Questionário online foi respondido por 1.624 estudantes de graduação e pós-graduação no segundo semestre de 2020
O sofrimento psíquico de acadêmicos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é tema de uma pesquisa do Núcleo de Estudos em Sociologia, Filosofia e História das Ciências da Saúde (NESFHIS) da instituição. Coordenado pela professora Sandra Caponi, o estudo apresentou seus primeiros resultados, obtidos a partir de um questionário online respondido por 1.624 estudantes de graduação e pós-graduação no segundo semestre de 2020.
Entre as descobertas iniciais, destaca-se que mais de um quarto dos estudantes afirmou possuir algum diagnóstico psiquiátrico (26%) e quase um quinto assinalou que utiliza medicação psiquiátrica por prescrição médica (19,6%). Entretanto, muitos não sabem onde procurar ajuda ou conhecem os serviços de atendimento de apoio psicológico e pedagógico da universidade (a questão era de concordância, onde 1 significa que discorda totalmente e 5 quer dizer que concorda totalmente – a média entre os alunos foi 2,75).
A pesquisadora do NESFHIS Fabiola Stolf Brzozowski afirma que não é possível extrapolar os resultados para a comunidade de estudantes da UFSC, pois se tratou de uma amostragem por conveniência. “O questionário foi enviado por e-mail e quem teve interesse respondeu. A pesquisa atraiu pessoas predispostas a falarem sobre sofrimento psíquico, sofrimentos esses que vão além dos diagnósticos psiquiátricos. Estamos verificando isso com a segunda etapa da pesquisa, que está sendo realizada no momento, por meio de entrevistas semiestruturadas”, explica. Ela aponta que nessas entrevistas, “assim como apareceu também no questionário, fica claro que o sofrimento está muito relacionado com questões sociais e estruturais, que precisam ser discutidas dessa forma, não somente como uma questão psiquiátrica”.
A maioria dos acadêmicos que participaram da pesquisa se sente pressionada em seu curso (também uma questão de concordância e a média de respostas de 1 a 5 foi de 3,76) e, atualmente, estão se sentindo cansados, nervosos, tensos e preocupados (média de 4,17). Na pós-graduação, mais de 40% consideram excessivas as exigências de produção científica da sua área.
Um dado que chamou a atenção foi que mais de um terço dos respondentes (35,3%) assinalaram já terem se sentido discriminados dentro da universidade, principalmente por professores ou por colegas. Quase metade deles afirmaram já terem sofrido algum tipo de violência na UFSC (49,8%), com destaque para o machismo (17,1%) e para o assédio moral (10,2%).
Em relação à pandemia da Covid-19, quase todos os participantes (94,3%) relataram que essa situação impactou de algum modo sua saúde mental, com destaque para sentimentos de ansiedade, estresse e desânimo, sendo que muitos (51,5%) afirmaram terem alterado sua situação financeira após o início da pandemia.
A partir desses e de outros resultados revelados pela pesquisa, descreve nota do NESFHIS, “é possível ter um panorama geral e atual sobre a saúde mental dos estudantes da graduação e da pós-graduação, ao mesmo tempo que se constitui um valioso recurso para criar e recriar novas estratégias institucionais para atender e melhorar a saúde mental dos estudantes, promover espaços de humanização e experiência acadêmicas sadias e combater qualquer forma de discriminação e/ou violência que impeça o desenvolvimento pessoal e profissional do corpo discente da universidade”.
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