Por Raul Valentim da Silva*
A árvore que produz peras nasce de uma pequena semente que sabe quase tudo a respeito das pereiras de sua espécie e que também sabe ensinar à filha tudo que é necessário para assegurar sua sobrevivência. Como são fixas em determinado local, essas plantas precisam saber como interagir com ambiente circundante e com animais que podem se movimentar para conseguir sobreviver e se reproduzir.
A semente da pereira sabe como verificar se a germinação pode ser bem sucedida. A umidade, a temperatura, a disponibilidade de oxigênio e a claridade da luz solar são fatores importantes para o sucesso deste processo. A semente contém o embrião, água, óleo, carboidratos e substâncias químicas apropriadas. A casca externa protege a vitalidade da semente, permitindo que ela não seja comprometida quando a pera é consumida por animais.
Possuindo energia suficiente, a semente germina rompendo sua casca e lançando raízes e folhas. As raízes da pereira sabem que precisam absorver água e substâncias minerais que contenham os elementos químicos necessários para o desenvolvimento do caule e das folhas. No devido tempo, a pereira também vai absorver os insumos que vai precisar para gerar flores, frutos e sementes.
As folhas da pereira conseguem absorver energia da luz solar, através da clorofila. Conseguem também absorver carbono da atmosfera, liberando o oxigênio que vai permitir a sobrevivência de animais que são essenciais para sua sobrevivência. Com a energia absorvida e os nutrientes químicos apropriados, a pereira pode crescer e se preparar para ativar, no devido tempo, o processo de reprodução.
A pereira sabe implantar canais de circulação de substâncias químicas e sabe gerar um processo dinâmico capaz suprir as necessidades de sustentação da vida e de reprodução. Continuamente seus vários órgãos desenvolvem atividades que são sistemicamente integradas.
Sabemos que, mesmo dentro de cada espécie, a diversidade é uma forma eficaz de assegurar a sua preservação. Estamos convivendo com a diversificação dos vírus da gripe e da Covid que conseguem sobreviver mesmo quando submetidos ao imenso esforço da humanidade buscando sua erradicação.
Para promover essa diversificação a pereira conta com o auxílio de animais polinizadores, como as abelhas. Ela utiliza suas flores como atrativo para esta ajuda externa. Oferece um saboroso néctar e apresenta cores e aromas que propiciam sua localização.
As flores mostram simetrias que exigem uma boa utilização da matemática. As substâncias oferecidas revelam seus bons conhecimentos de química. Os canais de circulação da seiva utilizam saberes da física. Todos estes conhecimentos estão devidamente inseridos em cada uma das células da pereira, que pode ser reproduzida por enxertia.
A pereira sabe também fazer frutos saborosos. Quando estão maduros, com as sementes já prontas para reprodução, as peras mudam de cor e caem no chão, facilitando seu consumo pelos animais que atuam como disseminadores das sementes, espalhando as novas pereiras e aumentado suas chances de germinação bem sucedida.
A pereira presenteia seus disseminadores com múltiplas substâncias nutritivas: fibras, açúcar, colina, vitaminas (A, B1, B2, B3 e C) e minerais (Ca, Mg, P, K, Fe). Sabe produzir também vitaminas E, K, B5, B6, e B9. A casca protetora da pera serve para reter água que torna sua polpa mais macia. Os animais beneficiados vivem mais e assim ajudam por mais tempo a preservar esta planta.
O mais importante é que tudo que a pereira faz está devidamente codificado nas informações genéticas contidas em suas células. A germinação de suas sementes, o crescimento da planta, as interações com animais, a produção de flores e frutos são eventos devidamente programados com propósitos bem definidos.
Cabe acrescentar que os humanos já sabem que toda a parte física dos referidos processos realmente ocorre no nível atômico, regido pela mecânica quântica e envolvendo elétrons e outras partículas que formam cada um dos átomos utilizados. A pereira apresenta cerca de 30 espécies. É inacreditável que um ser vivo, destituído de cérebro, seja dotado de tantas e tão complexas competências.
Certamente a teoria da evolução, hoje lastreada apenas no acaso de mutações genéticas, é muito pobre para abarcar toda esta complexa rede de conhecimentos inatos da pereira e de todas as demais plantas (cerca de 250 mil espécies) que produzem diferentes frutos com suas respectivas sementes.
*Raul Valentim da Silva – Professor aposentado