CNBB, OAB, SBPC e ABI entregaram documento de apoio ao coordenador do Fórum Nacional dos Governadores, organizações ambientais solicitaram prioridade à saúde associações médicas divulgaram carta cobrando vacinas
Entidades de diferentes áreas se manifestaram nesta segunda-feira, 15, para se posicionar contra o avanço da pandemia de covid-19 e defender estratégias que levem ao controle da disseminação do vírus no Brasil. Nesta manhã, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) entregaram um documento de apoio às medidas de isolamento sociais e aceleração da vacinação ao coordenador do Fórum Nacional dos Governadores, Wellington Dias (PT), titular do Piauí.
Com o título “O povo não pode pagar com a própria vida”, o documento, também assinado pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), cobra medidas do Ministério da Saúde, critica discursos negacionistas e pede que os jovens evitem aglomerações. A estratégia de combate à crise sanitária do presidente Jair Bolsonaro – que criticou políticas de isolamento social e defendeu remédios cuja ineficácia foi cientificamente comprovada – tem sido alvo de críticas no Brasil e no exterior. Nos últimos dias, ganharam força discussões sobre a substituição do general Eduardo Pazuello no comando do Ministério da Saúde.
“É hora de estancar a escalada da morte! A população brasileira necessita de vacina agora. O vírus não será dissipado com obscurantismos, discursos raivosos ou frases ofensivas. Basta de insensatez e irresponsabilidade. Além de vacina já e para todos, o Brasil precisa urgentemente que o Ministério da Saúde cumpra o seu papel, sendo indutor eficaz das políticas de saúde em nível nacional, garantindo acesso rápido aos medicamentos e testes validados pela ciência, a rastreabilidade permanente do vírus e um mínimo de serenidade ao povo”, diz o manifesto. No evento online, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB, lamentou as mais de 270 mil mortes no País e atribuiu a situação à “falta de coordenação e atitude lúcida de mandatários maiores da sociedade brasileira”.
Presidente da OAB, Felipe Santa Cruz falou do clima de exaustão coletiva que a população enfrenta e repudiou as manifestações contra as medidas de isolamento social. “Nós, entidades, governadores e prefeitos, estamos há um ano exaustos. Está é uma carta pela vida, pela paz, pela solidariedade, porque o povo brasileiro está exausto, está empobrecido, vive uma realidade cada vez mais aviltante. E tivemos ontem (domingo) pessoas nas ruas contra isolamento achando que, apenas odiar a doença é suficiente para superá-la.”
Luiz Davidovich, presidente da ABC, defendeu a valorização das evidências científicas e a união do País para vencer o novo coronavírus. “Nosso manifesto é humanitário, pela vida, pela razão e pela lucidez. A ciência está do lado da população brasileira e acompanha a situação daqueles que estão em maior vulnerabilidade. Este é o momento de pensar em um novo País, regido pela solidariedade e lucidez. Temos de unir o brasil nesse combate à covid e à insensatez.”
Após receber o documento,Wellington Dias falou sobre a gravidade da pandemia no Brasil e cobrou coordenação nacional para o combate à doença no País. “Estamos em meio a um colapso nacional na rede de saúde pública e privada do Brasil inteiro. O isolamento social, a ciência nos mostra que é o caminho, mas precisamos de mais vacinas e ter a coordenação central com apoio às medidas sociais para ter êxito nas medidas restritivas.”
Também nesta segunda, a Associação Médica Brasileira (AMB) e mais de 50 sociedades de especialidades, entre elas Infectologia, Cardiologia e Pediatria, divulgaram a “Carta dos Médicos do Brasil à Nação”, que convoca a população a colaborar para frear as infecções pelo vírus e cobra não só vacinas, mas prazos concretos para vacinação da população.
Outro manifesto divulgado nesta segunda foi a carta aberta assinada por mais de 250 organizações que atuam em defesa do ambiente, como Greenpeace Brasil, Observatório do Clima, WWF Brasil e Instituto Socioambiental, que solicita ao Congresso Nacional que concentre esforços no enfrentamento à pandemia, em vez de avançar em projetos de lei que terão impacto ambiental. O documento foi protocolado e será entregue aos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (Progressistas-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Desde sua publicação, em 12 de março, o documento foi amplamente divulgado em veículos da imprensa de todo o País e também recebeu endosso de mais de 60 entidades científicas (veja a lista ao final da matéria).
Leia abaixo o texto na íntegra:
O povo não pode pagar com a própria vida!
Nós, entidades signatárias do Pacto pela Vida e pelo Brasil, sob o peso da dor e com sentido de máxima urgência, voltamos a nos dirigir à sociedade brasileira, diante do agravamento da pandemia e das suas consequências. Nossa primeira palavra é de solidariedade às famílias que perderam seus entes queridos.
