Fabrício Menegon, do Departamento de Saúde Pública da UFSC, diz que interrupção de atividades deveria durar pelo menos 14 dias
O governador Carlos Moisés da Silva (PSL) confirmou lockdown em Santa Catarina para os dois próximos fins de semana. A decisão foi tomada nesta quinta-feira (25), em reunião de emergência com o grupo gestor, como sinalizou matéria da NSC Total. O estado enfrenta o pior momento na pandemia, com uma taxa de ocupação das UTIs do SUS em 94,05% e um total de mortes por Covid que supera 7,1 mil.
Com a nova medida, os serviços não essenciais serão fechados em todo o Estado entre as 23h desta sexta-feira (26) e as 6h de segunda-feira, 1º de março. Isso vai se repetir no fim de semana dos dias 6 e 7 de março, incluindo o final da noite da sexta-feira e a madrugada da segunda. Nesta semana, também foi publicado um novo decreto, com restrições à circulação de pessoas e ao funcionamento de estabelecimentos.
Para o professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC Fabrício Menegon tanto o lockdown de fim de semana quanto as medidas do decreto do dia 24 não surtirão efeito. “São medidas de caráter figurativo, completamente inócuas do ponto de vista epidemiológico e que não estão à altura da gravidade da crise sanitária que está vivendo agora”, afirma.
O professor explica que para a interrupção de atividades não essenciais ser efetiva e impactar na curva de contágio e na redução da mortalidade por Covid, ela tem que durar no mínimo duas semanas e o ideal é que dure pelo menos 21 dias. “Qualquer medida que é tomada hoje só terá efeito prático daqui a 14 dias. O ideal é que a interrupção das atividades se prolongue por mais 7 dias para avaliar permanência do efeito”, detalha o professor. Por isso, fechar somente pelo fim de semana não promove, na avaliação do pesquisador, a contenção do avanço da doença. “Fechar dois dias por semana, ainda mais em dias que a circulação de pessoas já é mais fraca no comércio, como no domingo, é uma medida completamente absurda, paliativa, inócua, inexpressiva, fraca”.
O professor lembra que no último decreto, do dia 24, a Federação das Associações Empresariais (Facisc), que representa mais de 34 mil empresas catarinenses, disse, em nota, que “neste primeiro momento, as medidas tomadas pelo governo estadual atendem aos anseios da classe empresarial”. Para o professor, isso deixa claro os critérios que estão sendo utilizados para as medidas. “A ação denota o que governo de SC está buscando: um paliativo para agradar a classe econômica”, pontua.
O posicionamento do professor vai ao encontro do que outros pesquisadores da área de saúde pública da UFSC expuseram em matéria recente da APUFSC, em que afirmaram que o decreto estadual, divulgado no dia 24, é insuficiente para conter avanço da Covid-19 em SC.
Imprensa Apufsc