar a continuidade da vida na Terra, está devidamente definido no nível genético, sendo executado somente em ambientes quânticos.
A água é essencial para a existência e preservação da vida na Terra, tanto na forma de água doce como salgada. Felizmente existem condições para que a sua forma líquida esteja disponível para utilização pelos seres vivos. Neste contexto, cabe perguntar de onde veio esta preciosidade. De alguma forma foi necessário juntar hidrogênio e oxigênio para formar cada uma de suas moléculas utilizando muita energia. A imensa quantidade de água disponível na Terra e os mecanismos de distribuição desta substância vital podem perfeitamente ser associados ao propósito maior de viabilizar a vida na Terra.
Especialmente a partir do século XXVI, renomados pensadores e cientistas adotaram uma postura filosófica, denominada Deísmo, que reconhecia, através do raciocínio lógico sobre observações da natureza, a existência de uma inteligência superior criadora do universo. Entre os deístas estavam Voltaire, Rousseau, Da Vinci, Benjamin Franklin, Boltzmann, Watt, Rutherford, Planck, Gauss, Leibniz, Mendeleev e os agraciados com prêmios Nobel, Max Born e Wolfgang Pauli.
Os deístas rejeitavam as religiões vinculadas com revelações, normalmente descritas em livros sagrados. Entre eles haviam divergências sobre temas como a possibilidade de existência de vida espiritual, mas a existência de um “Deus” pode naturalmente viabilizar crenças como a vida após a morte. Tais possibilidades geram esperanças de vivências futuras com familiares e amigos, muito bem aproveitadas por religiosos.
Resta acrescentar que é totalmente impossível provar cientificamente a inexistência de um Verdadeiro Autor do universo e da vida diversificada na Terra.
*Raul Valentim da Silva – Professor aposentado