Em 31 de agosto de 2021, circulou na internet postagem do Deputado Jessé Lopes, ao lado do ex-marido e algoz da Maria da Penha.
Em 1983, Maria da Penha foi vítima de violência doméstica, sofrendo duas tentativas de feminicídio. Na primeira, levou um tiro nas costas enquanto dormia e, na segunda,quatro meses depois, foi colocada em cárcere privado e sofreu tentativa de eletrocussão durante o banho. Maria da Penha sobreviveu, ficando paraplégica em decorrência do tiro. Sua batalha para o reconhecimento dos episódios de violência e toda a repercussão, inclusive internacional – apesar da longa demora e ineficácia do Judiciário -, permitiu o surgimento da LEI MARIA DA PENHA, em 2006. A lei, como resposta a esses horríveis episódios, tem como objetivo acolher e instruir as demais vítimas deste país a combater os casos de violência doméstica. Vale destacar que o feminicídio é o ato final de boa parte dos casos de violência no âmbito doméstico .
O agressor de Maria da Penha foi punido apenas depois de 19 anos de julgamento, ficando dois anos em regime fechado. Ao receber esse agressor, e dizer que ouviu o lado da história do criminoso, e que esta suposta versão é “intrigante”, o deputado Jessé Lopes, mais uma vez, não esconde o lado escuso de suas batalhas. O mesmo deputado já defendeu, inclusive, a máxima de que “assédio” é um direito das mulheres no carnaval e que isso seria lisonjeiro a elas.
A Apufsc repudia tais colocações do deputado e a própria visita ao algoz de Maria da Penha. No Brasil, só no ano de 2021, temos registrado oficialmente 1338 mulheres vítimas de feminicídio até o momento. O estado de Santa Catarina ocupa o 11º lugar no ranking desse tipo de violência, conforme os registros oficiais de feminicídio das Secretarias de Segurança Pública dos estados e do DF. É desrespeitoso e um desserviço sugerir que uma versão da história contada por quem praticou a violência, frente aos fatos históricos, seja considerada “no mínimo intrigante”.
Colocações como essa de culpabilização da vítima fundamentam novas violências e reforçam uma ideia arraigada de que os relatos de uma mulher que sofreu com ações violentas podem ser fantasiosos, exagerados, e que o lado dos homens “não é devidamente ouvido”. Não cabe mais à sociedade brasileira, que busca erradicar a violência doméstica, por tanto tempo banalizada, aceitar com normalidade os comportamentos do tal deputado, que deveria se ocupar de legislar em prol do bem-estar da sociedade catarinense. E no entanto, ele reiteradamente faz das pautas de interesse das mulheres alvo de seus atos machistas.