Baixa taxa de brasileiros com diploma é mazela, à diferença do que pensa o MEC, destaca editorial da Folha de S. Paulo
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, aparece pouco. Num país em que a pandemia vai deixando um enorme rastro de destruição educacional, o responsável pela área deveria estar anunciando programas de recuperação, coordenando esforços das secretarias regionais e se desdobrando para conseguir recursos orçamentários.
Ribeiro não faz nada disso; quando ganha as manchetes, é por ter dito bobagem. À TV Brasil, o ministro declarou que a universidade deveria ser reservada a poucos —e que a ênfase deveria recair sobre o ensino profissionalizante.
Ora, um dos problemas graves do país é a baixa proporção de pessoas com educação superior. Entre os brasileiros de 25 a 34 anos, apenas 21% concluíram um curso universitário. Trata-se taxa inferior à de países da região como México (24%), Colômbia (30%), Chile (34%) e Argentina (40%).
Estamos a anos-luz da das nações campeãs, como Coreia do Sul (70%), Canadá (63%) Rússia e Japão (ambos com 62%).
Num mundo em que o saber é cada vez mais importante, a capacidade da população de adquirir, utilizar e produzir conhecimento se torna um grande diferencial entre os países, que muitas vezes competem por investimentos.
Até aqui se fala apenas de quantidades. Se introduzirmos a questão da qualidade na equação, a situação do Brasil é ainda pior. Uma prévia disso se vê nos péssimos resultados obtidos no Pisa, a prova internacional que compara o desempenho de alunos do ensino médio.
Para não dizer que o ministro Ribeiro está inteiramente equivocado, o ensino profissionalizante é de fato um veio interessante a explorar. Mais brasileiros poderiam beneficiar-se de uma maior oferta de cursos voltados à formação técnica.
Mesmo o desbragado elitismo de Ribeiro pode ter seu lugar. Poder público e iniciativa privada não fariam mal se investissem em programas específicos destinados a recrutar os melhores professores, pesquisadores e alunos para formar grupos que possam competir com seus equivalentes nas melhores instituições do planeta.
Quaisquer que sejam os caminhos, o fato é que hoje o país precisa de mais jovens nas universidades, não de menos —o que passa por um ensino público de melhor qualidade, em especial no nível médio. As afirmações do ministro, infelizmente, não autorizam otimismo quanto a políticas destinadas a atingir esse objetivo.
Fonte: Folha de S. Paulo