Pesquisa ouviu 3.355 redes, que representam 60,2% do total de municípios do País; juntas respondem por mais de 13 milhões de estudantes da educação básica pública brasileira
Estudo da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), realizada entre os meses de junho e julho de 2021, mostra os avanços e desafios das redes municipais de ensino para a garantia da aprendizagem durante a pandemia da covid-19. A pesquisa buscou entender como foi a transição dos anos letivos 2020-2021 e quais foram as estratégias de ensino adotadas ao longo de 2021. O levantamento aborda como está sendo planejado o segundo semestre e quais os principais desafios das secretarias municipais de educação neste momento.
A pesquisa mostra que o suporte para diretores escolares e a busca ativa de estudantes têm sido as principais ações realizadas pelas redes municipais de educação na oferta do ensino durante a pandemia.
Cerca de 60% dos respondentes consideram a busca ativa de estudantes em abandono ou risco de abandono escolar uma das prioridades das redes municipais de educação. Para 71,8%, a procura pelos alunos e alunas que não têm acompanhado as atividades educacionais desde o início da pandemia tem sido realizada pela plataforma Busca Ativa Escolar. A estratégia desenvolvida pelo UNICEF e pela Undime, com o apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), tem o objetivo de apoiar os governos na identificação de crianças e adolescentes fora da escola, rematriculá-los e acompanhá-los para garantir a permanência do vínculo escolar.
De acordo com Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil, por meio da Busca Ativa Escolar, municípios e estados podem ter acesso a dados que possibilitam planejar, desenvolver e implementar políticas públicas que contribuam para a inclusão escolar e que promovam seus direitos de forma integral. “Com o fechamento prolongado das escolas, milhões de crianças e adolescentes ficaram sem acesso à educação, em especial os mais vulneráveis. Corremos o risco de retroceder 20 anos no acesso à educação no Brasil. É fundamental priorizar ações de busca ativa e ir atrás de cada menina e menino que não se manteve aprendendo na pandemia, ou já estava excluído antes dela”, destaca Ítalo.
Apoio a professores e gestores
Outras iniciativas também utilizadas foram a realização de avaliações diagnósticas, formações para professores e orientações quanto ao relacionamento com as famílias. A pesquisa buscou entender como foi a transição dos anos letivos 2020-2021 e quais foram as estratégias de ensino adotadas ao longo de 2021.
De acordo com Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, o número de estratégias utilizadas pelas secretarias de educação dos municípios leva em consideração os mais diversos contextos e demandas das redes. Para Patrícia, é um ponto positivo a constatação de que a oferta de suporte aos diretores escolares aparece como prioridade nesse momento para as redes. “Para recuperarmos as perdas acumuladas neste período de pandemia e seguirmos de forma consistente nos próximos anos, é fundamental que as secretarias se concentrem cada vez mais em apoiar quem está à frente do trabalho da equipe escolar: o diretor. A qualidade da liderança escolar – e do apoio dado a ela – fará toda adiferença na retomada. Os gestores escolares precisam de recursos e apoio técnico para que consigam realizar um diagnóstico e planejamento adequados; acolher equipes, famílias e estudantes; assim como oferecer o devido acompanhamento aos professores nas atividades cotidianas de ensino e aprendizagem, que serão muito desafiadoras. Para que o país consiga construir uma estratégia nacional, com uma visão de longo prazo, é necessária uma articulação entre governos municipais, estaduais e federal que de fato se volte ao que as equipes escolares e estudantes precisam.”
Principais desafios
Todas as redes municipais de educação informaram que o ano letivo de 2020 já foi concluído e o de 2021 iniciado. Além disso, 55,9% declararam que não estão seguindo o calendário da rede estadual de educação de 2021.
A conectividade de estudantes e professores, bem como a infraestrutura das escolas continuam sendo consideradas as maiores dificuldades enfrentadas pelas redes durante a pandemia. Isso fica constatado pelo uso de materiais impressos e orientações por WhatsApp, para 98,2% e 97,5%, respectivamente. Porém é possível notar a expansão de outras ferramentas de ensino: 70% disseram utilizar aulas gravadas e aplicativos de educação para os estudantes. Na pesquisa anterior, realizada entre os meses de janeiro e fevereiro de 2021, este índice chegava a 61%.
Para o presidente da Undime, Luiz Miguel Martins Garcia, Dirigente Municipal de Educação de Sud Mennucci/ SP, esta fase da pesquisa mostra que as ações das secretarias estão voltadas para a preocupação com a integridade e a saúde de professores e estudantes, como também com a aprendizagem. “Neste momento, percebemos que as redes estão trabalhando o acolhimento, formação de professores, compartilhamento de boas práticas para apoio aos estudantes com dificuldades. Novamente vimos que a imensa maioria das redes relataram dificuldades de acesso à internet e organizam suas atividades como podem, dentro das possibilidades de cada local”, explica.
Reabertura segura das escolas
Das 3.355 respondentes, 84% iniciaram o ano letivo de 2021 com atividades totalmente não presenciais; 15,1% com educação híbrida e apenas 1,1% declarou estar com aulas presenciais. Pouco mais da metade das redes (57%) concluíram seus protocolos sanitários para a prevenção da covid-19. “É urgente que as escolas tenham seus protocolos de prevenção da covid-19 implementados e possam retomar as atividades presenciais de forma segura em agosto, quando começa o novo semestre letivo. Para isso, é imprescindível que os governos federal, estaduais e municipais trabalhem de forma articulada, priorizando os recursos necessários para a rebertura”, defende Ítalo Dutra, do UNICEF.
Quanto à imunização dos profissionais da educação, o processo já começou em 95,1% das redes municipais entrevistadas. A inserção de profissionais da educação no Plano Nacional de Imunização foi uma reivindicação da Undime que solicitou formalmente ao Ministério da Educação que fosse articulada junto ao Ministério da Saúde a garantia da vacinação de todos os profissionais da comunidade escolar, incluindo os trabalhadores da educação, no grupo prioritário.
Luiz Miguel reforça que além da vacinação é necessário que todas as redes municipais de educação avaliem, conforme o protocolo sanitário local, a possibilidade e a viabilidade da oferta de atividades de maneira presencial ou híbrida. “A Undime reitera o seu posicionamento para que cada rede municipal de educação possa decidir a melhor data, considerando a saúde, a segurança da comunidade escolar e a aprendizagem”.
Sobre a pesquisa
Essa é a quinta fase da pesquisa, que teve a sua primeira edição no início da pandemia, em abril de 2020, para entender como as redes municipais de educação à época estavam se organizando com as atividades educacionais. No estudo atual, as respostas foram coletadas entre os dias 15 de junho a 9 de julho de 2021 e teve a participação de 3.355 redes, que representam 60,2% do total de municípios do país, e juntas respondem por mais de 13 milhões de estudantes da educação básica pública brasileira. Mais de 80% das respostas foram dadas pelos titulares da pasta da educação de municípios com até 50 mil habitantes.
::: O relatório completo da pesquisa está disponível no site da Undime.
Fonte: Undime