Acesso à principal plataforma de currículos de pesquisadores do país, o CNPQ, estava fora do ar desde 23 de julho e foi parcialmente restabelecido nesta terça-feira. Orçamento do órgão é o menor em 21 anos, destaca El País
A pós-doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), Gabriela Ferreira, 38, pesquisa gênero na ciência, tecnologia e informação. Uma das principais fontes de pesquisa para ela é a base de dados mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para incentivo à pesquisa no Brasil. Por isso, quando soube que parte das informações da plataforma estava fora do ar, sua primeira reação foi um susto. “Primeiro ficamos incrédulos”, diz ela. “Nossa principal fonte de pesquisa é a plataforma Lattes [repositório que abriga quase todos os currículos de pesquisadores do Brasil]. Além disso, o Conselho realiza um censo, que também utilizamos muito”, explica. “Por sorte eu havia baixado tudo na semana passada, antes de sair do ar”.
Gabriela e outros milhares de cientistas do país estão desde o final da tarde de 23 de julho sem acesso pleno a seu principal documento de identidade, como ela mesma define. As plataformas Lattes, que incluem o Currículo Lattes, Diretório de Grupos de Pesquisa, Diretório de Instituições e Extrator Lattes, além da plataforma Carlos Chagas estão fora dor ar. Nesta terça, voltaram parcialmente, mas chegar aos currículos ainda é difícil. O apagão de dados, como está sendo chamado pelos pesquisadores, ocorre na esteira da falta de prestígio com que o Governo de Jair Bolsonaro vem tratando a ciência no país. Levantamento realizado pelo jornal O Globo no final de maio mostrou que o Orçamento do CNPq deste ano é o menor desde o ano 2000: 1,21 bilhão de reais, quase metade do montante destinado em 2000, quando foram destinados 2,3 bilhões de reais.
Embora os dados estejam suspensos oficialmente há duas semanas, antes disso alguns pesquisadores relatam que tentaram acessar a plataforma Lattes e receberam uma mensagem requisitando que a senha de acesso fosse mudada. Isso porque, segundo a mensagem, teria ocorrido uma “tentativa de vazamento de dados”. Ainda não é possível relacionar o apagão de agora a esse fato. Procurado, o MCTI não respondeu a esse questionamento.
Em maio do ano passado, o MCTI assinou um acordo com a empresa norte-americana de tecnologia Cisco, “para impulsionar o desenvolvimento de habilidades e transformação digital no Brasil”. Dentre as ações do acordo, está a criação de uma “plataforma de monitoramento do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”. Segundo consta no site do Ministério, a plataforma visa “dar suporte ao monitoramento, gestão e definição de políticas públicas no país, através da consolidação de informações sobre os diversos programas, ações, iniciativas e atores, públicos e privados, envolvidos com a pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação no Brasil”.
Questionado, o ministério não respondeu, até o fechamento desta reportagem, se o que está acontecendo agora tem a ver com essa mudança de plataforma. A reportagem também tentou contato com a Cisco, que não respondeu às perguntas enviadas. Mas diante das dúvidas, o deputado Danilo Cabral (PSB-PE) protocolou na Câmara dos Deputados um requerimento de informação com 10 questionamentos sobre esse apagão. Um deles é sobre o possível vazamento de dados relatado por alguns pesquisadores. Outra pergunta é se os dados do CNPq estão armazenados em servidores próprios ou terceirizados.
Leia na íntegra: El País