Matéria do Url destaca que, enquanto 39% dos estudantes de escolas públicas não têm computador ou tablet em casa, esse índice é de apenas 9% nas escolas particulares, apontam dados da TIC Educação 2019
A pandemia do coronavírus deixou a educação brasileira marcada por incertezas ao longo de todo o ano de 2020. Com escolas fechadas por meses, a solução emergencial foi adotar o ensino remoto, que acabou escancarando as desigualdades e abismos sociais entre os alunos de todo o país. Mal resolvidos, esses problemas se transferem agora para a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Mais de 5 milhões de candidatos estão inscritos para o exame, considerado a principal porta de entrada para o ensino superior no país, mas muitos deles devem chegar ao dia da prova com pouco ou nenhum preparo devido a dificuldades no acesso à educação durante a pandemia.
Dados da TIC Educação 2019 apontam para o tamanho da desigualdade: enquanto 39% dos estudantes de escolas públicas não têm computador ou tablet em casa, esse índice é de apenas 9% nas escolas particulares. Sem acesso à internet de banda larga em casa, muitos jovens de baixa renda acabaram dependendo do aparelho celular – que, muitas vezes, era um só para toda a família – e de dados móveis para acompanhar as aulas online.
No sertão nordestino, professores tentaram contornar o distanciamento e gravaram vídeos para os alunos com dicas para o Enem. Sem Wi-Fi, os jovens dificilmente conseguiam baixar e assistir aos conteúdos. Adiadas para janeiro de 2021, as provas do Enem 2020 acabaram coincidindo com o que vem se consolidando como uma segunda onda da pandemia no país, impulsionada pelas aglomerações nas festas de fim de ano.
O sistema de saúde brasileiro dá sinais de esgotamento. No Amazonas, há falta de oxigênio para os pacientes de covid; no Rio de Janeiro, faltam leitos de UTI – na rede pública, a taxa de ocupação é de 99,8%. Os hospitais suportariam um eventual novo surto de covid pós-Enem? A preocupação, aqui, não é apenas com a condição de segurança das salas de aula para a aplicação do exame, mas também com o deslocamento dos candidatos.
Em cidades maiores, os participantes costumam fazer a prova em locais mais próximos de suas casas. Mas, em cidades pequenas e que não fazem a aplicação do Enem, a participação no exame envolve uma viagem para outro município – um desafio a mais em tempos de pandemia.
Questionamentos sobre a segurança sanitária do exame foram parar na Justiça, que decidiu manter as datas das provas, mas abriu margem para municípios em estado crítico da doença não aplicarem o Enem agora, cabendo ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) organizar a remarcação do exame.
Alegando dificuldades logísticas, no entanto, o instituto diz não ser possível garantir a reaplicação a todos os municípios. Em entrevista ao UOL, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, citou como exemplos desses empecilhos a existência de diferentes formatos de prova, como os cadernos ampliados para candidatos com deficiência visual, e que demandariam atenção especial para a impressão.
A reorganização de um exame do porte do Enem certamente é trabalhosa e traz transtornos. Mas, pesando na balança, o risco de aumentar o contágio pela covid em cidades por todo o país com a realização do exame parece mais significativo do que a corrida contra o tempo para a remarcação das datas e a impressão e distribuição de novas provas.
Com os candidatos à deriva, além disso, abre-se espaço para uma judicialização pós-Enem. Não é difícil imaginar um cenário de enxurrada de questionamentos sobre as condições de igualdade do exame para todos os candidatos, já que, de acordo com o Inep, é possível que algumas cidades fiquem de fora da prova. Assim, estudantes que se prepararam por meses ou anos para o exame podem acabar punidos pela pandemia.
Leia na íntegra: Uol Educação