Embaixadoras do movimento Parent in Science na região Sul, professoras da UFSC comentam o avanço: ‘primeiro passo’
Desde o dia 15 de abril de 2021 é possível para as pesquisadoras brasileiras que forem mães registrarem no Currículo Lattes os períodos em que estiveram em licença-maternidade. A nova seção, que tem preenchimento opcional, é resultado de uma mobilização de cientistas brasileiras criada em Porto Alegre, com o Parent in Science. Em 2018, o movimento criou a campanha “Maternidade no Lattes”, em 2019, protocolou formalmente junto ao CNPq a solicitação da inclusão do campo “Licenças” na plataforma. No Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, 50% do total de pesquisadores cadastrados são mulheres. Nos últimos 15 anos, o percentual de mulheres aumentou 7 pontos.
O projeto Parent in Science, que luta por equidade para pesquisadores e pesquisadoras com filhos, considera que a chegada dos filhos pode causar impacto significativo na produção dos pesquisadores, especialmente das mulheres, com desaceleração na elaboração de artigos, afetar o currículo e gerar desvantagem em relação a colegas. Com a possibilidade de sinalizar o período da licença nessa nova versão do Currículo Lattes, recrutadores, universidades e agências de fomento à pesquisa poderão compreender o porquê da queda em sua produção.
A professora do Departamento de Química da UFSC, Embaixadora do Parent in Science na Região Sul e mãe de uma criança de 9 anos, Juliana Paula da Silva, relembra que a inserção desse campo no Lattes ajudará explicar as lacunas existentes no currículo das mães, principalmente no que diz respeito a publicação de artigos científicos – uma das principais métricas de produtividade utilizadas pelas agências de fomento. “Alguns editais de fomento à pesquisa já consideram a licença maternidade, porém acreditamos que a presença dessa informação no Lattes pode incentivar ainda mais essa prática por parte das agências de fomento e instituições de ensino e pesquisa”, aponta a professora.
“O maior desafio relacionado a essa conquista é fazer com que essa não seja ‘apenas mais uma linha no Lattes, mas sim uma informação relevante para incentivar mudanças no modo de avaliação do currículo de mães cientistas, visando a uma maior inserção, permanência e progressão das mulheres na ciência”.
Juliana Paula da Silva
Conforme relata Juliana, que é mãe desde dezembro de 2011, os dois anos seguintes à licença foram os de menor produtividade em sua carreira. Até antes da inclusão do campo no Lattes, esse período poderia ser considerado uma lacuna no currículo da pesquisadora mas, agora, com a informação da licença, passa a ter uma justificativa.
A professora do Departamento de Oceanografia da UFSC, e também embaixadora do Parent in Science na região Sul, Juliana Leonel, complementa que a alteração representa um primeiro passo para reconhecer o impacto da maternidade na vida das mulheres. “Os desafios para as mães ainda são muitos. A diminuição na produtividade das mulheres não ocorre apenas nos meses referentes à licença maternidade, mas sim até os primeiros anos da chegada dos flhos”, explica a professora. Isso ocorre, segundo a pesquisa realizada pelo Parent in Science, porque além das atividades de cuidados dos filhos,muitas mulheres não podem ir para trabalhos de campo, conferências ou mesmo frequentar os laboratórios – por fatores ligados à segurança, financeiros, ou de não contar com rede de apoio, por exemplo. “Isso tudo contribui para a queda na produtividade e precisa ser levado em conta nas avaliações curriculares”, ressalta a professora.
Como exemplo de que a inclusão da maternidade está apenas dando os primeiros passos, Juliana cita o edital das Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), distribuídas recentemente na UFSC, com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O edital não leva em consideração os anos de maternidade das pesquisadoras. O mesmo ocorre nos editais da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), como relata a professora. “Esperamos que essa mudança no Lattes chame a atenção da Propesq da nossa Instituição e que vejamos mudanças em breve, bem como esperamos mudanças nos processos seletivos de pós-graduação e de credenciamento de professores nos programas de pós-graduação”, conclui Juliana Leonel.
Imprensa Apufsc, com informações de Agência Brasil.