Não há tempo a perder, negacionismo mata. O vírus circula de norte a sul do Brasil, replicando cepas, afetando diferentes grupos etários, castigando os mais vulneráveis. Doentes morrem agonizando por falta de recursos hospitalares. O Sistema Único de Saúde – SUS continua salvando vidas. No entanto, os profissionais da saúde, após um ano na linha de frente, estão à beira da exaustão. A eles, nosso reconhecimento.
É hora de estancar a escalada da morte! A população brasileira necessita de vacina agora. O vírus não será dissipado com obscurantismos, discursos raivosos ou frases ofensivas. Basta de insensatez e irresponsabilidade. Além de vacina já e para todos, o Brasil precisa urgentemente que o Ministério da Saúde cumpra o seu papel, sendo indutor eficaz das políticas de saúde em nível nacional, garantindo acesso rápido aos medicamentos e testes validados pela ciência, a rastreabilidade permanente do vírus e um mínimo de serenidade ao povo.
A ineficiência do Governo Federal, primeiro responsável pela tragédia que vivemos, é notória. Governadores e prefeitos não podem assumir o papel de cúmplices no desprezo pela vida. Assim, apoiamos seus esforços para garantir o cumprimento do rol de medidas sanitárias de proteção, paralelamente à imunização rápida e consistente da população. Que governadores e prefeitos ajam com olhos não só voltados para os seus estados e municípios, mas para o país, através de um grande pacto. Somos um só Brasil.
Ao Congresso Nacional, instamos que dê máxima prioridade a matérias relacionadas ao enfrentamento da COVID-19, uma vez que preservar vidas é o que há de mais urgente. Nesse sentido, o auxílio emergencial digno, e pelo tempo que for necessário, será imprescindível para salvar vidas e dinamizar a economia. Ao Poder Judiciário, sob a liderança do Supremo Tribunal Federal, pedimos que zele pelos direitos da cidadania e pela harmonia entre os entes federativos. Que a imprensa atue livre e vigorosamente, de forma ética, cumprindo sua missão de transmitir informações confiáveis e com base científica, sobre o que se passa. Enfim, que a voz das instituições soe muito firme na defesa do povo brasileiro!
Fazemos ainda um apelo particular à juventude. O vírus está infectando e matando os mais jovens e saudáveis, valendo-se deles como vetores de transmissão. Que a juventude brasileira assuma o seu protagonismo histórico na defesa da vida e do país, desconstruindo o negacionismo que agencia a morte.
Sabemos que a travessia é desafiadora, a oportunidade de reconstrução da sociedade brasileira é única e a esperança é a luz que nos guiará rumo a um novo tempo.
Quarta-feira, 10 de março de 2021.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB
Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB
José Carlos Dias, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns
Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências – ABC
Paulo Jeronimo de Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa – ABI
Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC
Veja aqui o documento na íntegra.
Entidades que subscrevem a Manifestação da OAB, CNBB, SBPC, ABI, ABC e Comissão Arns:
Academia Pernambucana de Ciência (APC)
Associação Brasileira de Antropologia (ABA)
Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (ABECO)
Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF)
Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC Brasil)
Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM)
Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBenBio)
Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO)
Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED)
Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP)
Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias (ESOCITE.BR)
Associação Brasileira de Etnomusicologia (ABET)
Associação Brasileira de Limnologia (ABLimno)
Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN)
Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC)
Associação Brasileira de Mutagênese e Genômica Ambiental (MutaGen-Brasil)
Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC)
Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor)
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE)
Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO)
Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB)
Associação dos Geógrafos Brasileiros também (AGB)
Associação Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas (ANEPCP)
Associação Nacional de História (ANPUH)
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (ANPARQ)
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP)
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR)
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd)
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ANPEGE)
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR)
Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação (COMPÓS)
Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS)
Clube Brasileiro de Purinas (CBP)
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE)
Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SOCICOM)
Sociedade Astronômica Brasileira (SAB)
Sociedade Brasileira de Biofísica (SBBf)
Sociedade Brasileira de Biologia Celular (SBBC)
Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq)
Sociedade Brasileira de Computação (SBC)
Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (ECOECO)
Sociedade Brasileira de Ecotoxicologia (Ecotox Brasil)
Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM-Nacional)
Sociedade Brasileira de Eletromagnetismo (SBMAG)
Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB)
Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC)
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM)
Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE)
Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE)
Sociedade Brasileira de Física (SBF)
Sociedade Brasileira de Genética (SBG)
Sociedade Brasileira de Geologia (SBGeo)
Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC)
Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBMicro)
Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro)
Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNec)
Sociedade Brasileira de Ornitologia (SBO)
Sociedade Brasileira de Ótica e Fotônica (SBFoton)
Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz)
Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP)
Sociedade Brasileira de Química (SBQ)
Sociedade Brasileira de Telecomunicações (SBrT)
Sociedade Brasileira de Virologia (SBV)
Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ)
União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e da Cultura (Ulepicc-Brasil)
Leia na íntegra: Estadão e Jornal da Ciência