Matéria da Folha de S. Paulo destaca que Milton Ribeiro aproveitou ida a Santos, onde acompanhou o Enem, para fazer um culto em sua igreja
Em um culto neste domingo, 24, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse não ter “vergonha de pregar o Evangelho” a qualquer momento e que, por defender o que a Bíblia diz, responde a um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal).
“A Bíblia diz que chegaria um momento em que as pessoas confundiriam o certo e o errado. O inquérito que eu enfrento no STF tem a ver com isso, com algo que Jesus não teve receio de dizer que não é o caminho certo”, disse o reverendo Milton, como é chamado pelos fiéis da Igreja Jardim de Oração, em Santos (SP).
“Meu coração está tranquilo porque não fui chamado no STF para responder por desvio de dinheiro ou corrupção, mas por que eu disse o que a Bíblia diz”, completou o pastor, dizendo que estava “apenas fazendo um desabafo” com sua igreja.
Ribeiro foi denunciado pela PGR (Procuradoria Geral da República) por eventual crime de homofobia. Em setembro, o pastor evangélico disse que a a homossexualidade não seria normal e atribuiu sua ocorrência a “famílias desajustadas”. As declarações foram proferidas em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
O ministro foi a Santos neste domingo, 24, para visitar uma escola que teve aplicação das provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e depois aproveitou para ministrar o culto na igreja onde é pastor-titular desde 1992.
Neste domingo, o Enem registrou a maior taxa de abstenção da história, com a ausência de mais de 55% dos candidatos. No início da tarde, o ministro também visitou uma escola na capital paulista e disse que o recorde de ausentes no exame era “compreensível” diante da situação da pandemia. Ainda assim, ele considerou a realização da prova como um “sucesso”.
Questionado sobre as medidas de segurança da prova ou dados sobre candidatos que foram barrados no 1º domingo de provas do Enem por conta da superlotação de salas, Ribeiro disse não ter as respostas, já que, segundo ele, a organização do exame não é de responsabilidade direta de seu ministério.
Ribeiro está há cinco meses à frente do MEC e diz que ainda está “entendendo o seu funcionamento”. Durante o culto, em um discurso para os seus fiéis, ele disse que seu papel como ministro é “mais espiritual do que político” porque o governo Jair Bolsonaro (sem partido) quer tirar o Brasil do “rumo do desastre”.
“Vivemos um tempo diferente por isso quero crer que até mesmo no inferno se levantam forças contra nós”, disse o ministro, que logo em seguida falou sobre o inquérito no STF.
Assim como o próprio Bolsonaro e outros ministros da equipe fizeram em outras ocasiões, Ribeiro questionou, em tom de desabafo, as motivações do Supremo para apurar sua conduta. Seu antecessor, o ex-ministro Abraham Weintraub chegou a chamar os ministros da corte de “vagabundos” e disse que deveriam ir para a cadeia.
Procurado na tarde desta segunda, 25, o ministro não comentou sobre as declarações feitas no culto. Interlocurores do governo têm demonstrado preocupação com a atuação de Ribeiro, que é visto como decorativo pela distância e o desconhecimento do trabalho do MEC.
Desde que assumiu o cargo, o ministro pastor tem privilegiado viagens, agendas com o presidente sem relação com a área e, até agora, pouco se envolveu nos temas da pasta. Nos quatro primeiros meses de gestão, ele se reuniu com 13 religiosos e, em outras ocasiões, também aproveitou viagens oficiais para ministrar culto.
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