Reportagem da Superinteressante destaca os cortes na área e por que eles põem em xeque o futuro do País
César Lattes andava pensando muito em dinheiro, talvez porque não conseguisse obter nenhum. O ano é 1949, e o físico indicado ao Nobel acaba de fundar, com seu colega José Leite Lopes, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), sediado até hoje no Rio. Por uns meses, quem pagou os salários e o aluguel de uma sede provisória foi o ministro das Relações Exteriores da época, João Alberto Lins de Barros. Não com verba do Ministério: com grana do próprio bolso. Até que João teve um infarto, saiu do cargo e a fonte secou.
Quem segurou a bronca foi um deputado amigo – um certo Paes Leme, famoso porque todo dia falava no rádio criticando o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Euvaldo Lodi toparia qualquer coisa para se livrar dessa pedra no sapato, então fez um acordo: eu paro de criticar você em rede nacional; em troca, você sustenta o Lattes e uns outros físicos para mim. Lodi topou. Lattes passava na CNI todo mês e pegava o cheque. Foi assim, por três anos, até 1951. Recibo, não tinha. Tudo na discrição. Só depois Lattes descobriu por quê: aquilo era verba desviada de combate ao comunismo, cujo objetivo original era investigar o CBPF – considerado um antro de simpatizantes dos soviéticos. Foi só depois, com o mandato de Getúlio Vargas, que começou a entrar dinheiro público limpo.
Ciência e tecnologia nunca foram queridinhas do orçamento brasileiro. Por volta de 1900, a pouca pesquisa feita aqui era possível graças a entusiastas, empresários filantropos (como as famílias Guinle e Matarazzo) e médicos curiosos. O interesse das autoridades em saneamento, vacinas e doenças tropicais, nessa época, permitiu criar o que hoje são a Fiocruz e o Instituto Butantan. Mas essas eram migalhas da verba de saúde. Estima-se que o Brasil tenha chegado ao ano de 1950 com apenas cem pesquisadores de profissão. (2)
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