O tributo foi uma iniciativa de três pesquisadoras do Centro de Educação (CED)
Na última sexta-feira (10), o Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (CUn/UFSC) aprovou, por unanimidade, a concessão do título de Doutora Honoris Causa (in memorian) à professora Antonieta de Barros (1901-1952), por sua importância para a educação estadual e nacional. A homenagem foi uma iniciativa de três pesquisadoras do Centro de Educação (CED) – Joana Célia dos Passos, Eliane Debus e Patrícia de Moraes Lima –, representantes dos seguintes núcleos de pesquisa: Alteritas: diferença, arte e educação, Literalise e Nuvic: estudos sobre as violências.
Na proposta, que também teve a participação da Associação de Educadores Negras, Negres e Negros de Santa Catarina (AENSC), as docentes argumentam que Antonieta de Barros foi “uma das mulheres mais importantes da história de Santa Catarina e do país”. Desde a infância e juventude, conforme descrevem, a homenageada soube “o que significava ser mulher negra e pobre, num estado do sul do Brasil, majoritariamente branco e com forte adesão à eugenia como política social”.
Antonieta de Barros, natural de Florianópolis, foi responsável por criar, nas primeiras décadas do século XX, um curso de alfabetização destinado a comunidades pobres e marginalizadas. Ela era também jornalista e foi no exercício desse ofício que se tornou conhecida como “Maria da Ilha”, pseudônimo com o qual assinava suas crônicas nos periódicos locais. Dirigiu os jornais “A Semana” e “Vida Ilhoa”, nos quais defendia a participação política das mulheres e criticava o racismo.
Na obra “Antonieta de Barros: professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil” (2021), a autora Jeruse Romão descreve seu protagonismo político, destacando o fato de ela ter sido a primeira mulher negra a ser eleita deputada estadual em Santa Catarina, além de também ter sido a primeira mulher a presidir a Assembleia Legislativa do estado. Além de defender amplamente a democratização da educação e a escola pública, Antonieta de Barros também atuou na organização política de professores(as) e dirigiu o Instituto Estadual de Educação.
“Ela tinha como uma de suas principais pautas políticas o poder revolucionário e libertador da educação para todas(os) e, com isso, contribuiu significativamente para o enfrentamento do analfabetismo em Santa Catarina”, afirma Carolina Orquiza Cherfem, professora do curso de licenciatura em Educação do Campo e relatora do parecer favorável à concessão do título.
Cherfem destacou “a relevância social e política da história de uma profissional da educação e da política, mulher negra, que defendeu a educação, os direitos iguais para as mulheres e negros(as), como professora, como jornalista e como deputada estadual”. Para a docente, “trata-se de uma profissional de extrema competência, que, com seu espírito de justiça, contribuiu para revelar as desigualdades e opressões sofridas pelos pobres, por meio de ações educativas e políticas concretas. Ela revelou a resistência e luta cotidiana, a criatividade e ousadia do povo negro. A importância histórica de Antonieta de Barros para Santa Catarina e para o país certamente justifica esta iniciativa de reconhecimento, como mais uma ação para tirá-la da invisibilidade”.
O professor Ademir Valdir dos Santos, do Departamento de Estudos Especializados em Educação, também ressaltou “a importância da iniciativa”, por “trazer, para as memórias coletivas e individuais, os feitos esquecidos, desprezados e invisibilizados pelos jogos de poder e opressão”. O pesquisador afirma que “temos a obrigação de fazer com que o nome e a atividade humana de Antonieta de Barros seja história, faça história e tenha história. É essencial que as contribuições de Antonieta de Barros à educação, à cultura e à humanidade sejam destacadas e reverenciadas”.
Fonte: Notícias da UFSC