Pesquisadores temem impacto na avaliação de programas e possível viés ideológico na condução do órgão, que perdeu um terço do seu orçamento em 2021, aponta Jornal da USP
Mudanças inesperadas no comando da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação (MEC) deixaram lideranças acadêmicas e científicas apreensivas sobre o futuro da agência e do processo quadrienal de avaliação dos programas de pós-graduação (PPGs) das universidades, previsto para ser concluído neste ano, mas cujo calendário já está atrasado em função da pandemia.
O presidente da Capes, Benedito Guimarães Aguiar Neto, foi exonerado sem aviso prévio (e sem justificativa oficial) na segunda-feira, 12 de abril, pelo ministro Milton Ribeiro. A demissão surpreendeu a comunidade acadêmica. Ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ele estava no cargo há 14 meses.
Independentemente de quem vier a substituí-lo, uma troca do comando nesse contexto é preocupante, em função da falta de justificativa, dos cortes orçamentários e das dificuldades já impostas pela pandemia ao processo de avaliação dos PPGs, que é fundamental para a formação de recursos humanos e para a produção de ciência e tecnologia no País. “Já tínhamos problemas suficientes para trabalhar; e essa mudança, agora, pode atrapalhar ainda mais a avaliação”, diz o pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti Júnior. “Fico imaginando o que motivou o MEC a fazer uma mudança dessas num momento tão inoportuno.”
O prazo para que os PPGs enviem suas informações à Capes termina em 23 de abril. “Se houver uma modificação brusca nessa etapa do processo pode ser muito ruim; talvez até inviabilizar a avaliação”, afirma Carlotti. Ele torce para que pelo menos o chefe da Diretoria de Avaliação, o agrônomo Flávio Camargo, seja mantido no cargo, para evitar uma ruptura ainda maior. Camargo tomou posse há apenas seis meses e, antes dele, o cargo chegou a ficar vago por cinco meses, após o pedido de demissão da ex-diretora Sônia Báo, em abril de 2020.
Nessa avaliação, feita de quatro em quatro anos, todos os programas de pós-graduação do País (tanto de universidades públicas quanto privadas) recebem uma nota de 3 a 7, que representa o nível de excelência do programa. A análise é baseada numa série de critérios, como número de alunos formados e de trabalhos científicos publicados em revistas especializadas. O processo permite aferir e monitorar periodicamente a qualidade da pós-graduação brasileira como um todo, enquanto que as notas influenciam de forma decisiva a capacidade dos programas de atrair alunos, bolsas, parcerias e recursos financeiros para seus projetos.
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