Instituto, responsável pelo Enem, já teve quatro mudanças de comando no governo Bolsonaro, mostra Folha
Servidores do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) publicaram carta em que alertam sobre os riscos para a continuidade dos trabalhos do órgão diante de nomeações ideológicas e sucessivas trocas de comando.
Há pouco mais de um mês, o instituto está sob o comando de Danilo Dupas, o quarto escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para presidir o órgão. Seu sucessor, Alexandre Lopes, foi demitido do cargo em meio a realização do Enem por desentendimentos com o ministro Milton Ribeiro.
“O quadro de gestores do INEP é escolhido, direta ou indiretamente, pelo ministro da Educação, que acaba dando direcionamento e definindo prioridades diretamente influenciadas pelas escolhas de cada governo. Isso leva o instituto a mudar de rumos estratégicos e operacionais a cada troca de gestão”.
“Houve momentos em que se chegou ao extremo de serem realizadas mudanças em processos estritamente técnicos em decorrência de opinião ou posicionamento ideológico do gestor, sem a devida justificativa técnica e científica para os feitos”, diz a carta.
A publicação da carta, que já vinha sendo elaborada pelos servidores há alguns dias pela preocupação com a situação do Inep, ocorreu na sexta, 9, mesmo dia em que o diretor de tecnologia da informação, Camilo Mussi, foi exonerado do cargo. Nesta segunda, 12, também foi exonerado Alexandre Barbosa Brandão da Costa, que ocupava o cargo de diretor de Estudos Educacionais do instituto.
Na carta, os servidores dizem que três situações de maior gravidade têm dificultado o andamento das atribuições do instituto: sucessivas trocas de comando, estrutura de gestão fragilizada e perda permanente de profissionais qualificados do quadro de servidores efetivos. Procurados, MEC e Inep não responderam aos questionamentos.
Especialistas e servidores temem, desde o início do governo Bolsonaro, interferências no trabalho do instituto, sobretudo no Enem. O presidente em diversas ocasiões criticou o exame e chegou a dizer que, sob sua gestão, questões sobre alguns temas seriam barradas.
Em 2019, no primeiro ano da gestão Bolsonaro, o Inep criou uma comissão para censura ideológica de temas no banco de itens, que agrupa as questões usadas nos exames federais. A interferência ideológica tem causado apreensão entre os técnicos, alguns chegaram a deixar os cargos.
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