Carmen Rosa Caldas-Coulthard dialogou durante 4 meses com pessoas trans e não binárias para compor o material de orientações
A comunicação e suas múltiplas expressões atravessam todas as etapas da vida e, com o passar do tempo, conhecemos os significados sócio-históricos que existem por trás de cada som, imagem, palavra e demais elementos da linguagem. É por meio da linguagem que se evidenciam nossos posicionamentos em todas as esferas sociais, mas dificilmente refletimos sobre o quanto nossas expressões linguísticas perpetuam mensagens nem sempre positivas. Afinal, muitas falas machistas, racistas e sexistas são reproduzidas com naturalidade no cotidiano. O fato é que essas expressões precisam de revisão, pois comprometem a vida de grupos minoritários (mulheres, negros/as e pessoas LGBT+), historicamente oprimidos e silenciados.
Como uma das estratégias de promoção da inserção social e de combate à linguagem exclusora, a professora aposentada do Programa de Pós-Graduação em Inglês da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Carmen Rosa Caldas-Coulthard, em parceria com a escola de idiomas Babel e o projeto social TransEmpregos, desenvolveu o manual Orientações para a inclusão linguística de pessoas trans, cujo propósito é conscientizar as empresas sobre a importância da linguagem na contratação e convivência com profissionais trans e não binários.
Carmen, que trabalha há décadas com questões relacionadas à exclusão e à discriminação linguística, dialogou com pessoas trans e não binárias ao longo de quatro meses, para juntas revisarem conceitos gramaticais e expressões linguísticas que compõem o material de orientações: “A consciência linguística é uma forma de resistência e empoderamento para todas as pessoas, inclusive travestis, pessoas transexuais e não binárias. A mudança de práticas linguísticas pode resultar em inclusão e respeito. Nesse sentido, as ‘orientações’ são uma tentativa de mudança”, pontuou.
Outro objetivo do trabalho é a contextualização da importância dos discursos no tratamento das diversas identidades. As orientações práticas do manual norteiam departamentos de recursos humanos a evitar vícios de linguagem e estimular formulações mais adequadas na fala e na escrita da Língua Portuguesa: “O ativismo linguístico chegou para ficar e o Movimento Trans propõe mudanças na linguagem para que as pessoas sejam incluídas de acordo com suas identidades de gênero”, finalizou Carmen.
A gramática e linguagem são questionadas por estudiosas feministas da comunicação desde a década de 70. Os estudos de ‘linguagem e gênero’ mostram que sexo e raça são categorias de relações sociais onde a dominação é justificada pela diferença. Na UFSC, as questões de Linguagem e Gênero são tratadas há muito tempo nos cursos de Pós-Graduação do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (DLLE) e em trabalhos do Instituto de Estudos de Gênero (IEG).
O manual pode ser acessado na íntegra aqui.
Fonte: Notícias UFSC