Na região central da Via Láctea, a mais de 25 mil anos-luz daqui, o “quase desaparecimento” momentâneo de uma estrela gigante intriga os cientistas. Em 2012, a VVV-WIT-08, como foi nomeada, foi encoberta por cerca de 200 dias por um objeto enorme e misterioso, capaz de ocultar 97% do brilho de um corpo celeste aproximadamente cem vezes maior do que o Sol. A descoberta foi descrita em artigo publicado em junho na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e contou com a participação de dois brasileiros em meio ao grupo internacional de astrônomos: o professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Roberto Kalbusch Saito e o pesquisador do Laboratório Nacional de Astrofísica Luciano Fraga.
É comum que estrelas apresentem oscilações em seu brilho – seja por características intrínsecas a elas, como é o caso das variáveis pulsantes que se expandem e contraem periodicamente; seja por causa de objetos que passam entre a estrela e o observador, causando um efeito de eclipse. O que aconteceu com a VVV-WIT-08, contudo, nunca foi observado antes (apesar de haver casos com algumas similaridades). Até o momento, ao menos, ela é uma estrela única.
“É uma estrela que, a princípio, tu olhas a curva de luz dela, que é a variação de brilho ao longo do tempo, e é sempre constante, a estrela não varia. A não ser em um evento em 2012 quando ela quase desapareceu. Ela perdeu 97% do brilho e depois voltou ao brilho normal de novo. E desde então, até hoje, com todo o acompanhamento que a gente fez dela, ela segue sem nenhuma mudança de brilho, e isso não é esperado para uma estrela. Então, o comportamento diferenciado é que ela teve um único evento, em mais de uma década de observação, em que ela perde uma quantidade de brilho muito grande, quase 100%”, explica Roberto.
“Por isso despertou tanta atenção da comunidade astronômica, porque é algo que a gente não tinha observado ainda em uma estrela, que é um objeto que a gente sabe que vai ter perda de luz, sabe que acontecem tanto fenômenos intrínsecos quanto de eclipse nos quais a estrela apresenta esse período de baixa luminosidade, mas não em um grau tão grande e do jeito que foi a característica do evento, de ser um evento somente ao longo de tantos anos”, complementa o professor.
A explicação mais provável é a passagem de uma estrutura bastante opaca e de grandes dimensões. Uma densa nuvem de gás e poeira ou um enorme planeta em órbita são algumas das possibilidades. Vale ressaltar que o tempo de órbita de planetas ou outros objetos varia bastante. Saturno, por exemplo, leva quase 30 anos para dar cada volta em torno do Sol. Já no sistema Epsilon Aurigae, uma estrela supergigante é parcialmente eclipsada por um disco de poeira a cada 27 anos, mas seu brilho só diminui cerca de 50%. O TYC 2505-672-1, por sua vez, detém o recorde atual de sistema estelar binário eclipsante com o período de órbita mais longo ⎼ 69 anos.
“Para esse nosso objeto, como a gente tem uma cobertura temporal de pouco mais de uma década, se eu tiver um objeto orbitando a estrela com um período maior do que esse, eu poderia, sim, no futuro, observar outro episódio semelhante. Por isso é importante seguir monitorando esse objeto, para ver se nos próximos anos observamos outro episódio como esse de eclipse, no caso de ser um eclipse”, comenta Roberto.
Fonte: Notícias UFSC