Modelo híbrido, que mescla aulas online e presenciais, será adotado inicialmente em ao menos seis estados, conforme apurou a Folha
Mesmo diante do avanço da pandemia de Covid-19 em todas as regiões brasileiras, governos de pelo menos dez estados preveem o retorno de aulas presenciais a partir do próximo mês com algum tipo de reforço e distanciamento entre os alunos. Outros seis estados, incluindo o Distrito Federal, só vão começar em março.
Desses que retomam as atividades já em fevereiro, cinco – São Paulo, Ceará, Paraná, Maranhão e Acre – devem adotar o modelo híbrido de ensino, que mescla aulas online e presenciais. O estado de Goiás foi o único que já iniciou o ano letivo de 2021. As aulas também no formato híbrido foram retomadas na segunda-feira, 25.
Em alguns estados, a exemplo do Amazonas, que vive um colapso do sistema de saúde, ainda há indefinição em relação à data de retorno nas escolas públicas.
Em São Paulo, o agravamento da pandemia levou o governador João Doria (PSDB) a adiar em uma semana, para 8 de fevereiro, o início das aulas presenciais na rede estadual. Professores e funcionários da educação, no entanto, devem comparecer presencialmente já na primeira semana do mês para atividades de formação sobre os protocolos sanitários.
O estado decidiu que não vai obrigar os alunos a irem para a escola durante as fases mais restritivas da pandemia, a laranja e a vermelha. Já o governo de Minas Gerais abriu consulta pública para construir o modelo pedagógico a ser seguido na rede estadual em 2021, que tem previsão de início do ano letivo em 4 de março.
As aulas presenciais estão suspensas em Minas desde 18 de março e houve uma tentativa de retomada do ensino presencial em outubro, mas ela foi barrada pela Justiça. Mesmo assim, desde então, as cidades localizadas na chamada onda verde do plano Minas Consciente puderam retomar as atividades nas escolas municipais.
No Rio de Janeiro, as aulas começam em 8 de fevereiro de maneira híbrida e, em 1º de março, presencialmente para os alunos que vivem em situação mais vulnerável e não têm acesso à internet. Esses estudantes vão receber material impresso e tutoria. Para evitar a aglomeração de professores e alunos no transporte público, a Secretaria de Educação definiu que as aulas presenciais serão dadas em um turno único com horário alternativo: das 10h às 15h.
As escolas do estado também vão funcionar sob um sistema de bandeiras que serão divulgadas toda sexta-feira. A classificação vai do verde, que permite 100% de ocupação do colégio na semana seguinte, até o roxo, com atividades apenas online.
Para o pesquisador da Fiocruz Jesem Orellana, a retomada das aulas na rede pública foi um dos fatores que contribuiu para o início da chamada segunda onda de contaminação da Covid-19 em Manaus, que começou a crescer entre agosto e setembro e atingiu o pico no dia 14 de janeiro, quando o sistema de saúde colapsou. “Tivemos um repique de mortalidade importante de 9 a 15 de agosto [de 2020], que foi um reflexo do retorno das aulas presenciais na rede pública”, diz o pesquisador, que é um crítico do retorno das aulas presenciais antes da vacinação.
Ele afirmou que houve um novo pico de 6 a 12 de setembro do ano passado, marcado pelo feriadão prolongado de 5 e 7 de setembro. No entanto, o maior deles, segundo Orellana, ocorreu dia 30 de setembro, influenciado pelo retorno das aulas presenciais da rede pública no ensino fundamental.
Já o epidemiologista e coordenador do estudo Epicovid-19, Pedro Hallal, ex-reitor da Ufpel (Universidade Federal de Pelotas), é favorável ao retorno às aulas em 2021, tanto no ensino básico como no superior. “Na epidemiologia, temos que avaliar se o risco é maior na escola ou não. No cenário atual, quando olhamos as ruas lotadas e aglomerações, as crianças estão mais protegidas passando pelo menos quatro horas no colégio, onde os protocolos serão seguidos”, diz Hallal.
Para ele, os “dois extremos” da discussão estão equivocados. “Existem os extremistas que acham que as aulas nunca tinham que ter parado, uma coisa meio negacionista, e existem aqueles que defendem a volta apenas quando tiver vacina para todo mundo. O debate deveria ser sobre como voltar, e não se deve voltar”, diz Hallal.
Em muitos lugares, devido à pandemia, os alunos precisaram se adaptar rapidamente a novos modelos de ensino. A comunidade da cidade catarinense Iporã do Oeste (a quase 500 km de Florianópolis) era atraída para dentro da escola estadual Padre Vendelino Seidel pelo Café Literário, um projeto da área de linguagens onde alunos interpretam clássicos da literatura brasileira.
“Cada sala de aula era transformada em um livro. Em uma das edições, os alunos chegaram a construir um carro para o cenário de um conto da escritora Lygia Fagundes Telles”, relembra a professora Simone Spiess, 42, que leciona português e literatura.
O projeto que chegou à sétima edição em meio à proliferação do coronavírus pelo mundo não foi cancelado. A dificuldade maior ficou por conta dos alunos da área rural e sem internet. A professora, que pertence ao grupo de risco da Covid-19, é a favor do retorno às aulas presenciais, já programado pelo governo de Santa Catarina para o dia 18 de fevereiro. Porém, para ela, o retorno deveria estar condicionado à vacinação.
Leia na íntegra: Folha de S. Paulo