Em entrevista ao Globo, Koumbou Boly Barry defende a adoção de medidas focadas em mitigar o impacto da pandemia nos mais vulneráveis e marginalizados
Relatora especial da ONU para Educação, Koumbou Boly Barry está atenta aos impactos da pandemia no ensino brasileiro. Segundo ela, as políticas de austeridade adotadas pelos governos desde 2016 contribuíram para agravar a desigualdade, intensificada com a Covid-19. Em entrevista ao GLOBO, Barry, ex-ministra da Educação de Burkina Faso, seu país de origem, aprofunda suas reflexões. Ela argumenta ainda que é fundamental discutir com a comunidade escolar o retorno seguro às aulas presencias.
A senhora tem analisado dados sobre o impacto da pandemia na educação brasileira. Qual o pior problema causado pela crise?
Dados brasileiros corroboram as conclusões do meu relatório sobre o impacto da Covid-19 ao direito à educação. Ele destaca que, para muitas crianças, o fechamento de escolas resultou em uma aceleração das desigualdades, em particular para as que vivem em moradias precárias ou inseguras, que vivenciam a exclusão digital, ou que nem mesmo têm acesso à eletricidade. Para muitos, o fechamento de escolas também se traduziu no fim do acesso a serviços sociais, incluindo alimentação escolar e serviços de apoio psicossocial.
Diante desse cenário, a que tipo de questão o poder público deve estar atento?
Ao envolvimento de atores privados na educação. Com a crise, a chegada maciça de atores privados por meio da tecnologia digital deve ser considerada um perigo para os sistemas educacionais e o direito à educação a longo prazo. O risco é a captura de recursos públicos limitados para a educação por entidades comerciais que buscam lucrar com a crise, a coleta de dados de alunos e professores ou a publicidade dirigida a crianças e jovens. As soluções de educação e aprendizagem devem ser desenvolvidas como um bem público Promover uma boa educação implica pensar seriamente no lugar e no conteúdo da educação digital, seu significado e eficiência e seu impacto na saúde e na educação das crianças. Pretendo apresentar um relatório sobre este assunto ao Conselho de Direitos Humanos no futuro.
Leia na íntegra: O Globo