“Nós, acadêmicos de todo o mundo, nos solidarizamos diante dessa política destrutiva”, diz carta assinada por quase 200 acadêmicos e professores de diversos países
Em texto publicado no jornal Folha de S. Paulo nesta quinta, 15, a opinião de 198 acadêmicos e professores universitários de instituições ao redor do mundo é unânime quanto à má condução da crise sanitária no Brasil, dirigida pelo governo federal. “Se o coronavírus afeta todos os países do globo, a amplitude da catástrofe sanitária que acomete o país não pode ser dissociada da gestão desastrosa do presidente Jair Bolsonaro”, dizem os signatários. Quase metade dos autores da carta são vinculados à instituições francesas.
Leia um trecho da carta:
Terça-feira, 6 de abril de 2021: o Brasil registra 4.195 mortes pela Covid-19. Ao todo, Já são mais de 358 mil óbitos contabilizados desde o começo da pandemia. Se o coronavírus afeta todos os países do globo, a amplitude da catástrofe sanitária que acomete o país não pode ser dissociada da gestão desastrosa do presidente Jair Bolsonaro. O presidente deve ser responsabilizado pela condução da crise sanitária no Brasil, que não somente fez explodir o número de mortes como acentuou as desigualdades.
Em ao menos duas ocasiões o dirigente da República brasileira se referiu à Covid-19 como “gripezinha”, minimizando a gravidade da doença. Bolsonaro criticou as medidas preventivas, como o isolamento físico e o uso de máscaras, e por diversas vezes provocou aglomerações. Chegou a propagar o uso da cloroquina, embora cientistas alertassem para os efeitos tóxicos do uso do fármaco para combater a doença.
Pesquisadores que publicaram estudos que demonstravam que o uso do medicamento aumentava o risco de morte em pacientes com Covid-19 chegaram a ser ameaçados no Brasil. Bolsonaro desencorajou ainda a vacinação, chegando a sugerir, por exemplo, que as pessoas poderiam se transformar em “jacaré”. Em meio ao negacionismo, proliferação de falsas informações e ataques à ciência, em plena crise sanitária o presidente chegou a mudar quatro vezes de ministro da Saúde.
A ciência brasileira está sofrendo diversos ataques: cortes e mais cortes orçamentários que ameaçam pesquisas e colocam o trabalho de cientistas em xeque e instrumentalização da ciência com fins eleitoreiros, como bem mostram as declarações do presidente ao descredibilizar o trabalho de cientistas durante a crise sanitária. Esses ataques, no entanto, vão além do contexto da Covid-19. Basta lembrar as agressões cometidas por Bolsonaro ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em um contexto alarmante diante dos níveis de desmatamento da Amazônia.
Ao desmentir a ciência, Bolsonaro não somente fere a comunidade científica, mas toda a sociedade brasileira: são diários os recordes de mortes pela Covid-19. Dados da Fiocruz, por exemplo, indicam a circulação de 92 cepas do novo coronavírus no Brasil, o que torna o país uma gigantesca fábrica de variantes. Para além, temos ainda os impactos sobre o meio ambiente, os povos tradicionais da Amazônia e o clima global.
Confira na íntegra: Folha de S. Paulo