Coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz afirma que houve desgaste do método de isolamento junto à população e à classe política, mostra Valor
O Brasil atravessa a segunda onda da pandemia com médias móveis de óbitos diários na casa dos 2,7 mil, número duas vezes e meio maior que o verificado no auge primeira onda, em julho de 2020. O país não aprendeu a lidar com a crise sanitária. Para o pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Carlos Machado, a explicação está na presença de variantes mais infecciosas do vírus e, principalmente, na “desmoralização intencional” do lockdown por atores políticos.
O coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz afirma que as iniciativas de lockdown promovidas a partir do fim de março de 2020 foram mais eficientes. “Elas foram mais precoces, rígidas e difundidas pelo país, ao contrário do que vemos agora.” Em pouco mais de um ano, diz ele, houve um amadurecimento desse desgaste do método de isolamento junto à população e à classe política.
O pesquisador da Fiocruz – autarquia federal em interlocução ativa com o Ministério da Saúde devido à produção de vacinas – evita citar o nome do presidente Jair Bolsonaro, cujas declarações e investidas legais contra o isolamento são os motores do fenômeno. Os dois boletins semanais do grupo que ele lidera, no entanto, têm recomendado enfaticamente restrições mais duras à circulação de pessoas e apontado a falta de coerência e convergência entre os poderes.
“O lockdown foi intencionalmente desmoralizado. Os ataques contínuos ao método levaram a medidas mais frouxas, bloqueios parciais que entregam pouco resultado e acabam se arrastando. A população fica cansada e deixa de acreditar que essa é medida viável”, analisa. “Não é o lockdown em si o que prejudica a economia, é esse comportamento, que agrava e prolonga a pandemia”, diz.
Leia na íntegra: Valor Econômico