Rosa Maria, de 14 anos, é integrante do projeto O Caça Asteroides MCTI
O céu não foi o limite para a obstinação da jovem Rosa Maria Miranda. Aos 14 anos, a aluna do nono ano do Ensino Fundamental do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é apaixonada por Astronomia – ciência que estuda os corpos celestes do Universo – e pode ter descoberto sete novos asteroides.
Rosa Maria é integrante do projeto O Caça Asteroides MCTI, programa em parceria entre o Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações e o International Astronomical Search Collaboration (IASC) da Nasa, a agência espacial norte-americana. Com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a iniciativa tem como propósito popularizar a ciência entre cidadãos voluntários.
Manezinha natural do Campeche, a estudante começou a desbravar o espaço faz alguns anos. O pai e a mãe, que é técnica em Meteorologia e aluna do curso de Geografia na UFSC, foram os maiores incentivadores. “Desde criança sempre fui muito ligada à ciência. Comecei a fazer muitos cursos e, inclusive, um dos primeiros foi um de Astronomia e Astronáutica da UFSC, um curso de extensão. Depois, fiz Astrofísica Geral e passei a me envolver em um monte de projetos”, lembra.
Um dos pontos de destaque do seu precoce currículo é a participação na 1ª Olimpíada Brasileira de Satélites, a Obsat. Junto com outros três alunos do Colégio de Aplicação – Isabella de Freitas Gonçalves, João Vitor da Rosa e Marcos Inácio Bueno – e sob a tutoria do graduando de Física João Batista Vieira Sousa, Rosa Maria formou o time Sagittarius A, que elaborou para a competição o projeto de um nanossatélite de monitoramento dos níveis de gás carbônico (CO2) na estratosfera localizada acima das florestas de mangue do país.
O projeto foi selecionado em segundo lugar na categoria de Ensino Fundamental II, entre seis aprovados em todo o estado de Santa Catarina, e está em fase de execução. A proposta é desenvolver e testar um satélite CanSat (modelo cilíndrico com o tamanho aproximado de uma lata de refrigerante). Se os testes obtiverem êxito, o satélite será lançado ao espaço por um balão estratosférico e os dados coletados pelo serão analisados para conclusão da pesquisa.
“Ficamos sabendo de última hora do projeto das Olimpíadas, então a gente teve que criá-lo em uma semana. Foi bem corrido, cogitamos várias ideias… Mas acabamos chegando a uma solução muito legal. Estou bem orgulhosa, porque está ligado ao meio ambiente e estamos construindo algo para colaborar com a preservação. Servirá para comprovar que este ecossistema precisa sim ser preservado”, afirma Rosa Maria, que no momento dedica-se a um curso de programação, necessário para o desenvolvimento do satélite.
A confirmação da descoberta
Nos últimos anos, a aluna do Aplicação tem se especializado no tema através de cursos e seminários do MCTI, concluiu um ciclo de palestras na Agência Espacial Brasileira (AEB) e, além da Obsat, participou também das Olimpíadas Brasileiras de Física e Matemática. Neste intervalo, conheceu o projeto O Caça Asteroides pelas mídias sociais e foi convidada por um amigo a integrar a iniciativa.
O Caça Asteroides é realizado por meio de uma plataforma da Nasa que fornece imagens captadas por um telescópio pertencente à Universidade do Havaí. Essas imagens são distribuídas às equipes cadastradas e analisadas pelo software Astrometrica. Os participantes recebem treinamento on-line para sua realização e devem identificar e enviar os relatórios dos asteroides ou objetos próximos à Terra.
Rosa Maria descobriu, até o momento, sete possíveis asteroides. Essa detecção preliminar é catalogada somente após uma análise minuciosa. Os relatórios da estudante serão revisados e validados pelo IASC e, então, submetidos ao Minor Planet Center (MPC), em Harvard, nos Estados Unidos. O MPC é reconhecido pela União Astronômica Internacional (IAU), situada em Paris, na França, como o repositório oficial mundial de dados sobre asteroides.
Com o tempo, se as detecções de Rosa Maria forem confirmadas por observações adicionais feitas por grandes pesquisas do céu (por exemplo, Pan-STARRS, Catalina Sky Survey), elas podem se tornar descobertas e ser numeradas pela IAU, entidade que faz o anúncio oficial quando há uma comprovação. Todo este processo, desde a primeira detecção até o status de descoberta, leva de 6 a 10 anos. E, uma vez reconhecida, o ‘descobridor’ do asteroide pode sugerir um nome de batismo à IAU.
“Eu adoro esse assunto e quero muito seguir profissionalmente em uma área ligada ao setor aeroespacial. Acho que [esta área] pode trazer várias contribuições para sociedade. Inicialmente, penso em cursar Astrofísica, fazer intercâmbios, elaborar projetos ligados a esse tema, parcerias com observatórios. E, para faculdade, meu sonho é o MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts]”, revela Rosa, citando a instituição americana que acumula 97 prêmios Nobel e 41 egressos astronautas no currículo. “Eu acho que, se a gente se dedica, tudo é possível”, finaliza.
Fonte: Notícias da UFSC