Com a aprovação da proposta do deputado bolsonarista Jessé de Faria Lopes (PSL) de uma Moção de Repúdio contra o Colégio de Aplicação (CA/UFSC) por não estar oferecendo aulas presenciais, vários deputados da ALESC agridem o bom nome da UFSC e a verdade dos fatos. Um triste e lamentável episódio.
O deputado proponente tem atacado repetidamente a UFSC, seus profissionais e, em particular, o CA – inclusive já tendo invadido suas dependências. No ano passado, Jessé de Faria Lopes já havia atacado a universidade e seus servidores, acusando os professores de receberem salários sem trabalhar.
Os argumentos usados pelos parlamentares para defender o retorno das aulas presenciais no Colégio de Aplicação não diferem da defesa pública que eles vêm fazendo em favor da exposição das pessoas ao vírus. É a mesma tese defendida pelos negacionistas da vacina, que são contra o distanciamento social e a favor do tratamento precoce. A argumentação segue uma lógica macabra. Esses deputados afirmam que os profissionais do CA não querem o retorno porque têm seus salários garantidos enquanto outros trabalhadores estão nas ruas. Por trás dessa afirmação, está a narrativa de quem trata a pandemia como uma “gripezinha”, de que alguns vão morrer mesmo e não há o que fazer, de que a economia não pode parar. Não é privilégio ter condições de manter-se com renda, trabalhando remotamente. Todos os trabalhadores deveriam ter esse direito garantido por um auxílio emergencial digno, como política de Estado em casos de emergência.
A cautela adotada pelas universidades para evitar a aglomeração de alunos e profissionais da educação desequipados em um ambiente escolar sanitariamente frágil é um cuidado para salvar a vida das pessoas. É isso que distingue uma instituição da ciência daquelas que se amparam no senso comum em tempos de pandemia.
Alguns deputados catarinenses afirmaram que a falta de recursos orçamentários é usada por nós como desculpa para não trabalhar. Mentem ao dizer que não há falta de verba, apresentando cálculos que juntam orçamento de pessoal com verbas de custeio (manutenção). Escondem o corte de 18% no orçamento da UFSC, os cortes de 31% nas verbas de assistência estudantil. Ignoram que esse é o pior orçamento desde 2010. O fato é que jamais ouvimos desses mesmos deputados uma voz contra a redução de recursos ou a defesa por mais verbas para a Ciência e para a UFSC. Ao contrário, atacam, mentem e tentam jogar a população contra a instituição, talvez na busca de votos e por serem contra os serviços públicos.
Sabemos que há prejuízo ao aprendizado dos alunos por estarem há muito tempo no ensino remoto e isso nos preocupa. Mas colocar a vida dos estudantes, de suas famílias e dos profissionais da educação em risco nos preocupa mais. O ensino presencial ainda não é possível por falta de vacina e de orientações claras das medidas protetivas (uso de máscaras e distanciamento social) por parte justamente do governo que esses deputados defendem.
Em alguns países, não em todos como disseram os deputados, as crianças e os mais jovens estão voltando ao ensino presencial, como defendido pela UNESCO e pela OMS. Faltou dizer, no entanto, que nesses países as medidas protetivas, como vacinas e isolamento social, foram rigorosamente aplicadas e defendidas. Portanto, a descontextualização serve apenas para confundir e difamar.
O retorno dos alunos à sala de aula mesmo como professores tendo recebido uma dose da vacina não garante segurança às crianças (ambos podem ser transmissores do vírus). Muitos dependem de transporte público para chegar à escola e são acompanhados de adultos, aumentando a disseminação do vírus.
Portanto, a Moção de Repúdio tem forte motivo político ideológico. Sua aprovação presta um desserviço ao povo catarinense, macula a imagem e história da UFSC e do reconhecido prestígio do Colégio de Aplicação, bem como ofusca o papel e a imagem construtiva da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina.
Como sindicato, a Apufsc-Sindical contesta e repudia essa Moção. Esperamos que a Administração Central se posicione publicamente e que, como nós, solicite à ALESC a revogação da Moção, com a devida retratação à UFSC.
Diretoria Apufsc
::: Confira a reportagem: Profissionais do Aplicação alertam para falta de recursos e riscos à saúde da comunidade escolar