Na segunda-feira (09) o prefeito de Criciúma gravou um vídeo em frente à UFSC sugerindo a abertura em 24h
A Universidade Federal de Santa Catarina divulgou nesta quarta-feira (10), um ofício direcionado ao prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), que fez declarações mentirosas no início da semana, afirmando que a universidade não está funcionando e deveria voltar imediatamente ao ensino presencial.
No ofício, o reitor Ubaldo Cezar Baltazar cita os projetos de desenvolvimento que a universidade desenvolve na região de Criciúma. “Projetos desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida, a indústria, a educação, resultando em benefícios às populações”.
Ubaldo também ressalta que as palavras pronunciadas pelo prefeito não agridem ele como reitor, mas uma comunidade universitária de mais de 50 mil pessoas. “Suas palavras ofendem milhares de jovens que têm, na UFSC, a única oportunidade de acesso ao ensino superior, muitos deles, certamente, oriundos da cidade que o senhor administra”.
As aulas nos campi da UFSC foram suspensas em março de 2020, por conta da pandemia da Covid-19. Contudo, as aulas seguem de maneira remota promovendo aos alunos a oportunidade de continuar em um ensino público e de qualidade. O reitor da universidade pede que Salvaro não ignore as milhares de vítimas da doença e que reveja a atitude de seu discurso.
Confira o Ofício na íntegra:
Senhor Prefeito,
- Tendo tomado conhecimento, na tarde desta segunda-feira, dia 9 de agosto de 2021, de vídeo publicado por Jornal de circulação regional em Santa Catarina, disponível no link https://ndmais.com.br/educacao/em-video-prefeito-sugere-fechamento-de-universidadesfederais-caso-nao-retomem-atividades/, surpreendeu-nos a sua manifestação ao afirmar que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está “parada”, “não funcionando”, contestando a qualidade do ensino e, o que julgamos mais grave, senhor prefeito, a menção de que se deva “fechar de forma definitiva” todas as universidades públicas, incluindo aí a UFSC.
- Em nome das relações institucionais saudáveis e harmônicas, as quais defendemos entre todos os entes do Estado, ainda que possamos, como gestores públicos, discordar uns dos outros, é necessário e fundamental que saibamos conviver, em uma Democracia, na base do diálogo e do convívio respeitoso e equilibrado.
- Sua fala, senhor prefeito, revela, no mínimo, o desconhecimento das
contribuições que as universidades federais têm demonstrado ao logo de sua história e, obviamente, um raso preconceito sobre o papel presente e essencial da Ciência, da Pesquisa e de nossas instituições no desenvolvimento local e nacional e no combate à pandemia. - Para ficar apenas na sua região, o senhor possivelmente conhece os inúmeros projetos desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida, a indústria, a educação, resultando em benefícios às populações não apenas de Criciúma, mas à região Sul de Santa Catarina como um todo.
- Suas palavras não nos abalam como reitor. Como qualquer gestor público responsável e cioso de seu papel, correspondemos aos votos que a comunidade universitária em nós depositou, atitude que, julgamos, também lhe movam. Suas palavras agridem, isso sim, uma comunidade de mais de 50 mil pessoas, que extrapola um único município e alcança, além de Florianópolis, também Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville. Suas palavras ofendem milhares de jovens que têm, na UFSC, a única oportunidade de acesso ao ensino superior, muitos deles, certamente, oriundos da cidade que o senhor administra, e quantos outros tantos egressos, formados com a qualidade da UFSC e que hoje, certamente, desenvolvem atividades profissionais em inúmeras áreas no seu município. E isso, prefeito, nos entristece.
- Fechar as universidades públicas é privar milhares de brasileiros e brasileiras do acesso ao ensino superior público de altíssima qualidade; fechar as Universidades Públicas é pretender calar o conhecimento, reprimir o pensamento crítico, sufocar gerações de cidadãos e cidadãs que têm, nessas instituições, a oportunidade única de ascender socialmente e de se desenvolver como seres humanos.
- E isso, senhor prefeito, consideramos vergonhoso! Negligenciar tamanha
relevância não deveria ser atitude de um gestor público, que tem sob seu comando uma cidade inteira, do porte e da importância de Criciúma. Ou o senhor também defende o fechamento da saúde pública, dos serviços públicos, da educação pública? E em nome de que lógica o faz? Fazendo pouco caso da tragédia da pandemia? Ignorando as milhares de vítimas do descaso e do descompromisso de outros gestores públicos que, conforme se vê, voltaram seus esforços não para prover a nação da proteção da ciência, mas para promover a ignorância e o obscurantismo? - Esperamos, honestamente, que sua atitude seja devidamente reparada e que o senhor próprio reveja sua fala. Se não em respeito à UFSC e às pessoas que a constroem há 60 anos e continuam por fortalecê-la, que o faça em respeito às vidas perdidas, fruto de uma política desastrosa de alguns (poucos) mandatários, que preferem minimizar a catástrofe, com
manifestações levianas e intimidações irresponsáveis. - Sugerimos que repense seu discurso, senhor prefeito!