Pesquisadoras de diversas universidades do país, incluindo da UFSC, pretendem tratar de políticas públicas e dos impactos da covid-19 para as brasileiras
A participação das mulheres na força de trabalho remunerada caiu, em 2020, para 46,3%, a menor em 30 anos. Por outro lado, de acordo com o IBGE, em 2019, antes mesmo da pandemia, elas já acumulavam pelo menos 8 horas a mais de serviços domésticos por semana, na comparação com os homens. O contexto de isolamento social só aumentou essa sobrecarga sobre os ombros femininos, como alertou a própria ONU. Somando-se a isso, outros dados indicam que grávidas e puérperas endossam as mortes por covid-19 e que o isolamento dobrou os índices de violência doméstica. Portanto, “a vulnerabilidade tem rosto de mulher“.
É o que alerta a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas. Composta por pesquisadoras de universidades de todo o país, inclusive da UFSC, a rede tem o objetivo de pautar a importância de políticas públicas voltadas às demandas e urgências das mulheres, especialmente as de baixa renda, no contexto da pandemia. “A pandemia atingiu todo mundo, mas as mulheres tendem a absorver mais tarefas de cuidado, a ficarem mais sobrecarregadas e isso é ainda pior para aquelas em situação de vulnerabilidade”, lembra a professora Eleanora d’Orsi, do Departamento de Saúde Pública da UFSC e integrante da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.
“As mulheres são as responsáveis pelas tarefas domésticas e de cuidado, mas precisam trabalhar ou, ainda, tiveram que abandonar seus empregos para cuidar de crianças que estão sem aulas, dos idosos que ficaram doentes. Não há nenhum suporte governamental para essas mulheres e suas necessidades específicas”, complementa a Professora da UFABC e integrante do Comitê executivo da Rede, Vanessa Elias de Oliveira.
Como explica Vanessa, a Rede surgiu do incômodo com a situação de extrema fragilidade em que as mulheres mais vulneráveis se encontram no contexto da pandemia no Brasil, considerando ainda os impactos da gestão desastrosa da crise pelo governo federal. A iniciativa tem como intuito articular o conhecimento já produzido pelas mulheres cientistas de todo o Brasil, das mais diversas áreas do conhecimento, para pautar a importância de políticas públicas voltadas às demandas e urgências das mulheres, principalmente as de baixa renda. São seis os eixos de atuação principal: saúde, violência, educação, assistência social e segurança alimentar, trabalho e emprego, moradia e mobilidade.
“A rede tem sido uma voz importante também no enfrentamento da pandemia. E tem produzido notas técnicas baseadas na ciência que objetivam construir questionamentos e propor caminhos que possam contribuir na elaboração de políticas públicas”, comenta a professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Alexandra Crispim Boing, que também faz parte da Rede Brasileira de Cientistas. Alexandra integrou, inclusive, a equipe que escreveu nota técnica n.06 que alerta para o tratamento precoce do governo federal e a ausência de evidências científicas.
“Vamos produzir relatórios, propostas de políticas públicas e protocolos que auxiliem os gestores a atuar para atender as necessidades, carências e demandas das mulheres. Esses produtos são pensados e produzidos coletivamente, pelas integrantes da Rede”, informa a professora Vanessa. “Muitas coisas poderão surgir a partir da colaboração que a Rede pode proporcionar ao agregar pesquisadoras que não necessariamente se conheciam ou dialogavam antes”, relata.
Para Eleanora, trata-se de um esforço para que as pesquisadoras olhem especialmente para as mulheres que mais precisam. “A rede potencializa que mulheres cientistas olhem para os problemas que atingem as mulheres no país e se questionem sobre como podem contribuir para que as necessidades fiquem mais visíveis e possam ser atendidas”.
Mais de 3 mil pesquisadoras de todo o país já integram o grupo que pretende priorizar as mulheres em situação de vulnerabilidade e tratar de questões relacionadas à pandemia, sem deixar de olhar também para outras questões, como as dificuldades que afetam as próprias mulheres no campo científico. “Nossas ações estão sendo estruturadas a partir dos diálogos entre saberes e mulheres que estão se conhecendo e conectando. Aos poucos, novas ações vão surgindo”, afirma Vanessa, destacando a importância do espírito de cooperação e parceria, especialmente neste momento de tantos desafios.
Na UFSC, além das professoras Alexandra Crispim Boing e Eleonora d`Orsi, fazem parte da Rede as professoras Josimari Telino Lacerda, do departamento de Saúde Pública e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Miriam Grossi e Antonella Tassanari, do Departamento de Antropologia, Cristine Jost, do Departamento de Química, entre outras pesquisadoras.
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