Opinião de Luís Antônio Boudens, agente especial de Polícia Federal e presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), ao Correio Brasiliense
Não é responsabilidade do servidor público brasileiro a má situação econômica do Brasil. Não será a quarta granada colocada nos bolsos desses trabalhadores a solução para a crise, o desemprego, o desamparo. Quando uma autoridade que tem o dever de apresentar um plano de ação – qualquer plano de ação –, para fazer o país avançar, dedica sua energia e esforços a agredir uma categoria, algo de muito errado se desenha no cenário.
É fácil dizer que o Brasil é hoje um dos países que mais ‘gastam’ com o pagamento de salários e dizer que, na média, o trabalhador público ganha muito. No bolo total para calcular essa média, estão incluídos militares, juízes, membros do Ministério Público e parlamentares. Os mesmos que, estranhamente, não serão afetados pela reforma proposta pelo ministro da Economia.
O ônus e o sacrifício ficam, portanto, para quem esteve na linha de frente do combate à pandemia desde o início – aí incluídos professores, profissionais de saúde e da segurança pública – que seguiram trabalhando mesmo com risco de suas próprias vidas. Vale lembrar que médicos, enfermeiros, professores e policiais estão entre as categorias profissionais com maiores índices de contaminação pela covid-19 entre os servidores.
A reforma administrativa proposta pelo governo não traça qualquer cenário sobre os problemas do serviço público. Não há diagnóstico. Há ataques. O ministro da Economia, Paulo Guedes, se dedica diuturnamente a encontrar adjetivos jocosos para (des)qualificar o servidor público. Simultaneamente, apresenta ao Congresso, para debate, uma proposta de Emenda Constitucional, a PEC 32/20 com problemas tão sérios em sua concepção que tem dificuldade de avançar.
O relatório apresentado pelo deputado Darci De Matos (PSD-SC) à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados sugere a exclusão de dois pontos, por inconstitucionalidade. Um deles define que o presidente da República poderá criar e extinguir autarquias e fundações. O outro diz que servidores de carreiras típicas de Estado não poderão exercer qualquer outra atividade remunerada.
Mas não há uma observação sobre questões muito sérias: por exemplo, a PEC 32 criará situações insustentáveis dentro do serviço público. É só imaginar uma repartição pública onde parte dos servidores terá direito a garantias como a estabilidade e outra, não. Ou uma corporação onde “trainees” terão acesso a informações que deveriam ser protegidas pelo sigilo, mas que poderão ser tranquilamente compartilhadas caso o funcionário deixe de fazer parte do quadro.
A reforma administrativa parece vital para o futuro profissional do ministro da Economia. A vocação reformista de Paulo Guedes desconsidera o papel dos servidores públicos para o Brasil. Ele confunde servidor com militante, quando é justamente o contrário: sem concurso, a máquina pública ficaria à mercê do aparelhamento de qualquer governo, e o interesse público seria substituído pelo interesse do governante da vez.
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