Por Nestor Roqueiro
Estamos no meio de uma pandemia que deve continuar pelo menos por meio ano, senão mais. Isto já seria suficientemente ruim pelas mortes de seres humanos, pela fria realidade das relações virtuais, pela deterioração da sanidade física e mental, e pelas sequelas que a COVID-19 impõem a muitos cidadãos.
Claro que muitos devem estar pensando que a eles nada aconteceu. E a empatia? Parece que não é um valor a ser cultivado. Poderia parar por cá mas as consequências vão além. Sem empatia, o coletivo deixa de ser relevante, só o individual tem vez e a energia é direcionada ao sucesso pessoal. E, embora o coletivo sociedade para alguns simplesmente não exista, o estado moderno é a melhor representação deste coletivo.
Decorrente da negação do coletivo surge a afirmação de que o sucesso pessoal somente depende do próprio indivíduo. Se esta fosse a única consequência poderia parar por cá. Porém se este tipo de atitude se torna majoritária, seja por herança cultural, de cultura própria (Brasil colônia) ou importada (Brasil neo colônia) , seja por incentivo ao individualismo através da exaltação ao empreendedorismo (que de forma disfarçada promove o “vire-se como puder”), as consequências podem ser catastróficas, como estão sendo.
O coletivo estado é deixado nas mãos de “outros”. Só que esses “outros” sabem se aproveitar da falta de interesse de muitos cidadãos pela res pública para se beneficiar e fazer o próprio com os seus parentes, amigos ou relações de interesse. Portanto, enquanto não colocarmos o interesse comum em uma posição de igualdade com o nosso interesse pessoal, ou seja, dedicarmos nossa energia, ação, dedicação, tempo… para colaborar com a solução de problemas da coletividade não haverá solução viável para “quase” ninguém (para 1% sempre há solução viável).
Finalmente chegamos à conclusão que se nos beneficiamos individualmente por pertencer ao coletivo sociedade organizada que denominamos estado, e nos beneficiamos muito bastando ver com honestidade tudo o que recebemos do SUS durante a pandemia por exemplo, o estado somos nós. Quando algo no estado não funciona não adianta procurar o problema no outro, nem lhe atribuir toda a responsabilidade. Precisamos nos responsabilizar por resolver, ou tentar ao menos aquilo que é da nossa alçada.
Nestor Roqueiro é professor do Departamento de Automação e Sistemas CTC/ UFSC.